Os Estados Unidos estimam aumentar em ao menos US$ 400 milhões as importações do Brasil neste ano, para US$ 6,9 bilhões – alta de 8% em relação a 2023. As importações de carne bovina e de derivados têm sido o principal impulsionador das vendas brasileiras, seguidos por produtos como açúcar e cacau – enquanto o comércio de café tem diminuído. Houve também aumento nas vendas brasileiras de hortifrutis e de oleaginosas.
“A desvalorização do real em relação ao dólar nos últimos dois trimestres tem impulsionado as compras de produtos brasileiros”, informa o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) no “Outlook for U.S. agricultural trade” do mês de maio, o relatório que traça perspectivas para o comércio global a partir das exportações e importações norte-americanas.
Segundo o USDA, as importações de gado vivo aumentaram US$ 200 milhões e as de carne bovina, US$ 100 milhões. A compra de suínos também subiu em cerca de US$ 200 milhões, reflexo de um aumento robusto nas importações do Brasil.
As importações de sucos, por outro lado, devem recuar cerca de 100 milhões de litros este ano, o que pode impactar o Brasil, que tem os Estados Unidos como principal destino das exportações de suco de laranja.
O Brasil também segue se consolidando como o principal fornecedor de soja e milho para os chineses, tirando espaço dos Estados Unidos – que estima um corte de até US$ 1 bilhão no comércio com a China, em grande parte devido à forte concorrência do Brasil.
Esse aumento das vendas tem relação com o câmbio, mas há um peso grande também do cenário geopolítico – e de uma disputa por liderança global entre China e Estados Unidos em áreas como tecnologia – que beneficia o Brasil.
No caso da soja, por exemplo, uma pesquisa feita pelo Itaú BBA mostra que o Brasil tem custos maiores para a produzir quanto comparado com Estados Unidos e Argentina – os dois principais concorrentes na produção dessa commodity e que, junto com o Brasil, respondem por mais de 80% da produção mundial de soja, de acordo com o USDA.
Segundo o Itaú BBA, o Brasil é o que tem o maior custo operacional, 18% superior ao dos EUA para a safra 2024/25. No caso da Argentina, a soma dos valores dos insumos (fertilizantes, sementes e defensivos) para produzir soja é mais de 4 vezes menor que a do Brasil.
“Os EUA têm margem operacional melhor que a registrada para o Brasil, porém com o custo de arrendamento maior, levando a margem total para o campo negativo”, diz o estudo do banco.
O Itaú BBA desenvolveu o cálculo tendo como referência os custos de produção de uma propriedade típica do Mato Grosso (fonte IMEA) para o Brasil, no estado de Illinois (University of Illinois) para os EUA e na região central da Zona Núcleo (periódico Márgenes Agropecuarios) para a Argentina.
Etanol
Na área de biocombustíveis, de acordo com o USDA, os Estados Unidos estimam vender cerca de US$4 bilhões em etanol este ano, ampliando em cerca de US$ 400 milhões suas exportações e voltando aos patamares de mercado que tinha em 2022 – e superando o Brasil, um dos principais competidores globais.
“Os valores unitários das exportações dos EUA de etanol estão abaixo das máximas dos últimos três anos, o que nos permite ter um spread de preço mais favorável que o do Brasil e aumentando a nossa competitividade”, diz o relatório do USDA.
Com isso, os Estados Unidos esperam exportar 1,6 bilhão de galões do combustível este ano, além de bater recorde de envio para países como Canadá, Índia, Reino Unido e Colômbia.
No ano passado, os embarques de etanol do Brasil somaram, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, 2,4 bilhões de litros, um crescimento de 3,7% ante o ano anterior.
Para este ano, a projeção da Argus é de que o Brasil tenha produção de etanol similar à de 2023. Segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Única), na safra 2023/2024 a produção de etanol registrou recorde histórico no Centro-Sul, com aumento de 1,83 bilhão de litros de biocombustível produzidos a partir do milho de segunda safra.
No total, as unidades do Centro-Sul produziram 33,59 bilhões de litros – um aumento de 16,16% em relação ao volume da última safra (28,92 bilhões de litros) e crescimento de 1,01% na comparação com o recorde anterior de produção verificado no ciclo 2019/2020 (33,26 bilhões de litros).
A produção de etanol de milho na safra 2023/2024 cresceu 41,39% na comparação com o volume produzido na safra 2022/2023, somando 6,26 bilhões de litros, sendo responsável por 18,65% do total de biocombustível produzido no Centro-Sul.