A alternância entre períodos de safras fartas e rentáveis e anos de margens estreitas e perdas faz parte da vida dos produtores. Por isso, não é de se espantar que, ao final de um ano de dificuldades para agricultores e pecuaristas e com a chegada de uma safra já marcada por desafios climáticos, empresas do setor promovam anúncios de novos investimentos.
De olho em um novo ciclo positivo, talvez em um prazo não tão longo, a indústria utiliza esses momentos para estar mais preparada quando a demanda voltar forte.
Nesta terça-feira, 5 de dezembro, por exemplo, a multinacional da área de fertilizantes Yara comunicou que fará investimentos na ordem de R$ 90 milhões em sua fábrica localizada na cidade de Sumaré, no Interior de São Paulo.
Em almoço com jornalistas em São Paulo, o presidente da filial brasileira da empresa, Marcelo Altieri, disse que os recursos serão aplicados na instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento junto à atual planta, que produz cerca de 40 milhões de litros anuais de fertilizantes, entre solúveis de solo e foliares.
“Agricultura sustentável não é mais suficiente, só serve para manter o que está aí”, afirmou Altieri. “Queremos ir a um patamar diferente, devolver à natureza o que extraímos ao longo do tempo”.
Segundo o executivo, cerca de 50 profissionais estão sendo contratados para atuar no novo centro, que deve concentrar seus esforços em produtos voltados para agricultura regenerativa.
“Para gerar o sistema agrícola regenerativo precisamos de tecnologias que fixem carbono no solo. Esse time vai entender melhor as necessidades nutricionais e desenvolver fertilizantes para complementar a demanda”, disse.
De acordo com Altieri, o desenvolvimento deve reforçar a oferta de produtos na linha Yaravita, com novidades em breve. “Essa linha é uma oportunidade para acessarmos um número maior de agricultores, influenciando com boas práticas agrícolas e gerando um sistema com durabilidade.”
A planta de Sumaré atualmente é voltada para o mercado externo e para a exportação. A previsão da empresa, segundo o presidente, é que o mercado brasileiro absorva toda a produção ao longo dos próximos anos.
O investimento se soma ao aporte de R$ 100 milhões feito na mesma planta em 2018. Altieri lembrou que, somando todas as fábricas, a Yara aportou R$ 15 bilhões de reais investidos no Brasil nos últimos 10 anos.
“Todo investimento que fizemos ao longo tempo é porque acreditamos no potencial brasileiro”, disse. Ele acredita que, a despeito do ano mais complexo, o mercado vai seguir crescendo, sobretudo em demandas com produtos com maior apelo sustentável.
O executivo ressaltou, porém, que o ritmo dos investimentos aqui poderia ser até maior caso houvesse mais confiança da indústria nas políticas de transição energética.
“Temos que trocar ou renovar nosso plano estratégico de fontes de energia para renováveis”, disse. Ele afirmou que, recentemente, a Yara fez um investimento de US$ 4 bilhões para produção de amônia verde nos Estados Unidos como resposta ao anúncio, pelo governo americano, de mecanismos de incentivo em função do controle de inflação.
“O marco regulatório, lá, compensa investimentos. No Brasil, falta esse marco que contribua nesse sentido” com os investidores.
Ainda assim, a empresa avança nos planos para também produzir amônia verde no Brasil, a partir de sua planta em Cubatão, no litoral de São Paulo.
A unidade recebeu aportes para a implementação de uma tecnologia de catalisadores que reduzem emissões no processo produtivo. Com isso, segundo Altieri, os fertilizantes já saem de lá com 50% menos emissões.
No próximo ano, deve entrar em escala comercial a linha de fertilizante de ultra baixo carbono, que tem como insumo justamente a amônia verde, produzida com energia gerada por biometano.
Graças a um acordo com a Raízen, o gás produzido no interior de São Paulo será transportado até Cubatão por uma linha de dutos exclusivos. As adequações da planta já foram feitas para recebe-lo.
“É um grande passo para o Brasil, que irá produzir a amônia verde antes das plantas da Yara na Europa” afirma Altieri. A novidade tem, no entanto, preço mais alto. Segundo ele, o biometano é de 30% a 40% mais caro que o gás de origem fóssil.
“Com eficiência, no futuro, podemos melhorar isso. Trata-se de um investimento em uma indústria que não existia”, disse.
Altieri comemorou, ainda, a finalização de outro investimento, de R$ 500 milhões, no complexo da empresa em Rio Grande (RS), para ampliar a produção em 1,1 milhão de toneladas de NPK. A partir do trimestre passado, a unidade passou a operar com 100% da sua capacidade.
Para 2024, o presidente da Yara no Brasil acredita que o mercado deve se manter em crescimento. Ele estima que 2023 deve fechar com um consumo total de 44,6 milhões de toneladas, contra 41 milhões de toneladas do ano anterior.
Segundo ele, embora haja perspectiva de uma redução de área plantada de soja e milho, as duas maiores culturas agrícolas do País, elas se manterão nos mesmos patamares de rentabilidade pré-pandemia.
“Não vejo explicação para o mercado não crescer”, diz. “Seguimos enxergando um mercado dinâmico e com constante crescimento nos próximos anos”.