Que tal investir R$ 1 hoje e receber R$ 5 dentro de três anos? Nas contas da subisidiária brasileira da Brandt, fabricante americana de insumos para a agricultura, é essa a proporção do retorno previsto para o investimento que começa a ser feito para construir uma nova fábrica no município de Cambé, no Paraná.
Uma biofábrica, para ser mais preciso. Quando estiver pronta, em dois anos, a unidade deve produzir biodefensivos, inoculantes e unidade formuladora, colocando a empresa em condição de disputar espaço no segmento que mais cresce no mercado brasileiro de insumos agrícolas.
E também gerar um impulso generoso ao caixa da empresa. De acordo com o CEO da operação brasileira da empresa, Wladimir Chaga, essa instalação deve trazer uma receita de R$ 500 milhões na safra 2025/26.
Somada à produção de químicos, a receita da Brandt Brasil deve chegar, então, a R$ 1 bilhão, montante quase três vezes maior que o projetado para este ano, de R$ 350 milhões.
Para além do acréscimo de receita, a operação de biológicos deve trazer um novo capítulo para a história da subsidiária brasileira. Segundo Chaga, a empresa está indo em linha com as discussões ambientais mais recentes, que exigem maiores cuidados no manejo e um controle das emissões de carbono.
“As principais tendências que vemos hoje no agro são a agricultura regenerativa e o mercado de crédito de carbono. Somado a isso, alguns mercados devem se fechar para empresas e agricultores que ainda trilhem um caminho ultrapassado ligado a desmatamento”, diz o CEO.
Atualmente, a operação brasileira conta com duas fábricas, uma já em Cambé, sede da empresa, e outra em Olímpia, no interior de São Paulo. Ambas, contudo, são focadas na produção de químicos.
Enquanto a nova fábrica não fica pronta, a empresa já iniciará a comercialização de biológicos, com a parceria de terceiros.
Quando a biofábrica estiver concluída, a Brandt espera comercializar produtos que o CEO considera inovadores no mercado brasileiro de defensivos biológicos. Dentre os produtos que já estão em fase de estudo, ele cita capaz de controlar a ferrugem da soja, que segundo Chaga, deve estar em até dois anos no mercado.
Outro foco dessa nova fase será os inseticidas, principalmente aqueles que auxiliem no controle de percevejo. “Estamos nesta busca e o produto que já temos em testes de laboratório é promissor”, argumenta.
Por fim, a subsidiária ainda pretende importar um produto biológico já utilizado pela Brandt americana na agricultura regenerativa. Ele explica que esse fertilizante é aplicado sobre a palha de cobertura, cuja matéria orgânica é consumida pelo solo. Ao ser incorporado, já prepara o terreno para novas plantas.
“Esse produto usado na palha pode reduzir potencialmente o consumo de NPK e de outros nutrientes”, comenta.
Para auxiliar no desenvolvimento dessas tecnologias a empresa também anunciou a aquisição de parte da AgBio, empresa de inovação em biosoluções, que já possuía linhas de pesquisas voltadas para o controle biológico de pragas, inoculantes e extratos botânicos.
De acordo com a Brandt, a AgBio será responsável pelo desenvolvimento das primeiras tecnologias que serão lançadas nos próximos anos, com produtos contendo microrganismos e formulações inovadoras e exclusivas.
Em comunicado, o gerente de produtos biológicos da companhia, Eduardo Ivan, afirmou que ainda este ano devem chegar ao mercado quatro novas biosoluções, sendo um bionematicida e um biofungicida, um inoculante solubilizador de nutrientes e dois inoculantes fixadores de nitrogênio.
A AgBio colocou para dentro da casa da Brandt Brasil uma equipe de 12 especialistas, entre mestres e doutores. Na atuação, a empresa desenvolve bioherbicidas, biofungicidas para ferrugem-da-soja e bioinseticidas para percevejo-da-soja.
Para além de se adequar aos novos tempos da agricultura, a Brandt também está de olho num mercado promissor. Até 2030, um estudo da S&P Global projetou R$ 17 bilhões no mercado de controle biológico.
Na mesma pesquisa, que contou com a ajuda da CropLife Brasil, foi constatado que, na safra 2021/22, foram transacionados R$ 3,3 bilhões em biodefensivos, um montante 219% maior que na safra anterior.
Além disso, nessa safra analisada, 28% das áreas plantadas em lavouras brasileiras utilizaram algum tipo de controle biológico.
A operação de 8 anos no Brasil é bem mais jovem que a fundada em 1953 nos Estados Unidos. Desde que estreou por aqui, já tem sob a liderança o CEO Wladimir Chaga.
O executivo, formado em engenharia agronômica pela Universidade Estadual do Maringá nos anos 1980, teve passagens pela Monsanto e pela Basf. Depois disso, montou um negócio próprio de nutrição com dois sócios.
A empreitada, chamada de Target, foi comprada pela própria Brandt quando o executivo iniciou sua jornada à frente da subsidiária.