Plantadas no solo de Sinop, uma das capitais da produção agrícola no Mato Grosso, 124 estacas de concreto são o primeiro sinal visível de uma cultura diferente, que deve modificar a paisagem da região nos próximos anos.
Serão cinco anos de trabalhos até a colheita, prevista para março de 2029. Então, se tudo correr como o previsto, brotará ali um complexo imobiliário com valor geral de venda (VGV) estimado em R$ 3 bilhões, o primeiro com a grife internacional World Trade Center (WTC) destinado ao agronegócio e o sexto a ser desenvolvido no Brasil.
Mais de R$ 1 bilhão devem ser investidos no projeto, que começou a ser desenhado há cerca de três anos e que será uma espécie de marco das transformações que o dinheiro trazido pela soja e pelo milho provocou na região nos últimos anos.
Conhecido como capital do Norte do Mato Grosso, o município de Sinop viu a sua população crescer 73% em 12 anos, sendo hoje o quarto mais populoso do estado.
De acordo com o Censo 2022, o último divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população residente passa dos 196 mil habitantes. Em 2010, eram 114 mil habitantes, contra 74,8 mil em 2000. Desta forma, Sinop viu o número de habitantes saltar 162% em duas décadas.
Novos moradores chegaram de várias regiões do País atraídos pela demanda por trabalhadores, impulsionada pelo crescimento explosivo da produção agrícola.
Um levantamento divulgado no ano passado pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa) apontou Sinop entre as 100 cidades mais ricas do agronegócio brasileiro. O município tem Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$ 64,6 mil, segundo levantamento de 2021 do IBGE.
Com o crescimento acelerado, Sinop assiste também a um forte aumento da demanda por diferentes produtos e serviços. E no setor imobiliário, que vem mostrando pujança, a tendência de verticalização vem chamando a atenção de incorporadoras de diversas regiões do País – e mesmo de fora dele.
O WTC Sinop é a mais clara confirmação desse processo. A marca global está presente em mais de 90 países e presente no Brasil há quase 30 anos.
Foi atraída para a região por uma empresa catarinense, a Haacke Empreendimentos, cuja sede está em Balneário Camboriú, cidade litorânea famosa por seus arranha-céus luxuosos com vista para o mar, que fazem sucesso entre grandes produtores rurais do Centro-Oeste.
“Nos deparamos no Mato Grosso com um mercado imobiliário em alto crescimento e identificamos a falta de empreendimentos de alto padrão”, afirma ao AgFeed o diretor comercial da Haacke Empreendimentos, Douglas Haacke.
“Entramos no estado com um projeto residencial que teve um sucesso magnífico de vendas e avançamos com um empresarial”.
O complexo será erguido em um terreno de cerca de 37 mil metros quadrados, fornecido pela construtora G. Pissinatti, a parceria local de execução da obra. O projeto total prevê a construção até sete torres, divididas em hotel, residências e outras atividades comerciais.
O WTC Sinop ocupará o edifício comercial central com 25 andares e 106 metros de altura e seguirá o padrão internacional da marca com sede em Nova York, que precisou avaliar o projeto para permitir o uso de sua grife.
Segundo Haacke, o prédio deverá ser um dos mais tecnológicos do País, em linha com as exigências das mais de 300 unidades do complexo de negócios.
As obras do World Trade Center de Sinop ainda estão na sua fase inicial, com o preparo do terreno e o princípio de execução dos alicerces. O prédio abrigará 180 salas comerciais, mais de 420 vagas de garagem, terraço com restaurante panorâmico, térreo com lojas e praça de alimentação, espaços de convivência, festas e eventos, além de muita tecnologia.
“Pelo escopo do projeto, fomos atrás de uma marca para agregar valor ao produto e nos deparamos com o WTC. Foi um desafio grande, fruto de muita dedicação e trabalho, por ser uma empresa internacional”, diz Haacke.
“A nossa ideia, ao ir para Sinop, é nos conectarmos com o mundo do agronegócio. Entendemos que lá é um mercado de grande valor e seria a nossa conexão com o Centro-Oeste, capital do agro no País, comenta a presidente do WTC Sinop, Daniella Abreu, ao AgFeed.
