A mudança foi feita sem alarde. Novo nome da fachada, um post nas redes sociais e estava feito. Um ano depois de adquirir um dos pioneiros e mais ativos hubs de inovação do agronegócio brasileiro, a consultoria PwC colocou, nesta segunda-feira 15 de janeiro, sua própria marca com mais destaque na parede do imponente edifício que sedia o AgTech Garage, em Piracicaba (SP).
“Não somos mais uma garagem”, afirmou Maurício Moares, líder global de Agronegócio da PwC Brasil. O antigo nome, assim, foi substituído por PwC AgTech Innovation, marca que reflete de forma mais clara a ambição da nova gestão do negócio.
Moraes acumula, desde novembro passado, a função de CEO do hub. Nesse posto, substitui José Tomé, um dos fundadores do Garage, que deixou o negócio de forma inesperada – o acordo na venda para a consultoria previa sua permanência por mais alguns anos.
Ao seu lado, como COO, terá o executivo Dirceu Ferreira Júnior, ex-head de Inovação da Bayer Crop Science para a América Latina, que será encarregado de comandar as operações da empresa a partir de agora.
A discrição na comunicação não impediu, no entanto, que a mudança de nome se tornasse assunto no ecossistema de inovação do agronegócio. Ao longo do dia, Moraes concedeu algumas entrevistas para explicar as razões desse movimento e seus impactos.
Em todas elas, repetiu que “a mudança não é operacional” e que a nova marca “busca reconhecer o que o Agtech faz hoje para o mercado”.
Ele explica: “A empresa nasceu como Garage e foi se estruturando, cresceu de forma exponencial nos últimos seis anos. Deixou de ser um hub de conexão que foi no início. Estamos hoje em um patamar mais consultivo”.
Em outras palavras, mais com jeito de PwC, como indica a marca. Moraes reforça que o time hoje é formado por cerca de 60 profissionais com doutorado, pós-graduação, MBA, com formações distintas.
Além disso, afirma, neste primeiro ano após a aquisição, a consultoria plugou ao hub várias de suas estruturas, como o centro de Excelência Global em Agribusiness, com sede no Brasil, e especialistas em outras indústrias, cujos interesses, em algum ponto, se conectam ao agro e vice-versa.
“A nova marca projeta o que esperamos daqui por diante”, diz. Hoje o Agtech Innovatio faz parte de um amplo network que atua em 151 países e reúne 365 mil pessoas. Temos sido muito requisitados nessa rede, mas sempre nos pediam para explicar melhor o que o Garage faz. O ajuste era necessário para deixar esse posicionamento mais claro”.
A presença de Ferreira Júnior no time, segundo Moraes, ajusará a dar uma perspectiva mais assertiva sobre quem está do outro lado do balcão, como cliente.
O executivo esteve durante cerca de 30 anos nessa posição, sendo os últimos quatro na liderança da área de inovação da Bayer, uma das primeiras corporações parceiras do Garage.
“O Dirceu vai nos dizer o que o mercado precisa, o que o mercado deseja e como a gente vai endereçar tudo isso”, afirma Moraes. “Ele tem a visão do cliente e está há anos dentro do ecossistema”.
Dessa forma, a PwC espera potencializar a geração de negócios a partir do Agtech Innovation. A estratégia passa por intensificar o intercâmbio com outras áreas da consultoria – como energia, M&As, tributária, telecom, varejo, por exemplo – dando mais musculatura a todo o ecossistema que girando seu entorno.
Um exemplo desse novo modelo de atuação é o desenvolvimento de projetos para “habilitar” a inovação dentro de empresas clientes. “Neles, desenvolvemos jornadas de inovação para ajudá-las a estruturar metodologias, capturar as ideias e gerar valor”.
As conexões internacionais devem ser aceleradas, como já havia sido antecipado em reportagem do AgFeed publicada em maio do ano passado.
E, internamente, a expansão pode continuar através da abertura de novos centros de inovação junto com parceiros. O modelo de parcerias foi testado no ano passado, com a inauguração do Moon Hub, em Uberaba, criado a partir de um acordo tripartite envolvendo a prefeitura do município, a fabricante de fertilizantes Ubyfol e o próprio Garage, responsável pela gestão.
“Temos pedidos para que isso aconteça em outros lugares, com diferentes atores, como organizações privadas”, afirma Moraes. “Mas entendemos que temos muitas mudanças e pedimos um tempo para poder atender e devemos retomar as conversas no segundo semestre”.
O espaço físico em Piracicaba também foi duplicado no primeiro ano sob gestão PwC, dimensionando o espaço para um crescimento de demanda trazido com uma ação mais coordenada com as outras áreas da empresa.
Exemplo do impacto desse imenso networking pode ser visto, segundo Moraes, na mais recente edição do AgTech Meeting, evento anual promovido pelo Garage. Em 2022, cerca de 400 pessoas participaram presencialmente. No ano passado, o número chegou a 1,3 mil.
A nova garagem de Tomé
Na entrevista, Moraes também fez questão de ressaltar que a saída de Tomé e a mudança de nome são processos independentes e não estão, portanto, relacionadas.
Na mesma segunda-feira em que o novo nome passou a ser exibido em Piracicaba, Tomé anunciou, em um post no LinkedIn, seu novo projeto: estruturar a Chaac Capital, empresa de investimentos que utilizará capitais próprios para fazer aportes em startups do agro.
Em conversa com o AgFeed, Tomé não quis comentar detalhes de sua saída da PwC, disse que nos próximos meses deve fazer um período de imersão em temas como agricultura regenerativa, carbono, agricultura orgânica robótica, para refinar as teses de seus futuros investimentos.
Tomé planeja se mudar com a família para Austin, nos Estados Unidos, hoje um polo de inovação relevante, com a presença de grandes empresas de tecnologia.
A Chaac é a empresa de participações com a qual Tomé atuava como sócio do Garage. Agora, capitalizada com a venda para a PwC, ela deve ter um novo foco. A meta de Tomé é ter cinco empresas em seu portfólio ainda em 2024.
“Isso seria complexo para quem está saindo do zero, mas depois de tantos anos no ecossistema, tenho a vantagem de já conhecer muitas empresas e oportunidades”, diz ele.
Ele pretende replicar, de certa forma, a experiência bem-sucedida no Garage em sua nova empreitada. “O negócio do Agtech Garage foi a criação de um agente orquestrador do ecossistema de inovação”, afirma.
“Agora, vou estudar como destravar outros ecossistemas de negócios e investir empresas que tenham potencial para orquestrá-los”, diz.