O mercado de consórcios, historicamente, tem dois segmentos mais fortes. O maior deles é o de imóveis, que hoje é tratado inclusive como uma alternativa de investimento. O outro é de automóveis.

Mas pelo menos na Embracon, empresa que faturou mais de R$ 12 bilhões em 2023 e que projeta R$ 16 bilhões para este ano, o consórcio para compra de veículos pesados, categoria que inclui tratores e máquinas agrícolas, tem se tornado cada vez mais relevante.

Em entrevista ao AgFeed, Luís Toscano, vice-presidente de Negócios da Embracon, conta que a entrada da companhia no segmento que é impulsionado pelo agronegócio é bastante recente.

“Nós começamos em 2021 e em 2022 o segmento de pesados já representava 4% do nosso faturamento. No ano passado, essa participação foi para 7%. E em 2024, estamos projetando que essa fatia suba para 9%”, afirma Toscano. Com isso, a receita dessa área deve superar pela primeira vez a marca bilionária, chegando próxima a R$ 1,5 bilhão.

Isso significa que o consórcio de veículos pesados e máquinas agrícolas tem crescido a um ritmo superior à média da empresa. “Nós crescemos 23% nesse segmento no ano passado e, para 2024, a perspectiva é avançar mais 18%. Nesse primeiro trimestre, já tivemos resultados que indicam que vamos conseguir atingir esse patamar”.

A melhora no consórcio para máquinas acontece em um ambiente desafiador para as vendas e até mesmo de suspensão de produção em gigantes como a John Deere e AGCO no Brasil.

A expectativa da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) é que as vendas de máquinas agrícolas registrem queda de 10% em 2024. Mas esse cenário até ajuda a explicar o avanço do consórcio.

“No consórcio, o produtor paga uma taxa de 12% em todo o prazo da operação. Ou seja, se ele escolher por um plano de 80 meses, vai pagar 0,15% de taxa mensal. E se ele for contemplado depois de um ano, por exemplo, não precisa usar a carta de crédito imediatamente. Pode escolher quando vai comprar a máquina”, explica Toscano.

Os recursos não ficam parados enquanto o contemplado não os utiliza. O executivo da Embracon explica que o valor da carta de crédito é aplicado em títulos que rendem uma porcentagem da taxa básica de juros, a Selic.

“Então, é um instrumento de planejamento financeiro para o produtor. Ele pode investir um valor mensal agora, sem enfrentar os juros de um financiamento, e quando houver uma retomada da economia, como se espera já para o começo de 2025, pode usar a carta para adquirir a máquina”, afirma Toscano.

Outro ponto importante que o vice-presidente da Embracon levanta é o funcionamento após a contemplação. “A máquina é entregue para o produtor, alienada para a Embracon. A partir daí, ele vai precisar pagar o consórcio até quitar. O cliente pode até vender a máquina para se capitalizar ou para comprar outra. Mas ele recebe o bem”.

Um dos desafios para a Embracon continuar crescendo no agronegócio, segundo Toscano, é implementar a cultura do consórcio no setor.

“Num ambiente de juros altos, é difícil convencer o produtor a abrir mão de crédito subsidiado. O que acontece é que o crédito envolve um volume de documentação e de burocracia que torna a operação complicada e demorada. No consórcio, a única comprovação é da capacidade de pagamento das parcelas”.

Um dos caminhos tomados pela Embracon foi o das cooperativas, que vendem o consórcio como marca própria, mas a operação é toda feita pela companhia. “Hoje temos parcerias com seis cooperativas, como a Cresol, por exemplo”, conta o executivo.

Toscano conta que um dos planos da Embracon para sustentar o crescimento nos próximos anos é ampliar essa presença em cooperativas agropecuárias.

A companhia tem um planejamento para cinco anos e, segundo o vice-presidente de Negócios, 2024 deve ser o mais modesto do período, inclusive em pesados.

As cartas de crédito para veículos pesados partem do valor mínimo de R$ 220 mil. Mas, segundo Toscano, em alguns casos, o valor chega a R$ 1 milhão. “Temos também quem compra várias cartas. Tem caso de cliente que comprou três planos de R$ 220 mil”, conta.

Atualmente, a Embracon está com quase 170 mil consorciados em sua carteira, seguindo a tendência do mercado de ter como carros-chefe imóveis e automóveis.