Os produtores de grãos terão, além do clima, outro desafio para planejar a safra 2023/24: os custos com frete. Levantamento feito por pesquisadores da EsalqLog, o braço de pesquisa em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP (Universidade de São Paulo), aponta que as despesas com esse item podem ficar até 15% maiores na próxima safra em comparação a 2023.

Entre as razões está a estimativa de adiamento da colheita, especialmente a da soja cultivada no Centro-Oeste, em até duas semanas a partir do início do ano que vem.

O atraso das chuvas causado pela influência do El Niño obrigou produtores em estados como o Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul a adiar plantio ou fazer replantio de sementes. Esse cenário vai impactar as datas de colheita e fará com que pedidos de transporte se concentrem num mesmo período, pressionando os preços.

No Mato Grosso, cerca de 4% da área destinada ao plantio de soja para a safra 2023/24 precisará ser replantada, segundo o Instituto de Economia Agropecuária (Imea). São áreas imensas que não contam com processo de irrigação e onde a temperatura do solo chegou a 50ºC, inviabilizando o desenvolvimento das sementes.

“E, a despeito do clima, a estimativa é de aumento da produção em até 8 milhões de toneladas em relação a 2023, o que amplia ainda mais a demanda por transporte e, consequentemente, a pressão sobre os preços dos fretes”, explica Fernando Bastiani, pesquisador da Esalq Log, em Piracicaba.

Ele lembra que o nível de pressão dos preços vai depender da rota adotada para escoamento da produção.

Um exemplo é o impacto do El Niño da intensidade da seca na região Norte. Mesmo sendo um fenômeno sazonal para o qual produtores e administradores de hidrovias estão preparados, esse ano a fase das secas foi mais intensa, causando paralisação de rotas e obrigando produtores a escoar a produção por rodovia como alternativa aos rios.

Parte da safra que seria escoada por rio para o porto de Santarém, no Pará, precisou ser transportada por caminhão para o Porto de Santos, em São Paulo, ampliando custos com logística – e reduzindo o nível de rentabilidade da produção.

É o caso do milho. A queda no preço verificada nos últimos meses associada ao aumento nos custos de escoamento da produção, reduziu rentabilidade, com reflexos para a safrinha de 2024. A Conab estima um recuo de 5% na área plantada para milho para o próximo ano.

E essa perspectiva de menor espaço para a safra de milho, por outro lado, trará um alívio, o que não significa em redução de preço. “Para a safrinha, a estimativa de aumento do frete é de cerca de 10%”, afirma o pesquisador da Esalq Log.

Os efeitos do El Niño na produção de grãos do Brasil devem continuar nos próximos meses, trazendo incertezas. De acordo com último boletim da Organização Meteorológica Mundial, entidade ligada à ONU (Organização das Nações Unidas), a probabilidade de o El Niño persistir até abril de 2024 é de 90%.

No Brasil, segundo a Climatempo, o auge do fenômeno – com máximas de temperaturas – deve acontecer entre dezembro e janeiro – no ápice do desenvolvendo das colheitas.