O Brasil possui hoje mais de 70 milhões de hectares em áreas cultivadas. Destas, cerca de 8,5 milhões adotam a irrigação nas lavouras.

Por isso, o potencial para a instalação de novos projetos do gênero é enorme, o que faz do País alvo de cobiça para as grandes empresas do setor.

Em final de processo de fusão, duas delas, as multinacionais Rivulis e Jain Irrigation (que tem sede na Índia e 33 fábricas espalhadas por quatro continentes), já começaram a falar como uma só por aqui e tem sede de novos contratos.

As empresas fecharam o acordo no meio do ano passado, mas a transação precisava da aprovação de órgãos de defesa da concorrência em 12 países.

Este passo foi finalizado no final de março, gerando uma empresa com faturamento global anual de US$ 700 milhões.

“Estamos de olho no Brasil, o potencial é grande. Além dos atuais 8,5 milhões de hectares com cultura irrigada, temos mais 15 milhões de hectares em que já há disponibilidade para implementação da irrigação”, afirma Alfredo Mendes, gerente geral para América Latina da Rivulis.

O movimento segue a estratégia da Temasek, fundo de investimento de Cingapura que adquiriu a empresa há dois anos, e que tem um portfólio com valor superior a US$ 400 bilhões.

A Rivulis terá 78% de participação na nova empresa, enquanto a Jain ficará com os 22% restantes.

Mendes acredita que a capacidade de instalação dos sistemas no Brasil fica entre 500 mil e 1 milhão de hectares por ano.

“É um potencial de médio prazo, pois para atingir essa área já mais estruturada, levaria no mínimo 15 anos”.

O executivo diz que a irrigação poderia atingir cerca de 60 milhões de hectares no Brasil no longo prazo.

Mas na maior parte desta área, seria necessária a implementação de estruturas mais básicas, como fornecimento de água e energia elétrica.

O mercado de irrigação movimenta cerca de R$ 5 bilhões no Brasil, afirma Mendes. Depois da fusão com a Jain, a participação de mercado da nova empresa no Brasil chegará a 25%, ficando atrás somente da Netafim, empresa israelense que atua no país.

Mendes afirma que o mercado de distribuição de peças e de manutenção é bastante pulverizado no Brasil, pelo caráter regional e por atender pequenos produtores. As duas maiores, porém, acabam ficando nas mãos das duas maiores.

Entre as oportunidades de expansão no mercado brasileiro, o executivo cita como exemplo a região Sul.

Na safra 2022/2023, em virtude de uma estiagem prolongada houve redução de 30% na safra de soja e de 40% na de milho verão no Rio Grande do Sul, segundo informações da Emater-RS, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado.

“Sem dúvida é uma oportunidade. Já notamos um desenvolvimento grande na região, especialmente na irrigação com pivôs centrais”, afirma Mendes.

Ele ressalta que, além de evitar os efeitos da seca, a irrigação permite que o produtor utilize a mesma área para viabilizar duas ou até três safras por ano.

“O produtor pode plantar, por exemplo, soja no verão, milho na safrinha e feijão no inverno”.

O grande potencial de crescimento da Rivulis no Brasil, no entanto, está na região Centro-Oeste. “Por lá, já está começando a cultura com irrigação de gotejamento em campo aberto, em plantações de soja, milho e cana. Mas há espaço também para o sistema de pivô central”, diz Mendes.

Eficiência ambiental

O sistema de gotejamento, segundo Mendes, é mais eficiente no que diz respeito ao consumo de água, energia e fertilizantes.

“A irrigação é feita por um sistema que fica 30 centímetros abaixo da superfície, e atua diretamente na raiz das plantas”, explica.

O executivo da Rivulis admite que há dificuldades em conseguir as licenças e outorgas necessárias para viabilizar a irrigação.

“Mas a partir daí, temos uma possibilidade de reutilização da mesma área para diversas safras ou culturas, o que evita a necessidade de exploração de novas áreas”.

O setor é constantemente relacionado ao uso indiscriminado de recursos hídricos, insumo cada vez menos abundante em várias regiões do mundo.

Sobre essa preocupação, Mendes acredita que é preciso melhorar a comunicação sobre como funcionam os sistemas de irrigação.

“A irrigação é uma usuária, não uma consumidora de água. Os sistemas devolvem aos sistemas hídricos quase a totalidade do que utiliza, por meio de evaporação e precipitação”, afirma.

Na visão do executivo, é preciso acabar com o mito de que a agricultura é uma grande consumidora de água.

“O consumo humano total utiliza 3% da vazão total dos rios no Brasil. E a agricultura se utiliza de pouco mais da metade deste total”.

Mendes afirma que todos os processos de outorga para montar um sistema de irrigação no Brasil são muito rigorosos. Além disso, lembra que a devolução da água à natureza, mesmo em áreas de estiagem, tem resultados efetivos.

“Se não voltar para aquela bacia hidrográfica onde está localizado o sistema, a água acaba caindo em outra bacia”, diz.