Precisou que uma cooperativa de canavieiros de Pernambuco enfrentasse uma crise de solvência para que o cooperativismo do Estado pudesse começar um novo processo de fortalecimento. O ponto de partida é a criação de uma central.

A crise atingiu a Agrocan, que vinha gerindo a Usina Pumaty, em Joaquim Nabuco, desde 2014, mas perdeu o arrendamento por dívidas com os proprietários. Em seu lugar entrará a CoafVale, cooperativa criada para esse fim a partir das experiências de sucessos de outras duas Coafs.

A nova cooperativa viabilizou a formação da Central Coaf,  negócio que estava em gestação e que agora está à espera apenas da publicação da ordem de despejo definitiva pelo Tribunal de Justiça, que indeferiu recurso da Agrocan para se manter no comando da Pumaty.

Duas tentativas anteriores de formação da central remontam às safra 2015/16 e, mais à frente, à safra 2020/21. Nessas datas, como lembra o presidente da CoafVale, Carlos Antônio César de Albuquerque Filho, nasceram, respectivamente, a Coaf e a CoafSul, sobre as cinzas de outras indústrias tradicionais em ruínas.

A primeira arrendou a Usina Cruangi, em Timbaúba, na Zona da Mata Norte. A segunda toca a Usina Estreliana, em Ribeirão, no Sul pernambucano.

“Conseguimos recuperar as empresas, mantivemos milhares de pequenos e micros produtores no negócio, e batemos recordes de produção com gestão eficiente e tecnologias”, explica Alexandre Lima, presidente da Coaf.

Lima é uma espécie de patrono do novo empreendimento com a Usina Pumaty, tanto quanto o foi dos anteriores. Também presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), ele intermediou a formação da CoafVale e a negociação com a Pumaty.

Enquanto a nova gestão da usina vai demandar cerca de R$ 50 milhões na recuperação do parque fabril e em parte das terras próprias, os meios para a formação da Central Coaf começarão a ser desenvolvidos, segundo o presidente Albuquerque Filho, também presidente da CoafSul.

A união de forças se dará em todas as frentes. “Vamos promover compras em conjunto, de modo a baratear nossos custos com maior poder de negociação com fornecedores, e unir a comercialização mantendo as vantagens regionais de cada uma delas”, acrescenta o empresário, conhecido por Cacá.

A Pumaty tem capacidade instalada de cerca de 1,8 milhão de toneladas de cana, mas só moeu 801 mil toneladas na safra nordestina recente, cujo período vai de setembro a fevereiro. A CoafSul já chegou a 507 mil toneladas, produzindo somente etanol, em sua terceira safra depois do arrendamento, crescendo à razão de 40 mil toneladas a cada uma, e com mais 1,8 mil cooperados.

A Coaf pioneira alcançou 1,053 milhão de toneladas, depois de abraçar a Cruangi, há sete safras, em 291,3 mil toneladas. Na recente temporada, a usina praticamente só produziu açúcar, em torno de pouco mais de 1 milhão de toneladas, depois da crise do etanol do segundo semestre de 2022, de acordo com seu presidente.

Nesse período, quase dobrou o número de cooperados fornecedores para 523, em uma área de cana menor que a do Sul de Pernambuco, mais vocacionado para a produção canavieira e com um regime de chuvas mais colaborativo.

O esforço de criação da Central Coaf passará por trazer a confiança dos cooperados da Agrocan, que com as sucessivas faltas de pagamento foram abandonando a cooperativa, assim com muitos fornecedores não cooperados.

“E fazer com que eles passem investir em cana e, aos poucos, a recuperar ao menos parte dos prejuízos tomados”, acrescenta Cacá, o presidente da cooperativa recém-criada.

Esse pessoal está carregando R$ 11,5 milhões devidos pela Agrocan, ao passo que os arrendadores da Pumaty, representados pelo diretor-presidente Gregório Maran, têm a receber cerca de R$ 20 milhões.