Três meses. Esse foi o tempo necessário para a Aerofarms, empresa americana pioneira do setor de agricultura vertical entrar e sair da concordata nos Estados Unidos.
Em junho deste ano, a companhia entrou com um pedido de proteção no famoso capítulo 11 do código de falências dos Estados Unidos.
Agora, a empresa anunciou que abriu mão do instrumento jurídico e retomou a normalidade das operações. Para tal, comunicou, “eliminou gastos em todos os projetos que não contribuem para o crescimento da Fazenda Danville”, sua principal planta de produção localizada no estado de Virginia, incluindo a transformação de suas instalações em Newark, Nova Jersey, em uma operação de pesquisa e desenvolvimento (P&D).
De acordo com a Aerofarms, essa medida irá acelerar seu “caminho para a lucratividade”. Nos documentos oficiais do tribunal de falências, a empresa recebeu aprovação para um acordo de compra de ativos com um grupo de investidores liderados pela Grosvenor Food & AgTech.
A empresa atuou de acordo com os termos da seção 363 do Código de Falências dos EUA, e vendeu a fazenda Danville e seus ativos para uma nova companhia formada especialmente para esse fim, a AF NewCo em julho. A nova empresa tem como sócios antigos investidores da Aerofarms, como Grosvenor Food, além de INGKA Investments Ventures e o Cibus Fund.
A planta de Danville possui pouco mais de 40 mil metros quadrados de agricultura vertical, com capacidade produtiva de 3 milhões de toneladas de verduras e é uma das grandes apostas da companhia.
Além disso, a Aerofarms nomeou a veterana na área de alimentos e agricultura Molly Montgomery como CEO interina. Quando entrou em concordata, o então CEO e também cofundador, David Rosenberg, havia renunciado.
Montgomery já atuou como executiva em grandes empresas do agro americano, como Benson Hill, Wilbur-Ellis, Landec e a empresa de proteínas frescas Custom Made Meals (CMM).
Equivalente ao recurso da concordata na lei brasileira, o capítulo 11 permite ao devedor manter todos seus ativos, se opor às demandas de seus credores, adiar os prazos de seus pagamentos e até reduzir unilateralmente sua dívida. Foi nesse esquema que a gigante General Motors se apoiou, em 2009, quando atravessava uma grave crise financeira.
Ao AgFunder News, veículo de comunicação do AgFunder, fundo de venture capital com foco em agtechs, o cofundador e diretor de marketing da AeroFarms, Marc Oshima, declarou que o “capítulo 11 foi um recurso para a empresa”.
“O fato é que os investidores que têm conhecimento interno sobre o negócio principal, em termos de operações comerciais, estão aportando novamente milhões com a perspectiva de dizer que vamos nos concentrar apenas nisso”, acrescentou.
A Aerofarms já foi considerada uma das estrelas do setor da agricultura vertical. Ao todo, já recebeu mais de US$ 250 milhões em aportes de investidores, em uma série de rodadas de captação. Entre os investidores estão nomes como Goldman Sachs, Prudential Capital Partners, Ikea e ADM Capital.
Em 2021, quando a empresa tentou abrir capital via SPAC, era avaliada em US$ 1,2 bilhão. O processo não foi para frente na ocasião devido a problemas de financiamento e uma falta de interesse dos acionistas.
Em fevereiro passado, a empresa celebrou uma parceria com o governo dos Emirados Árabes Unidos para construir, em Abu Dhabi, a maior fazenda vertical para pesquisa e desenvolvimento do mundo.
Quando entrou em concordata, a empresa, que possui sede em Newark, Nova Jersey, listou entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões em passivos em uma petição arquivada no estado de Delaware, conhecido por funcionar como uma espécie de "paraíso fiscal" dentro dos Estados Unidos, em virtude dos benefícios fiscais oferecidos às empresas.