O mês de agosto foi marcado por debates importantes para o futuro do Brasil, com a realização, em Belém, no Pará, da Cúpula da Amazônia.

Há 14 anos a chamada OTCA, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica não se reunia e, finalmente, representantes dos governos e da sociedade civil de 8 países, que tem em comum as áreas de florestas para preservar, sentaram juntos para discutir os caminhos desta desafiadora jornada.

Participei, presencialmente, dos “Diálogos Amazônicos”, que aprofundaram as discussões, ao longo de vários dias, sobre como eliminar o desmatamento ilegal, preservar e defender a região amazônica, além de elaborar propostas para a COP 28, que ocorre no fim do ano, nos Emirados Árabes.

E a primeira constatação: combater a fome e pobreza na região deve ser uma de nossas prioridades. Estima-se que pelo menos 25 milhões de pessoas, considerando apenas a parte brasileira da Amazônia, hoje vivam nesta faixa, que representa 60% do território nacional.

Muito já se discutiu sobre o papel da bioeconomia neste processo. Sabemos que o incentivo a determinadas atividades, como o cultivo do açaí, da castanha, do cacau e a piscicultura, pode combinar a geração de emprego e renda com a preservação ambiental e a regeneração dos ecossistemas.

Porém, precisamos garantir que estas iniciativas estejam amarradas a projetos de extensão rural. Somente recebendo apoio, não apenas financeiro, mas de capacitação técnica, estas famílias terão condições de prosperar em suas atividades e se transformarem, definitivamente, em guardiãs das nossas florestas.

Durante o evento, instalamos oficialmente o Grupo de Trabalho (GT) destinado à recuperação de pastagens degradadas. Tive o privilégio de ser escolhida para liderar este grupo, já que integro o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, conhecido como Conselhão, mais um espaço destinado a ampliar o debate entre governo e setor privado.

O desafio de transformar as pastagens degradas em áreas produtivas também se conecta com a questão da assistência técnica. De que adianta distribuir terras e títulos, até financiar o custeio inicial de determinada atividade, se estes produtores não estiverem amplamente capacitados tecnicamente para adotar manejos adequados em suas propriedades?

Mais do que isso, precisam também de capacitação e preparo para competir no mercado e adotar modelos viáveis de comercialização de seus produtos.

Em paralelo a isso, é importantíssimo que o governo inclua nas ações que pretende implementar na região um forte programa para levar saneamento básico às famílias que vivem na região Norte do Brasil, um problema que ficou evidente ao se visitar o entorno de Belém.

Combater a fome e a pobreza extrema em locais como a Ilha do Marajó, por exemplo, que tem o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, também é condição para qualquer programa que pretenda trazer mais desenvolvimento à região.

Fica cada vez mais claro que o combate ao crime organizado, de forma coordenada, entre os países, é outra medida essencial, que precisa ser encampada por todos os governos, algo que permitirá a implementação de políticas com foco no desenvolvimento sustentável da região.

Mas não posso esquecer de outro tema importante que conecta ainda mais o universo do agronegócio com o futuro da nossa Amazônia: o papel da Embrapa. Estiveram presentes no Pará os representantes de 9 unidades "amazônicas" da Embrapa, da qual sou conselheira independente.

E lá ouvi uma frase que só reforça a confiança de que podemos avançar mais. "A Embrapa já é conhecida pela revolução que proporcionou na nossa agropecuária nos últimos 50 anos, permitindo a viabilidade dos cultivos no Cerrado e o avanço da produtividade. Queremos nos próximos anos ficar conhecidos por mais uma grande transformação, pautada pelo respeito ao meio ambiente e permitindo que a bioeconomia ajude as populações que vivem na floresta a viver com dignidade".

Caminharemos juntos, para essa revolução ESG do agro. E chegaremos lá.