Grupos com empresas processadoras aves devem continuar a se beneficiar das margens sólidas oferecidas pelo setor nos resultados financeiros do quatro trimestre de 2024 (4T24).
Essas margens devem, no entanto, cair sequencialmente, mesmo com o suporte de um câmbio mais forte, nos próximos balanços de 2025.
É o que indica relatório do BTG Pactual divulgado nesta terça-feira, 4 de fevereiro, sobre companhias de alimentos com ações negociadas em bolsa.
“Os volumes de frango estão aumentando, os preços de exportação caem em dólar e os custos em dólares começam a pesar na lucratividade, embora esperemos que o principal impacto seja sentido em 2025”, informou o documento assinado pelos analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris.
Segundo eles, as margens da avicultura em 2025 devem recuar para 14% para Seara e BRF, ante 18% em 2024, e para 13% no caso da Pilgrim’s Pride (empresa americana controlada pela brasileira JBS), contra 15% no ano passado.
Para os produtores de carne bovina, o quarto trimestre de 2024 “será mais desafiador”, de acordo com o BTG Pactual. O banco cita, por exemplo, a alta de 33% no preço do gado no último trimestre, impactando as margens da JBS Brasil Beef, Minerva e Marfrig.
O relatório ratifica a JBS como a única recomendação de compra do BTG Pactual no setor de alimentos e bebidas, “apoiada por sua diversificação e um rendimento de fluxo de caixa livre (FCF) de dois dígitos, que proporciona um colchão para o preço das ações”.
Segundo a análise do banco, a JBS, que divulgará os resultados em 25 de março, deve reportar uma receita de R$ 120 bilhões no quarto trimestre de 2024, alta de 24% sobre igual período de 2023 e de 8% sobre o trimestre anterior.
O Ebitda deve avançar 104% na comparação anual, para R$ 10,2 bilhões, mas recuar 15% na comparação trimestral, com uma margem de 8,5%.
“Embora a avicultura ainda apresente resultados sólidos, esses devem ficar abaixo dos níveis do trimestre anterior, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”, relatam. “Na carne bovina dos EUA, esperamos uma margem Ebitda modesta, mas positiva, de 1%, refletindo os desafios contínuos do ciclo do gado”, completam os analistas.
Na Austrália, a JBS deve reportar um trimestre mais fraco, segundo o BTG Pactual, devido aos custos elevados do cordeiro, levando a uma margem de 8,4%, ante 9,8% no 3T24.
“Em outras divisões, projetamos margens Ebitda de 9,5% na carne suína dos Estados Unidos e de 6,0% na JBS Brasil, com o aumento dos preços do gado pressionando”.
BRF
A BRF, que divulgará resultados em 26 de fevereiro, tem divisão internacional mais focada em frango in natura e com preços estáveis sequencialmente.
No Brasil, os resultados devem seguir positivos, na avaliação do BTG Pactual, impulsionados pela sazonalidade.
“Embora as margens também devam ser pressionadas por um leve aumento nos preços dos grãos, o crescimento das vendas deve compensar esse impacto, mantendo as margens praticamente estáveis, em 16,8%, com Ebitda de R$ 1,4 bilhão”, destacam os analistas.
Para o último trimestre de 2024, o BTG estima receita consolidada de R$ 16,6 bilhões para a companhia, altas de 15% na comparação com 2023 e de 7% sobre o terceiro trimestre.
Os volumes devem subir 5% na comparação anual e Ebitda atingir R$ 3 bilhões, com uma margem de 18,2%, e lucro deve chegar a R$ 1,4 bilhão.
“Apesar de ainda sólidos, os resultados devem ser mais fracos que no 3T, possivelmente marcando o início de uma mudança no ciclo”. As ações da BRF têm recomendação neutra pelo BTG Pactual.
Marfrig
A Marfrig, por sua vez, divulgará resultados em 26 de fevereiro e, para as operações na América do Sul, o BTG Pactual estima volumes estáveis.
No entanto, segundo o relatório, a companhia reportará um aumento de 19% na receita ante o trimestre anterior, para R$ 5,1 bilhões, impulsionado pelo crescimento de 18% nos preços, reflexo da alta do gado e da carne bovina no trimestre.
O Ebitda ajustado deve alcançar R$ 554 milhões, alta de 7% ante o trimestre anterior, com margem de 10,9% pressionada pela alta nos custos.
“Na América do Norte, o cenário permanece semelhante ao trimestre anterior, com a forte desaceleração do ciclo impactando a rentabilidade do setor”, relatam os analistas.
“Projetamos receitas de US$ 3,1 bilhões e Ebitda ajustado de US$ 66 milhões (queda de 17% nas comparações anual e trimestral), com margem de 2,1%”, completam.
Excluindo BRF e operações descontinuadas, o BTG Pactual projeta receita de R$ 22,9 bilhões alta de 3% e Ebitda de R$ 811 milhões, queda de 3% na comparação com o trimestre anterior, com margem de 3,8%..
“Mantemos uma visão Neutra para a Marfrig, já que a recuperação do ciclo do gado nos Estados Unidos ainda parece distante, enquanto o atual superciclo da avicultura deve perder força em breve”.
Minerva
Com resultados previstos para 19 de março, a Minerva deve reportar um 4T24 com volumes robustos, mas com pressão nas margens devido à recente alta nos preços do gado, segundo o BTG Pactual.
Essa pressão será parcialmente compensada por preços mais altos e pela desvalorização do real. O banco estima receita de R$ 9,9 bilhões, alta de 11% na comparação trimestral, e Ebitda de R$ 823 milhões, com margem de 8,7%.
“A Minerva começou a operar os ativos adquiridos da Marfrig em novembro, então esperamos que o impacto nos resultados trimestrais ainda seja limitado. No entanto, será interessante observar como isso afetará o balanço de dezembro, à medida que a empresa aumenta a produção e demanda mais capital de giro”, relataram os analistas.
Segundo o BTG Pactual, a tese de investimento da Minerva “permanece binária”, e depende da capacidade da empresa de integrar os novos ativos com sucesso.
“Além disso, há uma incerteza quanto à aprovação da parte uruguaia da aquisição”. A recomendação permanece neutra para a Marfrig.