As fusões e aquisições envolvendo empresas do ramo de insumos biológicos não param, no Brasuil e lá fora. A nova cartada foi dada pela suíça Andermatt Group, que comprou a canadense BioTepp para fortalecer as tecnologias no controle de pragas. Os valores da operação não foram revelados.

A estratégia da aquisição é agregar a expertise da empresa especializada no desenvolvimento e produção de soluções biológicas de controle de pragas aos valores da Andermatt, com forte atuação em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de biológicos.

“Quando olhamos para a BioTepp, queríamos uma empresa de P&D, como a gente, baseada em biocontrole, principalmente de vírus. A gente buscou uma empresa com valores alinhados ao nosso”, comenta o CEO da Andermatt Brasil, Carlos Gajardoni, em entrevista ao AgFeed.

A BioTepp é conhecida pelo produto Virosoft CP4, eficaz no combate à larva da traça da maçã e da traça oriental da fruta. Sem operações no Brasil, uma vez que as atividades se concentram nos Estados Unidos e no Canadá, o executivo conta que a proposta é trazer a empresa para o País.

“Imagina quantas soluções para a agricultura serão possíveis trazer ao Brasil? Vou ver o portfólio deles e avaliar o que podemos absorver. Mas é um processo longo, de pelo menos um ano e meio, dois anos”, pondera.

O movimento das companhias suíça e canadense mostra o apetite do mercado pelo ramo de biológicos, como mostrou um levantamento da assessoria Hand, divulgado com exclusividade pelo AgFeed em setembro de 2023.

À época, a pesquisa apontou que havia 85 empresas brasileiras de biológicos na fila da fusão e aquisição ou para receber investimentos. No ano passado, um dos exemplos foi a investida da belga Biobest, com a compra de 85% de participação na brasileira Biotrop.

Além dela, a Yara adquiriu a Agrobios, empresa italiana de fertilizantes biológicos. E em fevereiro deste ano, a paranaense Nitro 1000 foi comprada pela empresa israelense ICL, por R$ 150 milhões.

“(O setor de) biológicos virou moda nos últimos quatro, cinco anos, rompendo os paradigmas de produtividade. Então, o pool de players está muito grande. Acho que muita gente vai sair. Mas a nossa aquisição não está nesse movimento. A Andermatt está no mercado há 40 anos”, pondera o executivo.

Faturar sete vezes mais em cinco anos

O Brasil é um dos quase 70 países onde a produtora e fornecedora de insumos biológicos atua. Por aqui há dez anos, com sede nacional em Londrina (PR), a Andermatt tem planos audaciosos para crescer ainda mais no país. Em 2023, o faturamento foi de R$ 40 milhões e a projeção é dobrar a cifra este ano.

“Esse processo de crescimento começou há mais ou menos dois anos e meio. Temos um target de R$ 80 milhões para este ano”, destaca o CEO. Engenheiro agrônomo com passagens por Syngenta e AgroGalaxy, Gajardoni colhe os frutos dos dois anos no comando da empresa e quer mais. Os planos da Andermatt Brasil é faturar R$ 120 milhões em 2025 e chegar a R$ 300 milhões em 2028.

No mundo, a empresa do ramo de insumos biológicos tem dez fábricas. Enquanto no Brasil, há apenas uma, em Joinville (SC), onde é produzido o Dynbac, fertilizante usado em diferentes culturas e que deve atingir produção de 10 toneladas este ano.

O produto, segundo a companhia, aumenta a resistência de plantas ao estresse climático, dá vitalidade, reduz a necessidade de uso de produtos químicos e resulta em maior produtividade. Por ser “super concentrado”, Gajardoni comenta que o recomendado é usar 25 gramas por hectare.

Apesar de ser fabricado no Brasil, o CEO da companhia explica que o ingrediente ativo do produto foi desenvolvido na África do Sul. “A gente procura produzir biológicos de altíssima qualidade. Não temos uma fábrica ‘coringa’, que faz tudo. Por exemplo, na Alemanha, fazemos bactérias e bacilos. Na Suíça e no Canadá, fazemos vírus. Na África, são produzidos fungos”, explica.

De acordo com o executivo, agora, o foco da Andermatt Brasil é levar tecnologia ao campo, uma vez que, com o fertilizante biológico bem aplicado, pode render um ganho adicional de quatro a 12 sacas de soja por hectare. O intuito também é usar o target dos próximos anos para aumentar a produção brasileira, que conta com 16 produtos no portfólio.

“O registro desses produtos é feito pela empresa no Brasil, a tecnologia é daqui, a aplicabilidade é daqui. Nós trabalhamos com cepas próprias, pesquisas próprias. Dos 16, apenas um produto foi desenvolvido em parceria com a Embrapa”, diz Gajardoni.

Na América Latina, além da operação brasileira, a Andermatt atua no México e, por meio de uma subsidiária, na Argentina.