O agronegócio brasileiro convive, há anos, com um paradoxo. Ao mesmo tempo em que sustenta o abastecimento interno, garante superávits bilionários à balança comercial e cumpre papel essencial para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), permanece altamente vulnerável aos efeitos climáticos, cada vez mais severos e imprevisíveis.

Safras inteiras podem ser comprometidas por eventos extremos. Nesse cenário, o seguro rural deixa de ser apenas uma ferramenta financeira para se tornar um instrumento de sobrevivência do produtor.

Desastres climáticos já não são exceção no país. Nos últimos anos são inúmeros os exemplos de intempéries que impactaram diretamente a produção agrícola. Em 2021 e 2022, a estiagem histórica no Sul do país reduziu drasticamente a colheita de milho e soja, trazendo prejuízos bilionários. Já em 2023, o excesso de chuvas em diversas regiões atrasou o plantio e provocou perdas em culturas sensíveis, como o arroz e o feijão.

Mais recentemente, em 2024, enchentes devastadoras no Rio Grande do Sul comprometeram não apenas a safra, mas também a infraestrutura logística de escoamento da produção, trazendo prejuízos incalculáveis não somente para o agro, mas para todos os setores da economia. São sinais claros de que a agricultura brasileira precisa de instrumentos sólidos de gestão de risco. E o seguro rural é, sem dúvida, o principal deles.

Diante desse contexto, a decisão do governo de contingenciar R$ 445,17 milhões do orçamento de 2025 destinado ao Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), anunciado em maio, soa como um grave erro estratégico.

O governo reconheceu a urgência e o Ministério da Agricultura liberou R$ 90,5 milhões do orçamento para a subvenção do seguro rural. No entanto, outros R$ 354,6 milhões, cerca de 33% da verba de R$ 1,06 bilhão prevista para 2025, continuam bloqueados e sem previsão de aplicação.

O corte deve reduzir a área segurada para menos de 5 milhões de hectares, o menor nível em sete anos. Na prática, milhares de produtores ficarão sem acesso a apólices em um momento em que a previsibilidade climática é cada vez mais desafiadora. O risco é de um prejuízo severo para a economia caso ocorra algum desastre climático nos próximos meses.

O impacto pode ser dramático já na próxima safra de soja, que enfrenta o risco adicional do fenômeno La Niña, previsto para atuar durante a colheita, em fevereiro de 2026. Quem arcará com as perdas se as chuvas forem excessivas em determinadas regiões e a seca castigar outras?

O produtor, sozinho, não tem condições de absorver prejuízos de tamanha escala. E, quando isso acontece, o resultado é renegociação de dívidas, socorro emergencial e, inevitavelmente, mais pressão sobre os cofres públicos.

É preciso reconhecer que o seguro rural não beneficia apenas o agricultor individualmente. Ele é uma política agrícola estratégica. Ao garantir estabilidade de renda no campo, preserva cadeias produtivas inteiras, assegura empregos, protege o abastecimento de alimentos e evita que crises sazonais se transformem em problemas macroeconômicos.

Reduzir o orçamento do PSR é caminhar na contramão de tudo isso. Em vez de enfraquecer o acesso ao seguro, o País deveria ampliar sua cobertura, sobretudo em um contexto de mudanças climáticas que não respeitam fronteiras ou calendários agrícolas.

O agronegócio brasileiro precisa de políticas consistentes de gestão de risco, em sintonia com os desafios climáticos e com a dimensão estratégica da atividade para o país. A redução de recursos para o seguro rural representa um retrocesso nesse caminho e coloca em xeque a resiliência do setor na safra de verão, um dos ciclos mais importantes da produção.

Rodrigo Motroni é vice-presidente da Newe Seguros.