“Sinop é um centro de negócios, inclusive internacionais. É uma estratégia bem pensada porque a ideia é ser ponte entre o agronegócio brasileiro e o mundo”.
Além do WTC Sinop, Abreu preside outras unidades da marca no Brasil, em Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Joinville (SC) e Brasília (DF). Há quase 30 anos no País, a primeira unidade do WTC foi inaugurada em São Paulo.
Além da capital paulista, nas próximas semanas, uma unidade será inaugurada em Goiânia (GO). O complexo de negócios ainda tem unidade em São Paulo e projetos em desenvolvimento em Uberlândia (MG).
“Nós saímos de São Paulo para regionalizar o conceito do WTC no Brasil, entendendo que o País tem vários mercados muito relevantes e que essa conexão com as outras 322 unidades pelo mundo é importante”, ressalta a executiva da marca norte-americana.
Daniella Abreu explica que o WTC trabalha com três pilares de negócios, sendo o “Business Club”, que compreende reuniões empresariais de engajamento sobre negócios, investimentos e comércio exterior, etapa já realizada em Sinop, desenvolvimentos imobiliários (Real Estate) e o “Internacional Trade”, uma plataforma que movimenta o comércio exterior por meio de investimentos.
Verticalização de Sinop
Com a expansão da população e da economia, como também um mercado imobiliário efervescente, recentemente Sinop ganhou uma nova legislação de edificação, o que permite a construção de mais prédios.
Atualmente, o prédio mais alto da cidade tem 17 andares e, em processo de verticalização, deverá ganhar prédios ainda mais altos, como o WTC.
Atuante no setor da cidade, o gerente comercial da G. Pissinatti, Washington Lima, detalha que, como em boa parte das cidades brasileiras, não está barato adquirir um imóvel na chamada “capital do Nortão”. Segundo ele, o metro quadrado de imóveis comerciais tem preço médio de R$ 16 mil para compra e venda.
Contudo, no WTC, o AgFeed apurou que, pelo valor agregado, o preço médio é de R$ 17 mil o metro quadrado. O empreendimento contará com salas de 72 a 98 metros quadrados. Sendo assim, o valor de uma sala poderá variar entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,6 milhão.
Os preços praticados no mercado de alugueis não ficam para trás. De acordo com o executivo da G. Pissinatti, o valor em Sinop subiu muito nos últimos anos, com uma sala comercial de 50 metros quadrados tendo preço médio mensal de R$ 15 mil.
O setor imobiliário na região de Sinop tem mostrado força nos últimos anos, o que justifica a alta de preços. No segmento residencial, Mato Grosso foi o estado de maior destaque no Centro-Oeste no primeiro trimestre deste ano.
Os lançamentos de empreendimentos cresceram 10,2% ante igual trimestre de 2023, com 820 unidades lançadas, maior número em um ano.
Os dados de vendas também são positivos, com crescimento de 21,3% na mesma base de comparação, com 626 unidades vendidas, segundo levantamento da Brain Inteligência Estratégia.
Tal desempenho reflete o número de empresas de construção civil na região. Segundo Washington, cinco anos atrás, Sinop contava com duas ou três construtoras e incorporadoras. Hoje, são pelo menos oito.
“Tudo isso reflete no preço do imóvel residencial. O metro quadrado está em torno de R$ 15 mil na compra de um apartamento. Os condomínios estão crescendo muito aqui e, hoje, o preço médio do metro quadrado de um terreno está na faixa de R$ 2 mil. Um terreno de 350 metros quadrados sai por aproximadamente R$ 700 mil”, explica.
Em relação ao WTC de Sinop, Douglas Haacke diz que o processo de reservas de unidades está aberto e que está em tratativas com marcas interessadas em ocupar as lojas do prédio.
Certamente se verá por lá, como locadora, algumas marcas conhecidas do agro. "Grandes players do agronegócio normalmente não fazem aquisição de salas. Eles alugam espaços adquiridos por investidores”, afirma Haacke. “Temos algumas cartas de intenções com essas empresas, mas, por protocolos com o WTC, não podemos divulgar quais são”.