A safra 2023/24 pode servir para o agronegócio brasileiro como a comprovação do provérbio português que começa com “não há bem que sempre dure”. No entanto, o ano de 2025 pode trazer a outra metade do mesmo ditado: “não há mal que nunca se acabe”.

Pelo menos esse é o cenário traçado pela consultoria MacroSector, que divulgou um relatório com projeções para o cenário macroeconômico e agrícola no Brasil em 2024.

Para este ano, a consultoria espera uma queda de 4% na receita agrícola total do Brasil, sem levar em conta atividades pecuárias e agroindustriais. Essa queda é puxada principalmente por soja e milho.

Desde o final do ano passado, as duas maiores culturas agrícolas brasileiras têm sofrido com quedas nas cotações globais, cenário que deve continuar até o final deste ano, segundo Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores.

Por outro lado, Silveira demonstra certo otimismo com as perspectivas para 2025. “A partir do segundo semestre deste ano, devemos ter queda de juros nos Estados Unidos. Isso acaba resultando em uma valorização de ativos com maior risco, como ações e commodities agrícolas”, explica.

O cenário de queda de juros traz a expectativa de melhora na atividade econômica global no próximo ano. “Hoje o nível de estoques é um problema para os preços dos grãos. E com a recuperação econômica, esse nível de estoques deve começar a diminuir”, diz Silveira.

O sócio-diretor da MacroSector afirma que não leva em conta os possíveis fenômenos meteorológicos que podem afetar a produção agrícola entre 2024 e 2025. “Não sabemos se vai acontecer ou não, então preferimos trabalhar só com o que já aconteceu ou está acontecendo”.

No câmbio, o cenário em 2024 deve ser ligeiramente favorável para o agronegócio em relação a 2023. No ano passado, a taxa média do dólar ante o real foi de R$ 5,00, e neste ano, deve ser de R$ 5,07, segundo a consultoria.

 

Milho sofre mais

Nas projeções para 2024, o milho deve ter o pior desempenho em termos de variação nas receitas. O faturamento com o grão deve ficar pouco acima de R$ 117 bilhões em 2024, ante R$ 144 bilhões no ano passado, uma queda de quase 19%.

Isso por conta da queda na produção prevista pela MacroSector. Serão pouco menos de 118 milhões de toneladas, ante 131 milhões de toneladas em 2023, um recuo de 10% em volume.

A MacroSector afirma que o preço médio do milho no mercado doméstico deve ficar em R$ 64,40 por saca de 60 kg, queda de 1% frente à média de 2023. Isso porque a produção global deve crescer cerca de 6%, batendo a marca de 1,2 bilhão de toneladas. Os estoques devem subir de 300 milhões de toneladas em 22/23 para 322 milhões de toneladas em 23/24.

Assim, a relação de troca para o produtor de milho do Paraná na compra de fertilizantes em fevereiro de 2024 está pior que no ano passado, com 53 sacas por tonelada de fertilizantes, contra cerca de 45 sacas um ano antes.

No caso da soja, com a produção caindo bem menos que no milho, ficando na casa de 150 milhões de toneladas, a queda no faturamento também deve ser menor, segundo a MacroSector.

A consultoria espera receitas acima de R$ 371 bilhões para 2024, ante R$ 398 bilhões em 2024, um recuo de quase 7%.

Quando trata dos preços, a soja deve ter um comportamento pior que o milho no mercado local, com a consultoria projetando uma queda de 12% no preço médio, para R$ 133,30 por saca de 60 kg.

No mercado global, Argentina e Paraguai vão contribuir para um aumento da produção, que deve chegar a 400 milhões de toneladas na safra 23/24. Os estoques também devem subir, de 102 milhões de toneladas para 115 milhões de toneladas.

Mas ao contrário do milho, a relação de troca por fertilizantes para o produtor de soja está mais favorável em 2024. Em um ano, no Mato Grosso, essa relação saiu de 25,3 sacas em fevereiro de 2023 para 22,4 sacas neste ano.

Outro ponto destacado por Fabio Silveira é o bom desempenho das chamadas “lavouras permanentes”. Estão neste grupo cana-de-açúcar, café e laranja.

A maior destas três culturas é a cana, que deve ter leve queda na produção em 2024, de 713 milhões de toneladas para 710 milhões de toneladas.

Mesmo assim, a MacroSector espera aumento na receita dos produtores de cana, de R$ 104 bilhões em 2023 para pouco mais de R$ 106 bilhões em 2024.

O melhor desempenho em crescimento de receitas deve ficar com a laranja. Segundo a consultoria, os produtores vão arrecadar mais de R$ 57 bilhões em 2024, um avanço de 13% ante 2023, com produção estável em 91,5 milhões de frutas.

O café também deve apresentar ligeiro crescimento de produção, de 3,4 milhões de toneladas para 3,5 milhões de toneladas, com as receitas avançando menos de 7%, para quase R$ 54 bilhões.