Eleições de 2022, mudança de governo, preço de commodites descendo ladeira abaixo, bolsa de valores derretendo. Mas será que a culpa é mesmo de tudo e todos, menos de nós, produtores rurais?
Que a nossa profissão é uma das mais desafiadoras, grande parte de nós sabe. Que todos os fatores citados acima são grandes obstáculos, ninguém discorda.
Mas a reflexão que quero trazer aqui é mais profunda do que simplesmente achar culpados para as turbulências que o agro vem enfrentando e irá enfrentar nos próximos anos. Uma coisa é certa: a queda das commodites é só a ponta do iceberg.
Poucas coisas são tão certas quanto a frase: “a experiência é a melhor faculdade que existe”. O ano de 2005 jamais será esquecido por aqueles que passaram pelas tempestades que vieram com ele. Iniciei minha carreira na agricultura junto ao meu pai exatamente nesse momento.
Os anos anteriores eram bastante animadores, agricultores entusiasmados - incluo meus antecessores, pai e avô -, muitos investimentos feitos, aquisições de máquinas, planejamento novo em infraestrutura na fazenda, e por aí segue...
Qual era a garantia que respaldava e justificava tudo isso? A esperança de anos seguintes promissores! Coincidências à parte, parece que a história se repete.
Acontece que os anos que se seguiram a 2003 não foram nada positivos e animadores. Pelo contrário, uma forte crise assolou o agro do nosso país.
O Brasil conheceu a ferrugem asiática, dentre tantos outros problemas como juros altos, tributação excessiva, falta de garantia de preços mínimos, queda do dólar.
Os que vivenciaram essa amarga experiência jamais a esquecerão. E os aprendizados devem nos servir de lição.
A primeira delas é que a agricultura é cíclica. Ela passa por fases que irão oscilar em boas e ruins. O fato é que nenhuma irá perdurar para sempre.
Era sabido que toda expansão vivida no setor agropecuário, principalmente nos anos 2020 e 2021, frente a preços de commodites jamais vistos na história, não perduraria para sempre.
No entanto, a falta de gestão e planejamento fez com que muitos se aventurassem e se colocassem em situações delicadas.
Novas áreas de plantio foram abertas, exigindo investimentos muitas vezes não adequados para determinadas culturas. Além disso, tem a renovação de maquinários e a modernização de infraestrutura na propriedade, incluindo, por vezes, falta de conhecimento no manejo adequado.
Ouvi certo dia um economista dizer que os agricultores quebram na abundância e não na época de vacas magras. E ele estava certíssimo!
Tudo isso calculado a preços de commodites que despencaram de forma assustadora de um ano para o outro mudaram totalmente o cenário de lucratividade. A conta simplesmente não fecha.
Muitas coisas, de fato, na agricultura são imprevisíveis, mas o meu intuito aqui hoje é chamar a atenção para que possamos enxergar até onde vai a nossa responsabilidade frente à situação do nosso negócio.
Não se faz agricultura como meu avô e pai faziam. Existe uma infinidade de ferramentas e consultorias que nos auxiliam a mitigar riscos. A nossa propriedade rural é uma empresa e precisa ser tratada como tal.
Ouvi certo dia um economista dizer que os agricultores quebram na abundância e não na época de vacas magras. E ele estava certíssimo!
O agro vai continuar crescendo, muitos ficarão pelo caminho, mas a crise trará ótimas oportunidades para aqueles que estiverem preparados. Reclamar e buscar culpados para a situação não vai ajudar em nada.
Se prepare! Busque uma boa gestão, bons consultores e conselheiros, e esteja você do lado que está preparado para os bons negócios, inclusive em momentos de crise.
Cristiane Steinmetz é produtora rural, advogada, palestrante e empreendedora, atua em várias frentes de negócios e é co-realizadora da Rede UMA – União das Mulheres do Agro.