Os bombardeios e mortes registrados no fim de semana, em Israel, após o ataque do grupo palestino Hamas, trouxe expectativa para os mercados nesta segunda-feira e no agronegócio não foi diferente.
O principal efeito, segundo especialistas, foi a alta de 4% no preço do petróleo, mas que não chegou a influenciar as principais commodities agrícolas nas bolsas internacionais.
Para o sócio-diretor da MacroSector, Fábio Silveira, nos próximos dias o mundo terá mais clareza sobre a possibilidade de um agravamento do cenário de desaceleração da economia global.
"Por enquanto o mercado ainda olha com expectativa favorável a situação no Oriente Médio, mas caso o conflito passe a envolver outros atores como o Hezzbolah (organização islâmica com sede no Líbano) e o Irã, a situação poderia se agravar”, alerta o economista.
Ele afirma que o patamar de US$ 88 o barril é "aceitável", já que ao longo do ano chegou a haver picos de US$ 95.
"Porém, se houver o pior cenário, sabemos que o preço de petróleo ainda pesa muito nos custos de famílias e empresas, afeta a demanda por bens e alimentos, portanto, pode sim trazer pressão de baixa para commodities agrícolas futuramente, mas ainda não são sabemos se isso vai ocorrer", disse Silveira.
O economista lembrou que o PIB mundial cresceu 3,4% em 2022 e estava sendo projetado para avançar menos este ano, próximo de 2,4%. A desaceleração é causada principalmente pelos juros mais altos e desempenho mais fraco das economias dos Estados Unidos e da União Europeia.
"Para o ano que vem se projetava uma leve melhora, mas se houver uma combinação de economia mais fraca e petróleo mais caro, as commodities agrícolas podem ser afetadas”, acrescentou.
Felippe Serigati, economista do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirmou ao AgFeed que, por enquanto, não há efeitos significativos para o agro brasileiro.
"Claro que a intensidade deste ataque, desta vez, chamou a atenção, mas conflitos no Oriente Médio não são uma novidade, talvez até por isso o mercado tenha reagido sem grandes oscilações nesta segunda-feira", afirmou.
O economista da FGV lembrou que, ao contrário da Ucrânia, Israel não possui nenhum canal logístico importante para o agronegócio mundial.
"A transmissão poderia ocorrer se houvesse realmente a ampliação do conflito para Irã e Arábia Saudita, com maior reflexo no petróleo”, ponderou.
Segatti afirma que o agro, atualmente, tem sido muito mais afetado pela condição da economia norte-americana.
"Se no final desta semana a inflação dos EUA vier alta, o impacto será maior que o conflito em Israel”, alertou. Isso ocorre, segundo ele, porque a previsão de taxas de juros altas fortalece o dólar e mantém as preocupações com o desempenho mais fraco da economia global, o que afeta as commodities agrícolas.
Grãos e fertilizantes
De janeiro a setembro deste ano o Brasil exportou US$ 570 milhões em produtos diversos para Israel. Entre os destaques da pauta agrícola estão carne bovina (21%), soja(19%) e milho (6,6%).
Os volumes de grãos, no entanto, são pouco significativos e não chegam a trazer riscos em relação aos fundamentos de oferta e demanda, conforme ocorreu quando foi deflagrado o conflito entre Rússia e Ucrânia, disseram diferentes traders e analistas de mercado ao AgFeed.
No caso da carne bovina, o analista sênior da Datagro, João Otávio Figueiredo, disse que frigoríficos não demonstram preocupação e que não há expectativa de reflexos em preços "já que o local do conflito está bem isolado e os volumes exportados para Israel são pequenos, restritos ao mercado conhecido como Halal".
O único comentário no mercado de soja e milho hoje foi a preocupação com uma possível participação mais efetiva do Irã no conflito, este sim um mercado importante para os grãos produzidos no Brasil.
“Comenta-se que os bancos devem criar dificuldades para aceitar pagamentos do Irã”, disse uma fonte de mercado.
De qualquer forma, o dia foi de poucos negócios na exportação de soja e milho, que fecharam em leve queda na Bolsa de Chicago.
O Irã também é motivo de preocupação no setor de fertilizantes já que o país é um importante fornecedor de ureia, globalmente. Caso se envolvam no conflito, analistas acreditam que poderá haver efeitos nos preços.
O Brasil também é grande importador de produtos diversos de Israel, tendo importado US$ 1,067 bilhão de janeiro a setembro deste ano. O principal produto da pauta é justamente o fertilizante, que respondeu por 44% deste valor.
Ainda assim, participantes de mercado avaliam que o volume não é tão expressivo e que os produtos de Israel poderiam ser facilmente substituídos por outros mercados caso venha a ocorrer dificuldade no fornecimento.
Uma das principais empresas do setor de fertilizantes no Brasil é a ICL, de origem israelense. A companhia informou que o conflito não provoca reflexos na produção nem na exportação de seus produtos.