No mês em que perdemos o Dr. Alyssson Paolinelli, não haveria tema mais importante a ser destacado por essa coluna que a relação entre líderes e liderados e como fazer um movimento vencedor.

No canal do TED no Youtube há um vídeo de cerca de três minutos de Derek Sivers que não poderia ser mais esclarecedor. Um líder é aquele que tem a coragem de transformar um sonho ou uma visão em realidade por mais louco ou difícil que pareça.

Mas esse só será mesmo um líder quando conseguir um primeiro seguidor, pois é esse crédulo que o mudará de apenas um “louco solitário” num verdadeiro líder.

Outros se juntarão aos dois primeiros e, se saudados e recebidos como iguais, juntos atingirão o “tipping point” e o movimento estará dado.

Vejam que quanto mais pessoas se unirem, menor se torna o risco individual e maior a chance do sucesso coletivo, pois mais ideias e mais energias positivas estarão conectadas.

O líder solitário a vislumbrar uma Embrapa que mudaria o Brasil foi o então ministro Luis Fernando Cirne Lima. Esse teve logo dois seguidores de peso, Eliseu Alves e Alysson Paolinelli, que saudaram, formaram e receberam os demais participantes como iguais e partes integrantes de um único sistemas de construção.

O resultado todos sabemos: a maior revolução agrícola já vista nos trópicos desse planeta que transformou o país de importador a exportador de alimentos. Alysson foi o amalgama desse processo.

A morte de Dr. Alysson Paolinelli também esboça, de forma cruel, o deserto de lideranças no Brasil atual. Quem é ou são os líderes do Agro, da indústria, da mineração, dos serviços, do ambientalismo, da saúde ou da política?

Passamos a glorificar como líder aquele que ocupa uma posição mais alta na concorrente cadeia alimentar da competição humana. Mas nem sempre por sua competência, intelecto ou capacidade de evoluir e quebrar paradigmas.

Está aí nosso problema e nossa fraqueza.

Estamos sempre voltando ao mesmo lugar, cada um apontando a responsabilidade a outro, sem uma obra conjunta que faça diferença.

Por isso, as grandes reformas estruturais de nosso país não ocorrem ou saem pela metade.

Nada mais difícil de se mudar que a cognição individual, pois como evoluir se valores e crenças pessoais passam a ser mais importantes que as coletivas?

No campo das crenças e valores individuais nascem os pseudolíderes populistas, os que vendem a vida com facilidade, entortam a liberdade e a democracia como frágeis fios de arames e, ao fim, sem saída, viram ditadores ou são meramente enterrados pela história. Esses lotam o nosso cotidiano.

No campo das transformações coletivas, como as produzidas por Alysson Paolinelli na agricultura brasileira, nascem líderes verdadeiros e pragmáticos. Geralmente de personalidades fortes e marcantes, pois nada cresce apenas da suavidade, no peleguismo ao governo de plantão, na moda ditada por movimentos cíclicos, extremos ou de curta duração.

A história mostra que a inteligência que lidera reside na avenida central das ideias, pois como na teoria da ferradura, os extremos, por mais diferentes que se vendam, acabam se encontrando no cruzamento das retas num dado espaço do tempo. São farinhas do mesmo saco, vendidas por sinônimos tão frágeis quanto as teorias que defendem.

Líderes também nascem também quando o alinhamento das estrelas aponta para uma ou mais ocasiões num mesmo espaço de tempo. E esse parece ser mais uma vez o caso do nosso Brasil.

Após um longo período em que pensamentos que poderiam proporcionar ganhos coletivos foram substituídos por individuais na base mais baixa possível, isolando nosso país como antes só vimos durante a época mais dura do governo militar, oportunidades se abrem aos montes.

Em agosto próximo seremos a sede da Cúpula da Amazônia, evento que não acontecia há 10 anos e dará chance para o Brasil restabelecer uma importante liderança regional que foi perdida na relação com os países Pan-Amazônicos.

Ninguém é líder mundial sem liderar seus vizinhos, essa é a regra mestre de qualquer estudo sobre formação de imagem.

Ninguém é líder mundial sem liderar seus vizinhos, essa é a regra mestre de qualquer estudo sobre formação de imagem.

Essa liderança será crucial durante à presidência do G-20, que o País assume logo depois da cúpula, no mês de setembro, e onde terá a chance de introduzir os temas “alimentos e florestas”, pontos fortes do Brasil como carro chefe dessa gestão.

Alimentos, no conceito amplo, subentende segurança alimentar, combate à fome, tecnologia, distribuição e renda. Já florestas se conectam a cobertura vegetal, chuvas, rios e biodiversidade.

Juntos, no conceito agroambiental, alimentos e florestas significam bem-estar social, ambiental, econômico, carbono, território, serviços ambientais, energia, e, por que não, no contexto universal, a VIDA.

O mar de oportunidades e desafios continua até a realização da COP 30 em Belém do Pará, quando devemos receber na Amazonia mais de 120 chefes de estados. E, com eles, toda a elite econômica mundial.

Se para o bem ou para o mal, só dependerá de nossa liderança e competência. Quem serão nossos líderes nos diversos comitês do G-20, nosso “champion” e o presidente da COP.

Alguém que representa um ou outro setor da sociedade, da política ou alguém que consegue perpassar a todos, sabe falar com indígenas e industriais, agricultores e ambientalistas, quilombolas e acadêmicos, chineses e americanos, latino-americanos, africanos e europeus, numa visão de conexão dos diversos elos da sociedade nacional, internacional e na integração do Brasil no contexto da nova agenda climática da próxima década, que saíra da COP do Brasil, em Belém?

Líderes da primeira visão são geralmente glorificados, quando na verdade é o primeiro seguidor e os subsequentes que deveriam receber essa glória.

Líderes da primeira visão são geralmente glorificados, quando na verdade é o primeiro seguidor e os subsequentes que deveriam receber essa glória.

São eles que entregam sua confiança, trabalho e energia nessa liderança, como provou o Dr. Alysson. Então, se quer mesmo construir algo novo, tenha coragem de seguir alguém que valha a pena e o transforme num líder, não esquecendo de trazer outros seguidores para fazer o mesmo em trabalho coletivo.

O Brasil espera e necessita. Quem se habilita?

Marcello Brito é coordenador do Centro Global Agroambiental e Academia do Agro na Fundação Dom Cabral (FDC).