Especializada na antecipação de recursos para pecuaristas, a startup paulista @Bank pretende lançar ainda este ano um Fiagro para financiar seu crescimento. Lançada em dezembro passado, a empresa – que se define como “banco digital do pecuarista para o pecuarista”, iniciou suas operações com o lastro de um FIDC e, em apenas cinco meses, já movimentou mais de R$ 10 milhões em negócios e prevê chegar a R$ 50 milhões até o final de 2023.

“Dinheiro por dinheiro, existem muitas alternativas no mercado. Nós tivemos que trazer o dinheiro com uma cara diferente. É claro que o final do caminho é o crédito, mas temos uma roupagem diferente, com agilidade e informações na plataforma”, afirma Carlos Pimenta, CEO do @Bank.

A informação foi antecipada por Pimenta e o sócio e presidente do Conselho de Administração da empresa, Marcos Viriato, ao podcast Rural Ventures, apresentado por Fernando Rodrigues, CEO da Rural Ventures, e Kieran Gartlan, sócio e responsável pela operação no Brasil da Yeld Lab, gestora americana especializada em fundos para investimento em agtechs e foodtechs.

A @Bank opera através de um aplicativo, onde o pecuarista que negocia com confinadores parceiros pode ter acesso a informações zootécnicas e do mercado de bois para fazer a gestão e monitorar seu rebanho e, por fim, tomar crédito para operações.

“Quando vou apresentar o negócio em apresentações, começo falando que possuímos três apelos: trazer tecnologia para o pecuarista, levar informações zootécnicas e trazer dinheiro”, explica Pimenta.

Na concessão do crédito, o pedido feito pelo produtor é geralmente o de um adiantamento por uma venda futura ao frigorífico. Dentro desse processo, a agfintech faz uma análise de mercado e até ajuda o pecuarista a fazer hedge, se for o melhor cenário.

O aplicativo do @Bank utiliza informações regionalizadas de preços para calcular a tendência de preços futuros, já que, após a entrega dos bois ao confinamento há o prazo de engorda (em média de 90 dias) até a venda ao frigorífico e o abate. O valor a ser antecipado ao produtor, assim, é baseado na projeção do que se espera para o mercado ao final do ciclo.

“Fazemos uma análise de mercado, e traçamos até um cenário pessimista em algumas vezes”, pontua Viriato. “Se fizéssemos a antecipação com base no valor no momento solicitado, em caso de uma queda de preços o pecuarista poderia ter um problema para pagar depois”.

O recurso para esse crédito é originado pelo FIDC do @Bank, administrado pela gestora Patrimonial. O fundo é exclusivo para investidores profissionais, ou seja, aqueles com R$ 10 milhões atestados por declaração própria ou que possuem autorização de atuação concedida pela CVM.

A ideia para a criação do @Bank surgiu quando Viriato era investidor de uma outra startup criada por Pimenta, a Edafo Pec. No negócio, especializado em engorda de bois em confinamento, eles recebiam demandas de pecuaristas para antecipação de recursos quando os bois eram confinados.

Na época, os dois faziam a antecipação de forma individual, mas enxergaram potencial em transformar essa dor do pecuarista em um negócio.

Para a estruturação do negócio, que faz parte de um grande ecossistema de agfintechs no Brasil, foram captados R$ 6 milhões no início das atividades. O dinheiro veio de conhecidos dos executivos, num esquema “family and friends”, como diz Viriato. A principal fonte de receita do @Bank, segundo os sócios, vem da taxa de comissão do fundo, como se fosse um spread.

“Nosso app contém as informações do gado do pecuarista, junto com preços da arroba no mercado, do milho e do dólar. Colocamos serviços de conta de pagamento, temos imagens do gado, colocamos a rentabilidade do lote e ganhos de peso com informações do sistema de confinamento”, explica Viriato.

A proposta, com todas essas informações, é auxiliar o pecuarista a tomar decisão do melhor momento de vender ou de fazer hedge com o produto. Na outra ponta, existe o crédito financeiro que pode auxiliar esse fazendeiro a comprar novas cabeças de gado, por exemplo, ou realizar outros financiamentos.

Esses animais precisam atender todas as normas do Ministério da Agricultura e da Pecuária (Mapa) em relação a rastreabilidade, uma exigência que se tornou padrão nos grandes frigoríficos.