Parece soja, e de fato é. Mas com alma, sabor e DNA de porco. Essa descrição nada convencional cabe para uma nova variedade do grão que acaba de ser apresentada pela startup Moolec, nascida na Argentina, sediada no Reino Unido e com ações negociadas na Nasdaq, a bolsa eletrônica dos Estados Unidos.
Batizada provisoriamente de “Piggy Sooy” (a soja-porquinho, numa tradução livre), a inovação é o ponto alto de uma trajetória que colocou a empresa, de apenas três anos, com status de unicórnio – foi avaliada em US$ 1,2 bilhão em sua estreia no mercado, em dezembro passado.
Fundada em 2020, como uma spin-off da empresa de biotecnologia argentina Bioceres, em parceria com o CEO, Gastón Paladini, a empresa afirma ter desenvolvido uma tecnologia para incluir códigos de DNA de genes de proteínas animais dentro do genoma de plantas comestíveis.
Com isso, seria possível reproduzir, em alimentos à base de plantas, características como “sabor, a textura e os valores nutricionais” de produtos de origem animal.
No caso da Piggy Sooy, o DNA de um grão de soja foi geneticamente modificado para incorporar proteínas suínas que podem ser aproveitadas por indústrias de carnes alternativas à base de plantas.
“No final das contas, estamos replicando o que a natureza faz em um animal dentro de uma planta”, disse Paladini em entrevista à revista americana Fast Company.
A Moolec tem mais de 20 patentes de ingredientes vegetais. Dois de seus produtos foram desenvolvidos com base na tecnologia de modificação de DNA de plantas para expressarem características de produtos animais.
Do açafrão, por exemplo, estão extraindo quimosina, proteína presente no leite usada para a produção de queijos. O outro produto é um óleo, à base de ácido gamalimolênico, obtido em vegetais e leguminosas.
Paladini cresceu em uma família de empresários argentinos do setor de frigoríficos. Hoje, aposta em alternativas ao negócio familiar. Ele promete “lançar proteínas de carne de culturas geneticamente modificadas no final de 2024, início de 2025”, segundo o site da empresa.
Seu maior foco agora são as modificações justamente na soja e nos pulses, grãos utilizados em larga escala pela indústria de produtos plant based.
“A beleza da tecnologia da Moolec é que, na verdade, a única coisa que estamos modificando é apenas a semente, bem no início da própria cadeia de valor, e a biologia e a infraestrutura atual fazem o resto”, diz Paladini.
Para ele, seu processo possibilitaria reduzir significativamente o custo de produção das proteínas alternativas, deixando-as em paridade de preço com a proteína animal tradicional.
Isso porque, com sementes modificadas, bastaria substituir parte da área atualmente plantada com as grandes culturas, hoje em grande parte usadas justamente para produzir alimentos para a nutrição de rebanhos.