As máquinas agrícolas, especialmente tratores e colheitadeiras, são mais do que simplesmente veículos pesados para trabalhos pesados no campo.
Nos últimos anos, as montadoras vêm multiplicando investimentos em tecnologia para transformá-las em verdadeiras centrais de informação sobre as propriedades e os trabalhos de campo.
Quando se trata de implementos agrícolas, como as plantadeiras, tecnologias de monitoramento e telemetria ainda não são tão disseminadas. Essa é a aposta da Piccin, que hoje tem como principal negócio a fabricação desse tipo de máquina, mas que começa na Agrishow a dar mais um passo em termos de tecnologia para o produtor rural.
A empresa vai lançar na feira uma plataforma tecnológica chamada Green X. E por conta das funcionalidades e do potencial do mercado a ser explorado, o CEO da Piccin, Camilo Ramos, espera um crescimento rápido nas vendas.
“Em três anos, esperamos estar presentes em 5% da área de soja e 5% da área de milho no Brasil, que representam 2 milhões de hectares e 1 milhão de hectares, respectivamente”, conta o executivo.
O produto será comercializado também na Argentina, e como no Brasil, Ramos espera que a Green X atinja 5% da área plantada no país vizinho.
“Isso vai representar uma receita mensal de R$ 10,4 milhões no Brasil, e de R$ 4,1 milhões na Argentina”, projeta o CEO da Piccin. Se atingir essa meta de faturamento mensal, a receita da companhia com o novo produto nos dois países vai passar dos R$ 170 milhões.
A confiança de Ramos é baseada não só no tamanho do potencial de mercado, já que a plataforma pode ser instalada em qualquer máquina de qualquer montadora, mas também nas funcionalidades e no custo do novo produto.
Sobre a conectividade, a Piccin vai oferecer, juntamente com a plataforma, a instalação de um conjunto que envolve torre e roteador, com uma conexão via radiofrequência, tecnologia chamada de LoRA, já utilizada pela Amazon nos Estados Unidos em sua rede de entrega autônoma.
A opção por essa tecnologia afasta a dependência das redes 3G, 4G e 5G, que segundo dados do Programa Conectar Agro, cobrem 37% dos imóveis rurais e 19% da área disponível para uso agrícola no Brasil.
“É uma conexão de velocidade baixa, voltada para conectar as máquinas aos hardwares instalados nas propriedades. O produtor até consegue enviar mensagens, mas é um tipo de tecnologia com utilidade mais específica”, diz Ramos.
A antena cobre um raio de 20 quilômetros, equivalente a 112 mil hectares. O custo da torre juntamente com o roteador será de R$ 9 mil para o produtor. “Nós temos um plano para instalar 40 torres em uma área no Maranhão, e não chega a 10% do custo de uma torre de 4G”.
As máquinas da Piccin já terão a plataforma disponível ao saírem da montadora. Mas segundo o executivo, o hardware é de fácil instalação em qualquer máquina, podendo ser feita pelo próprio produtor.
A proposta é ter um instrumento de monitoramento completo, que vai desde previsão sobre o clima até auxiliar no manejo de combate a pragas e doenças.
Para isso, a Piccin instala pequenas torres ao longo das plantações. “Em uma fazenda do Maranhão onde instalamos a plataforma, a torre chegou a cobrir 400 hectares de área. Em outra, no Rio Grande do Sul, ficou em 70 hectares. Isso por conta das diferenças de relevo”, conta Ramos.
Ele afirma que, no geral, cada antena vai cobrir entre 100 hectares e 300 hectares, dependendo das características da área. O custo pode ficar próximo de uma saca de soja por hectare ao ano.
Ao detalhar as funcionalidades, Ramos lista algumas diferenças em relação ao que é oferecido no mercado hoje. A começar pela previsão do tempo, já que as torres conseguem antecipar o clima específico na propriedade em sete dias.
“Hoje, as estações meteorológicas se baseiam em dados das torres de celular para fazer as previsões, que muitas vezes acabam não encaixando com o que vai acontecer naquela fazenda específica”.
Ramos conta que a plataforma já foi testada em uma situação de geada em uma área de frutas no Rio Grande do Sul, e segundo o monitoramento feito pela Embrapa, a antecipação do fenômeno em seis horas conseguida pela plataforma ajudou a reduzir a perda de floração de 80% para 10%.
A Green X também faz análise de solo, com as torres sendo ligadas à terra e colhendo dados sobre o estado daquela área, ajudando a tomar decisões sobre como manejar cada pedaço de terra.
Sobre as pragas, a plataforma consegue monitorar o ciclo biológico dos insetos, o que ajuda o produtor a decidir o melhor momento para aplicar defensivos. No caso de doenças, Ramos conta que a Green X consegue prever, com três dias de antecedência, um aumento do risco de incidência na lavoura.
A Piccin vai chegar também no monitoramento de armazenagem em silo bolsa, uma alternativa que envolve materiais plásticos.
Ramos afirma que nesse tipo de armazenagem, é muito comum ocorrer perdas por excesso de umidade e fermentação de grãos. “Nós teremos esses silos com a plataforma instalada para monitorar essas condições e reduzir as perdas”, afirma.
Outras funcionalidades da Green X estão sendo trabalhadas para chegarem aos produtores, como a de monitoramento logístico. Nesse serviço, a Piccin vai utilizar dados de praças de pedágio para acompanhar a carga desde a saída da porteira até o destino final.
“Nós começamos o piloto desse serviço agora em maio, e a partir de setembro, vamos iniciar os testes em uma fazenda em São Carlos (interior de São Paulo)”, conta Ramos.
Sobre os benefícios econômicos ao produtor, o CEO da Piccin afirma que eles podem acontecer de duas formas: na economia de insumos ou no ganho de produtividade.
“Muitas vezes, a ferramenta vai apontar que o risco de uma praga ou doença é maior que o produtor imaginava, e assim, ele terá que usar mais insumo. Mas fazendo isso, ele vai ter uma produtividade melhor”, explica.
Apesar de ter metas claras para soja e milho, a plataforma pode ser utilizada em outras culturas. “Para frutas cítricas, por exemplo, ela pode ajudar muito no tratamento preventivo de greening, porque consegue antecipar o pico populacional do psilídeo”, diz Ramos.
A expectativa é de que a plataforma possa ajudar até mesmo na geração de créditos de carbono para os produtores. Neste caso, já há um estudo da Embrapa sobre como o plantio direto de soja gera captura de carbono. E a Green X consegue medir esses dados.
“Nós estamos apresentando esse modelo para uma certificadora de relevância global, que é a SGS, para conseguir formalizar esse mercado para os produtores de soja. Não será tão grande quanto o de preservação de florestas, claro. Mas já pode gerar uma receita extra”.
Uma experiência realizada pelo projeto Carbono 360 da Bayer, apresentado em 2021, mostra que 1 hectare com o sistema de plantio direto pode sequestrar entre 0,5 e 1 tonelada de carbono por ano, equivalente à emissão produzida na produção de quatro automóveis.