A Auster Nutrição Animal projetava, ao final de 2022, que atingiria um faturamento de R$ 440 milhões em 2023. Passados 11 meses deste ano, a expectativa já foi revisitada pelo CEO da empresa, Paulo Portilho.
Ele contou ao AgFeed que devido à queda no preço das matérias-primas, que acaba diminuindo o preço repassado aos clientes, e uma baixa do dólar frente ao real neste ano, o faturamento em 2023 deve atingir os R$ 400 milhões, mesmo valor visto em 2022.
Ao mesmo tempo, a chamada “cobertura de ração”, que engloba a quantidade de ração produzida a partir dos produtos da empresa – premixes, aditivos e especialidades lácteas – deve aumentar.
Em 2023, as 36 mil toneladas dos produtos produzidos pela Auster atingiram 11 milhões de toneladas de ração dentre seus mil clientes. O número veio 25% acima do visto em 2022, e deve aumentar na mesma medida em 2024.
Portilho disse que esse faturamento estável é um reflexo de um cenário de pressão nas margens dos produtores de carnes que começou em 2020 e perdurou até o primeiro semestre deste ano.
Com a pandemia e, posteriormente, a guerra na Ucrânia, houve um ciclo de aumento de custos em todas as commodities agrícolas.
Mesmo que a Auster não compre milho e soja, seus clientes sim. E a pressão na margem dos compradores baixou o preço dos produtos adjacentes. Somado a isso, Portilho vê que o boom das compras da China pela carne brasileira, causado pelo problema da peste suína africana no país, acabou e, internamente, avalia que o povo brasileiro não vê um aumento de renda há 10 anos.
O mesmo cenário que explica o problema nos custos e a diminuição no faturamento se aplica, em sentido oposto, ao ritmo de crescimento nas vendas. “Quando o cliente tem um desconforto de custos, o ganho de produtividade é importante e, nesse sentido, nós crescemos. O valor com as vendas cai, mas não diminui a quantidade de ração”, diz o CEO.
Para 2024, algumas variáveis econômicas ainda podem mudar o ano da Auster. O cenário de alta de juros visto tanto nos EUA quanto na Europa “muda estruturas de negócios em todo mundo”, segundo Portilho, e, ao mesmo tempo, o mundo agro já vê um alívio na pressão constante de preços agrícolas.
Ele prevê que os clientes da Auster, que são do ramo de suínos, aves e de leite, verão um último trimestre de 2023 com mais geração de caixa do que no ano passado todo.
Com isso, mesmo com uma perspectiva de que o consumo externo se mantenha igual, o futuro do dólar, que estava em R$ 5,40 em 2022 e esse ano ronda os R$ 4,90, vai definir o quanto o faturamento vai crescer ou não em 2023.
“Devemos manter a empresa no mesmo tamanho, seguir crescendo em ração atingida e crescer do ponto de vista técnico. O câmbio é uma incógnita e os juros também. Se a Selic cair aqui e os juros continuarem a subir lá fora, pode haver pressão cambial no real e aí nossa empresa cresce”, afirma.
Para o ano que vem, Portilho ainda revelou que a empresa deve concluir um estudo que mensura o quanto os produtos da empresa ajudam na redução da pegada de carbono dos seus clientes.
O executivo revelou que a economia deve atingir cerca de 300 mil toneladas de carbono por ano, mas que o levantamento ainda está com uma auditoria externa para ser finalizado. “No ESG estamos bem estruturados no ‘E’ e no ‘G’, e no ‘S’, queríamos ir além de reciclar nossos papéis da fábrica, por exemplo”, disse.
A empresa deve seguir investindo em 2024. Neste ano, Portilho contou que foram investidos cerca de US$ 1,5 milhão em pesquisa e desenvolvimento, algo em torno de R$ 7 milhões, e mais US$ 1 milhão em capacitação e treinamento.
Outro investimento feito ao longo de 2023, que não teve seu valor revelado, foi para melhorar toda a parte de embalagens da fábrica da empresa, localizada em Hortolândia, interior de São Paulo.
“Havia uma falta de componentes eletrônicos [na fábrica]. Para o ano que vem, no mesmo caminho, devemos encerrar esse investimento e investir em tecnologias de precisão de mistura e dosagem”, explica.
Paulo é engenheiro agrônomo, e filho, neto e bisneto de pecuaristas. “A afinidade com a agropecuária na família está desde que minha avó estava na barriga da minha bisavó”, brinca.
Formado na Esalq/USP, atuou como consultor e em empresas multinacionais de enzimas e aditivos. Em 2006, uma das empresas em que ele atuava, a Sloten, foi vendida, e Portilho resolveu atuar junto ao atual sócio, Nicolaas Hemmes, para analisar lacunas tecnológicas na agropecuária.
Dois anos depois, quando a Argentina resolveu proibir as exportações de carne bovina do país, numa forma de combater a inflação local, os dois viram uma oportunidade de negócio.
O Brasil ainda não exportava tanta carne bovina por conta da febre aftosa e da vacinação escassa, mas a situação dos hermanos ajudou o mercado local. “Isso acelerou a vontade da empresa de investir e trazer novas tecnologias de nutrição para o mercado de suínos e frangos, que viam seus preços subirem na esteira do boi”, disse Portilho.
Os dois, com conhecimento técnico de enzimas e aditivos, viram a oportunidade de atuar com as culturas, e iniciaram o processo de contratar uma equipe e desenvolver os produtos para vender no mercado local.
“Tinha cansado de trabalhar para estrangeiros, pois é difícil explicar o Brasil para quem é de fora, com toda a questão dos impostos e dos portos. Nisso a Auster nasce e os investimentos também”.
Os clientes da Auster são produtores do ramo de suínos, aves (tanto de corte quanto de granjas) e produtores de leite. Nas aves, ele conta que 85% da produção brasileira é integrada, ou seja, as mesmas empresas contam com a produção de ração, as granjas de animais e os abatedouros.
“Nossos clientes são grandes e consomem desde 6 mil até 300 mil toneladas de ração por mês. Todos os grandes, exceto BRF e JBS, nós atendemos”.
Na suinocultura a integração completa da cadeia é menor, cerca de 50%, e os clientes estão concentrados em cooperativas e grandes produtores com até 40 mli matrizes.
A produção de ovos é mais fragmentada, com duas mil toneladas de ração por mês em média por produtor, e a cadeia do leite, mais pulverizada ainda, segundo o CEO. “Para cada vaca de leite existe um brasileiro por aqui”.
Considerando o valor obtido com as vendas, 50% vêm de suínos, 40% da avicultura e o restante dos bovinos de leite. Porém, o volume maior fica com a avicultura.