Quando a Irani, uma das principais indústrias brasileiras de papel e embalagens, anunciou sua reestruturação e fez o “re-IPO” em 2020, um projeto ambicioso foi colocado no papel: a Plataforma Gaia.
O que antes parecia só uma ideia que agradou o mercado e os investidores, começa a dar seus primeiros e ainda tímidos frutos nos últimos meses de 2023. O projeto, que deve ficar em R$ 1,1 bilhão de investimentos, engloba 10 fases, das quais metade ou já está pronta ou fica pronta até dezembro deste ano.
Em um evento para investidores da empresa nesta semana em São Paulo, o CEO da empresa, Sérgio Ribas, falou sobre o projeto, e disse que a Plataforma Gaia “congrega investimentos para melhorar a competitividade da empresa".
“O foco não é só o aumento de capacidade, e sim redução de custos e melhorias, e o ciclo está quase concluído”, disse.
Dos projetos da Plataforma Gaia que estão finalizados estão o Gaia 2, que diz respeito à expansão da capacidade de embalagens em Santa Catarina, e o Gaia 8, que corresponde à compra de uma impressora de corte e vinco.
Outras etapas, Gaia 1, Gaia 3 e Gaia 7, estão praticamente prontas, com previsão, segundo a Irani, de término até o final deste ano. A primeira tem o objetivo de expandir a recuperação de resíduos, a segunda, de uma reforma de uma máquina de papel, e a última, de ampliação de uma unidade.
Por enquanto, o retorno é pequeno, mas já há alguns reflexos no balanço financeiro e operacional do terceiro trimestre da empresa listada na B3, conforme explicaram Ribas e também o CFO da empresa, Odivan Cargnin, durante o evento.
No período, a Irani teve uma queda no lucro líquido. O montante de R$ 64,6 milhões visto de julho a setembro veio 32% menor que no mesmo intervalo do ano anterior.
A baixa do indicador veio acompanhada de uma baixa também nas vendas, na receita líquida e no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), indicador muito observado pelo mercado financeiro.
Parte da queda da receita líquida, que somou R$ 407,9 milhões no período, uma redução de 7,6% na comparação com igual etapa de 2022, foi vista como consequência de um ganho de capacidade que a empresa já teve em Santa Catarina com o Gaia 2.
Com maior capacidade produtiva, os executivos explicaram que a empresa passou a contar com clientes que pagaram um preço um pouco abaixo da média. Para os próximos trimestres, o ganho de volume deve ajudar nas vendas finais.
Apesar disso, os retornos serão variados, a depender da fase. No Gaia 1, por exemplo, Ribas pontuou que o principal ganho da empresa será com energia, que será originada da queima do licor na caldeira de recuperação. A expectativa da empresa é se tornar autossuficiente na produção de energia nos próximos dois anos.
Segundo Ribas, “grande parte dos retornos” obtidos com a Plataforma já serão sentidos em 2024. Até setembro deste ano, a Irani já havia desembolsado R$ 910 milhões com a Plataforma Gaia, ou seja, faltam cerca de R$ 100 milhões para a conclusão do projeto.
Somado aos retornos, Ribas pontuou durante o evento que a projeção é de um aumento nas vendas do papelão ondulado de 1% no ano que vem, um dado que ele obteve pela Empapel (Associação Brasileira de Embalagens em Papel).
“É uma boa notícia pois os volumes estão bons, e tivemos recorde de expedição em setembro”, acrescentou o CEO.
Por enquanto, o que fica para a empresa é a alta na alavancagem, um indicador que mostra a relação entre a dívida líquida e o Ebitda, e que no terceiro trimestre ficou em 2,1 vezes, uma alta de 0,92 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2022.
“A alavancagem está em linha com as nossas projeções, mas ainda não captamos maior parte dos retornos dos investimentos da Plataforma Gaia. A alavancagem deve subir ainda um pouco mais no quarto trimestre”, comentou Sérgio Ribas, projetando uma calmaria no indicador em 2024.
A dívida líquida ficou em R$ 1 bilhão no terceiro trimestre, crescimento de 60% frente um ano antes. No mesmo período, o Ebitda ficou em R$ 133 milhões, 2,9% menor que no ano passado.
O perfil dessa dívida, que se relaciona diretamente com os investimentos na Plataforma Gaia, é variado e soma captações de recursos que a empresa fez no mercado com operações de CRA, debêntures e linhas do BNDES.
No investimento do projeto, somada a essa dívida tomada por meio de “empréstimos”, a empresa ainda usa 50% do lucro líquido para investimentos internos. Os outros 50% ficam para a distribuição de dividendos para os acionistas.
Das outras fases da Plataforma Gaia, as fases 4 e 5 buscam repotencializar rios próximos das instalações da empresa para ajudar na geração de energia da indústria, e aguardam as licenças ambientais. A expectativa com as duas fases é de aumentar mais de 200% a geração média de energia na usina.
Já as fases Gaia 6 e Gaia 9 devem ficar prontas no primeiro semestre de 2024. Respectivamente, elas englobam melhorias de processos internos e automação de estoques. Por fim, a Gaia 10 corresponde à compra de uma nova impressora, algo que deve acontecer até 2025.