A presença do agronegócio no mercado de capitais segue crescendo, mas o primeiro semestre deste ano mostra uma quebra no ritmo de evolução, o que poderá levar a uma "seleção natural".

A avaliação é de Pedro Fernandes, diretor de Agronegócio do Itaú BBA, ao comentar a piora no desempenho de alguns fundos ligados ao setor no mercado como um todo, afetados por ativos com dívidas elevadas e risco de inadimplência, até mesmo em meio a casos de recuperação judicial.

"Nenhum representou uma grande perda de patrimônio para os investidores, mas ainda assim a remuneração ficou prejudicada", afirma o executivo.

Na opinião de Fernandes, este é um processo que também ocorreu com os fundos imobiliários, lançados em 2010. "Na época surgiram muitos gestores e depois houve uma seleção natural daqueles que tiveram desempenho melhor. Por isso acho natural que isso também aconteça nos Fiagros, é um amadurecimento, eles estão indo muito bem", avaliou.

Ainda assim, acredita que 2023 como um todo será um ano de cautela e que dificilmente veremos a retomada dos IPOs de empresas no agro no curtíssimo prazo. "A tendência é que outros segmentos mais atuantes se arrisquem primeiro e na sequência o agro acompanhe, quando houver a retomada", acrescentou.

A queda nos preços de diferentes commodities agrícolas e a mudança de direção da taxa de câmbio são alguns dos fatores que pegaram de surpresa uma parte dos empresários do setor – o que respingou em gestores menos acostumados com as instabilidades da agricultura.

Fernandes lembra que a quebra de ritmo está relacionada a questões conjunturais, não específicas do agro, já que o cenário nos últimos meses foi de aumento na aversão ao risco. Houve um volume de saques importantes dos fundos de crédito, o que afetou de maneira geral os fundos de renda fixa, “mas o agro em menor escala".

O resultado deste cenário está sendo a decisão de muitas empresas em estender os prazos de implementação dos planos de expansão. “Muitas apostam no projeto de pagar dívida, ficam mais líquidas, para quando houver um momento de juros mais favoráveis, retomar o ritmo dos investimentos".

Apesar do cenário adverso, o diretor do Itaú BBA garante que o banco seguiu avançando na carteira agro e está atingindo as metas propostas. "Começamos o ano com R$ 75 bilhões e a previsão era crescer entre 20% e 30%", diz.

Durante o evento One Agro, promovido pela Syngenta, o CEO do Itaú BBA Flavio Souza, afirmou que volume já alcançou R$ 90 bilhões, o que sinalizaria 20% de crescimento nos primeiros seis meses do ano.

Apesar do cenário de desaceleração de investimentos e queda de preços nas commodities, Pedro Fernandes explica que o Itaú BBA seguiu avançando porque vem conquistando novos clientes, agregando novos segmentos que estão em expansão, entre eles, o etanol de milho, um grande tomador de recursos ultimamente.

Lembra ainda que houve um aumento da área plantada no país, elevando a demanda pelo custeio, com melhora nos preços relativos – a relação entre o preço da soja e o custo dos insumos, por exemplo, ficou mais favorável ao agricultor, se comparada há um ano.

Novas linhas com foco na sustentabilidade

O Itaú deverá lançar em breve uma linha com incentivos para maior eficiência energética nas propriedades rurais, disse Fernandes ao AgFeed.

A expectativa é de que seja um modelo semelhante à recém-lançada linha de crédito para financiar a compra de bioinsumos em que se utiliza a CPR – Cédula de Produto Rural. Caso o insumo seja biológico, há uma redução na taxa de juros, que não chegou a ser detalhada pelo banco.

"Nesta linha de eficiência enérgica o foco é o crescimento dos projetos de energia solar no campo e o prazo de financiamento será mais longo, em função do tipo de investimento", adiantou Fernandes.

Além destes produtos, o Itaú já trabalha outras iniciativas com foco em agricultura regenerativa – uma delas é um programa em parceria com a Syngenta, chamado Reverte, com foco em recuperação de áreas degradadas.

Também há uma linha que ofereceu vantagens financeiras para produtores que estivessem preservando áreas de vegetação – reserva legal - acima do percentual estabelecido pela legislação brasileira.

"A vantagem não é apenas o juro mais baixo, acaba ajudando o produtor a ser reconhecido, a mostrar aos compradores que ele se destaca em boas práticas", diz.

Ao mesmo tempo, o Itaú avalia que o tema da sustentabilidade será uma das alavancas do agro – e dos negócios do banco – no médio prazo.

Pedro Fernandes destaca neste cenário o grande potencial dos biocombustíveis avançados, principalmente a expectativa de uma demanda crescente pelo SAF, o biocombustível de aviação que poderá mexer com o mercado mundialmente, além do crescimento do biometano.

“Pode ser a nossa próxima revolução no agro brasileiro, influenciando diferentes cadeias”, afirmou o executivo do Itaú.