A Unigel, um  dos maiores grupos químicos do Brasil, anunciou que irá paralisar temporariamente as atividades das suas fábricas de fertilizantes nitrogenados. A decisão entrou em vigor nesta quarta-feira, 6 de fevereiro e envolve a demissão de 255 funcionários.

Segundo a empresa, em comunicado, o grande culpado é o preço do gás natural, que, de acordo com a Unigel, está entre os mais elevados do mundo, seis vezes mais caro que no Oriente Médio e nos Estados Unidos.

A companhia afirma que suportou prejuízos em 2023 e no começo desse ano e não realizou cortes na expectativa que as negociações envolvendo o governo federal para reduzir o preço do produto tivessem um resultado positivo. A situação, agora, teria ficado insustentável.

As discussões citadas pela empresa envolvem tanto uma redução via o próprio governo, já que quem determina o preço do gás é a Petrobras, como uma alternativa temporária e parcerias estratégicas junto à estatal.

A Unigel afirma que investiu cerca de R$ 600 milhões nas duas fábricas de fertilizantes nitrogenados arrendadas da Petrobras na Bahia e em Sergipe nos últimos anos, justamente na expectativa de uma abertura do mercado livre de gás natural no País. Essas unidades usam o gás natural como principal matéria prima.

“A Unigel contribuiu para redução da extrema dependência do país na importação de fertilizantes nitrogenados em aproximadamente 15%. Além disso, é a única produtora nacional do ARLA, um aditivo adicionado nos motores à diesel para redução da emissão de gases poluentes”, afirmou a empresa no comunicado.

A companhia ainda declarou que continuará com uma infraestrutura mínima para manutenção e preservação dos ativos, além de garantir o cumprimento dos compromissos legais e socioambientais na região, como projetos sociais em escolas locais.

Caso haja uma movimentação por parte do governo em acelerar essas iniciativas junto à Petrobras, a empresa diz que avaliará a retomada na produção.

“Ainda acreditamos na sensibilização do governo federal, através dos poderes executivo e legislativo, dos governos estaduais e da Petrobras quanto às políticas de preço do gás natural destinado à indústria nacional que se encontra em grande parte combalida pela falta de competitividade gerada pelo alto custo dessa matéria-prima”, afirmou a Unigel.

Nesta semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu, em evento com empresários, que a Petrobras reduza o preço do gás natural para produção de fertilizantes. Alckmin, que também comanda o Ministério da Indústria e Comércio, é responsável pelo Confert, o conselho que cuida do plano nacional de fertilizantes.

Segundo ele, a dependência de fertilizantes nitrogenados está em 85% no País. Os dois outros dois tipos de fertilizantes mais usados, os fosfatados e o potássio, possuem necessidade de importação de 70% e 95%, respectivamente. Juntos, os três formam o NPK, que abastece grande parte da agricultura nacional.

“O custo do gás é de US$ 12 por milhão de BTU para a Petrobrás e nos EUA US$ 3 por milhão de BTU”, afirmou. BTU é uma unidade de medida usada para o petróleo que corresponde a mil metros cúbicos.

Esse custo está relacionado à dificuldade de obter a commodity, que segundo Alckmin, demanda uma exploração a 5 mil metros de profundidade em uma região a 300 quilômetros de distância da costa, onde a Petrobras atua. Nos EUA, essa extração é feita por petrolíferas que atuam em terra firme.

Para trazer esse gás para cá, uma solução apontada pelo ministro e vice-presidente é a importação via Argentina, onde também há custo menor. Esse gás poderia vir para o Brasil através do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), que, segundo Alckmin, está com metade da capacidade ociosa.

Alckmin relembrou que, nos últimos meses, duas fábricas de nitrogenados também interromperam as atividades por conta do preço do gás, uma em Laranjeiras, no Sergipe, e outra em Camaçari, na Bahia, ambas pertencentes à Petrobras. “O agricultor não vai comprar um nitrogenado mais caro. É preciso tornar o insumo mais barato”.

Para ajudar a baixar o preço do gás natural, Alckmin ainda declarou que, este ano, o gasoduto Rota 3, em Itaboraí, no Rio de Janeiro, deve entrar em operação, facilitando o transporte e barateando o custo. Além dele, ele citou que a norueguesa Equinor também tem planos para operar uma instalação do tipo no futuro. “Podemos dobrar a produção de gás natural”, afirmou.

Nos fosfatados, Alckmin ressaltou que, dentro de 15 dias, a chinesa EuroChem inicia suas atividades em uma mina localizada na Serra do Salitre, em Minas Gerais. A operação, que envolve a mineração e a indústria, deve produzir 1 milhão de toneladas de fosfatados por ano, algo em torno de 15% da demanda anual nacional.

No caso do potássio, o governo vê com bons olhos o fim de um imbróglio jurídico na reserva de Autazes, no Amazonas, que já dura cinco anos.

“Existia um impasse para discutir quem iria licenciar a área, se seria o Ibama ou o Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas”. Estive em Manaus recentemente e ficou decidido que será o segundo órgão. Acho que esse projeto pode avançar”, afirmou durante o encontro em São Paulo essa semana.

“Nessa logística, levamos potássio de barco ou navio e voltamos com produtos do Mato Grosso, como grãos e proteína”, afirmou.