A trading de commodities Louis Dreyfus Company (LDC), e a The Nature Conservancy (TNC), organização global dedicada ao meio ambiente, anunciaram nesta sexta-feira um projeto em conjunto para incentivar a conservação de florestas em propriedades rurais e a adoção de práticas agrícolas regenerativas.

Apesar de já desenvolver outros projetos voltados ao agro do Brasil, a TNC disse ao AgFeed que em 2024, pretende “ter foco” na parceria com a LDC. O plano prevê ações em 1,2 milhão de hectares até 2030, nas diferentes regiões.

O objetivo, segundo o comunicado oficial da LDC, é “mitigar as mudanças climáticas provenientes da produção agrícola e do alimento e melhorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos".

De acordo com a empresa, a colaboração será em nível global, na área de commodities agrícolas e, inicialmente, se dará nas cadeias de valor de grãos e oleaginosas, bem como no café e no algodão.

Em entrevista ao AgFeed, Michael Wironen, diretor de engajamento corporativo para alimentos e água da TNC, comentou que a parceria tem dois focos principais, sendo que ambos dialogam com a agricultura brasileira.

O primeiro ponto é a chamada DCF, uma sigla em inglês para definir quando uma produção é “livre de desmatamento e conversão”, ou seja, que não tenha envolvido áreas nativas.

Segundo Wironen, a parceria deve desenvolver para esse caso algum tipo de incentivo para os produtores, especialmente aqueles que ainda tem uma reserva de floresta em suas propriedades e cogitem ampliar a área produtiva. “Podemos evitar o desmatamento com um incentivo adequado”, afirmou.

O outro ponto da parceria envolve a agricultura regenerativa em si. A ideia é que, com a melhoria das práticas agrícolas, a saúde do solo seja melhorada, bem como a restauração de aquíferos e o aumento da biodiversidade, o que ajudaria a mitigar as mudanças climáticas. “Ao mesmo tempo, aumentam a rentabilidade e a resiliência dos produtos no longo prazo”, disse ele.

Por aqui, o projeto se dará inicialmente no Cerrado. No futuro, a parceria pode chegar à Amazônia. “O Cerrado é o bioma mais importante em termos de produção no País, se olharmos pela perspectiva da agricultura. No lado da conservação da natureza, é um importante ponto de acesso à biodiversidade e também às ameaças ao bioma”, comentou Michael Wironen.

Na agricultura regenerativa, a colaboração acontecerá “em grande escala”, nos EUA, Canadá, Brasil e Argentina.

De acordo com a LDC, a iniciativa inclui avaliações conjuntas de projetos de agricultura regenerativa já em andamento para analisar caminhos para colaboração e “expansão em todas as cadeias de valor”.

“A LDC, a TNC, os agrônomos e os implementadores de projetos locais continuarão a desenvolver projetos piloto em outras cadeias de fornecimento, como citros no Brasil e café no Vietnã, na Indonésia, em Uganda e em outras origens”, disse a LDC no comunicado oficial.

Ainda na parte de agricultura regenerativa, o diretor da TNC comentou que a parceria deve olhar para outras culturas além daquelas que dominam a produção nacional. “Olhamos para cítricos, café, cacau e outros mercados que possam ser integrados na produção”.

O plano de agricultura regenerativa da LDC em parceria com a TNC engloba 1,2 milhão de hectares até 2030. Nas contas da empresa, isso atingiria 30 mil produtores. A empresa não deu detalhes de como se dará a atuação específica em cada país.

“Em um contexto de aceleração dos desafios climáticos que afetam as culturas agrícolas e os meios de subsistência de produtores em todo o mundo, a resiliência das cadeias de fornecimento agrícola e do alimento globais a longo prazo exige uma transição para práticas sustentáveis onde o sistema alimentar começa na fazenda”, disse Michael Gelchie, CEO da LDC.

A trading global ainda pontuou que essa colaboração faz parte do compromisso da LDC de eliminar o desmatamento e a conversão de vegetação nativa de alto valor de conservação para fins agrícolas de suas cadeias de fornecimento até o final de 2025.

“Como uma líder global na comercialização e no processamento de produtos agrícolas, nossa posição estratégica na cadeia de valor significa que temos um papel fundamental a desempenhar para incentivar e apoiar esta transição”, acrescentou o CEO da LDC na nota oficial.

A incursão no agro brasileiro não é uma novidade para a TNC. Desde 2019 a organização possui uma parceria com a Syngenta e o Banco Itaú para financiar os insumos necessários para evoluírem com a recuperação de solos degradados.

O projeto, chamado “Reverte”, já envolveu mais de 200 fazendas, soma mais de 130 mil hectares degradados em processo de recuperação e R$ 500 milhões em créditos liberados aos agricultores.

A expectativa do programa é de que até 2030 sejam recuperados 1 milhão de hectares de solos degradados para áreas cultiváveis e produtivas em todo o Brasil. Atualmente, o programa cobre, principalmente, terras das regiões do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

“O projeto Reverte é um ganha-ganha. Ele permite que os agricultores expandam suas operações usando as melhores práticas regenerativas”, comentou Michael Wironen.

Para o futuro, o foco está na parceria com a LDC anunciada nesta sexta-feira, de acordo com o diretor. Apesar disso, ele declarou, sem citar nomes, que sempre existem projetos em andamento. Segundo Wironen, as conversas com a trading começaram há quase um ano.

“Eles são o caminho entre o produtor e o mercado. Se você é a Nestlé, Unilever ou a PepsiCo e deseja fontes de produtos de uma agricultura regenerativa, precisa de fornecedores que possam atender a esses requisitos. Por isso concentraremos nossa atenção nessa colaboração com a LDC”.