Paulo Arruda é professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1976, sempre ensinando e pesquisando novidades em biotecnologia. Mas a longa e consistente carreira acadêmica não o impediu de fundar uma startup em 2022.
A InEdita Bio está em fase de desenvolvimento, depois de receber um primeiro investimento viabilizado pela Vesper Bio, gestora de venture capital voltada para agricultura sustentável e saúde humana, e por outra gestora de VC, a Ecoa Capital. Mas tem uma ambição gigantesca, do tamanho do desafio que espera vencer.
“Foi um investimento semente, que eu não posso revelar exatamente o valor. Mas esse tipo de aporte geralmente fica entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão”, conta Arruda, que é também CEO da InEdita Bio.
Arruda, que em 2001 já havia fundado a Alellyx Applied Genomics, que foi vendida depois para a Monsanto, conta que a startup tem duas plataformas patenteadas na United States Patent and Trademark Office (USPTO), nos Estados Unidos, que são voltadas para “editar” o genoma de plantas. Em um primeiro momento, o foco está em soja e milho.
“A biotecnologia de plantas avançou muito nas últimas décadas, as grandes empresas acabaram tomando conta do mercado e as ferramentas acabaram ficando muito caras”, diz Arruda.
Nos últimos 10 anos, surgiu a tecnologia CRISPR, que permite reescrever parte do código de DNA para corrigir fragilidades das plantas. E esse é o caminho que a InEdita Bio está tomando.
A prioridade no momento é a soja. O primeiro objetivo da startup é conseguir uma variedade resistente a uma das principais pragas que atacam a cultura no Brasil, a ferrugem asiática.
Trata-se de uma doença que provoca prejuízos estimados em US$ 2 bilhões por safra aos agricultores brasileiros, segundo o Consórcio Antiferrugem. Por isso, é alvo de pesquisas de todas as grandes indústrias de insumos agrícolas, que correm na mesma raia da pequena Inedita Bio.
“Na safra 22/23, foram quase US$ 3 bilhões gastos em fungicidas só para combater a ferrugem asiática no Brasil. Nós queremos uma fatia desse valor desenvolvendo essa variedade. Foram 50 mil toneladas de produtos pulverizados nas plantações”, afirma Arruda.
O professor e empresário afirma que atualmente, mais de 90% da soja e do milho produzidos no Brasil já têm uma tecnologia inserida que deixa os grãos resistentes a lagartas. “As grandes empresas acabam licenciando essas tecnologias para desenvolvedores e estes são nossos clientes”, conta.
Arruda revela inclusive que a InEdita Bio acabou de fechar uma parceria com uma importante empresa produtora de sementes, cujo nome diz não poder relevar. “Não são negociações rápidas, até pela complexidade do trabalho. Mas já atraímos grandes interesses. E essas parcerias acabam resultando em entrada de recursos, como se fosse uma venda antecipada”.
Quando o assunto é a entrada de investidores, Arruda já tem uma perspectiva diferente. “Não temos grandes ambições neste sentido agora, até para não diluir a nossa participação. Nós temos inclusive um programa de remuneração com ações para os nossos cientistas, algo relevante para o desenvolvimento da Inedita Bio”.
A InEdita Bio conta com uma equipe de oito profissionais com formações avançadas em biotecnologia. “Todos têm doutorado e até pós-doutorado fora do Brasil. Estamos em um laboratório em Florianópolis, próximo da sede da Vesper Bio”.
Arruda diz que a empresa ainda está em fase de desenvolvimento e investimento nas pesquisas para executar a edição do genoma de soja e outras plantas importantes para a alimentação do planeta, de modo geral. “Milho, soja, arroz e trigo são responsáveis por fornecer 80% da energia que consumimos no planeta”, explica.
Enquanto trabalha na soja, a InEdita Bio já começa a traçar caminhos para o milho, outra importante cultura do agronegócio brasileiro.
Um dos planos é desenvolver uma variedade de milho em que a planta tenha uma altura menor, o que ajudaria a diminuir inclusive perdas por intempéries climáticas. “Nós queremos também melhorar a absorção de nutrientes das plantas”.
O CEO afirma que o mercado de biotecnologia oferece muito espaço para crescimento, inclusive pela falta de mais empresas atuando no segmento.
“Na Unicamp, há mais de mil estudantes concluindo mestrado e doutorado todo ano. Queremos também passar essa mensagem de que há muito espaço para o empreendedorismo em biotecnologia. A Inedita Bio ou qualquer outra empresa não vai conseguir fazer tudo sozinha”, diz.