Com o crédito mais caro e o preço das commodities ainda oferecendo margens apertadas aos produtores, a locação de máquinas agrícolas tem sido um dos segmentos que conseguiram ganhar mercado nesses tempos de retração no agro.

Não por acaso, grandes locadoras brasileiras têm reforçado suas apostas no campo, buscando maior proximidade com produtores e empresas agrícolas e ampliando a oferta de produtos disponíveis em seus planos.

Uma das maiores do País no aluguel de automóveis, a Unidas, por exemplo, já tem forte atuação no agronegócio, com máquinas e equipamentos para setores como o de florestas, além de caminhões para escoamento de safras, sobretudo no segmento sucroenergético.

Agora, expandiu os negócios para um segmento inédito. Em parceria com a Valley, marca da Valmont, uma das líderes globais do setor de irrigação, a Unidas Pesados, divisão da empresa que engloba o setor agro, está de olho no mercado de irrigação.

A iniciativa de oferecer locação de pivôs de irrigação foi lançada na Agrishow de 2024 e, nesta safra, entrou em fase de operação nacional.

Segundo Marluz Renato Cariani, diretor comercial da Unidas Pesados, a ideia surgiu de aumentar a participação da companhia no agro.

As conversas se iniciaram há quase dois anos. Do lado da Valley, a ideia era ter uma estratégia de vendas relacionada à locação.

“Não é um produto usual”, afirmou Cariani, avaliando que o portfólio da Unidas é composto por veículos de todos os portes. “É um produto de vida longa. Com todas as manutenções adequadas, pode durar mais de 30 anos”, disse ao AgFeed.

O modelo de locação inclui contratos de longo prazo, geralmente de 10 anos, com possibilidade de renovação ou compra ao término.

Ao final do contrato, o cliente pode optar por adquirir o pivô ou devolvê-lo. Se for de seu interesse, pode iniciar um novo contrato com o mesmo pivô ou com um equipamento mais moderno.

Cariani acredita que esse sistema elimina preocupações com a depreciação dos ativos e facilita a gestão financeira dos produtores. “Quando o cliente devolve o equipamento usado, ele reduz custos de manutenção e pode focar em renovar a infraestrutura com equipamentos mais modernos e eficientes”, explicou.

O diretor vê a parceria com bons olhos, avaliando que, de um lado, a Valley atua com produtos premium na irrigação, sendo a “maior do mercado e com uma carteira fiel de clientes”.

“Uma carteira que não conseguíamos penetrar”, completa Cariani. Segundo ele, a proposta foi desenhada para que o produtor não precise desembolsar valores elevados para a compra de um pivô de irrigação, ao mesmo tempo que já colhe os resultados de aumento de produtividade, que podem chegar a 25% segundo o diretor, já na primeira safra com o equipamento.

A Valley também oferece suporte técnico completo, incluindo manutenções preventivas e corretivas, além de seguro contra danos como vendavais, explicou Cariani.

O diretor comercial crê que a solução beneficia tanto pequenos e médios agricultores quanto grandes produtores, especialmente os de cana-de-açúcar e grãos. “Com o pivô, o produtor não ‘depende mais de São Pedro’. Ele pode ter até duas safras adicionais por ano, o que transforma a economia da propriedade”, afirmou.

Nos cálculos de Cariani, colocando na balança os custos de manutenção, custo do dinheiro e o aumento de produtividade, a alocação do pivô fica 10% mais interessante do que a compra.

A estratégia deve ajudar na previsão de crescimento para o mercado de equipamentos agrícolas para alocação na Unidas.

“Existem muitos investimentos represados de 2024 que devem acontecer em 2025. Com a taxa de juros atual, o modelo de locação é favorecido”, disse.

Ele projeta que, na empresa, a locação de máquinas para o agro cresça este ano, considerando tratores, colhedoras, implementos, caminhões e agora os pivôs.

Esse crescimento, segundo ele, estará ancorado principalmente em equipamentos que ajudam no preparo do solo. Hoje, a Unidas possui 12 mil equipamentos locados.

“Muitos já estão em final de contrato, com o final da safra, então entramos num estágio de renovação”.

Até o terceiro trimestre de 2024, o segmento de Pesados somou R$ 696 milhões em receita líquida no balanço da Unidas, aumento de 27% frente ao mesmo intervalo de janeiro a setembro de 2023.

A dificuldade para penetração no mercado é a mesma dos outros equipamentos pesados: a tendência histórica dos produtores rurais de darem preferência à compra ao invés da locação, acredita o diretor.

Ele cita uma colhedora de grãos, que necessita de um desembolso de no mínimo R$ 3 milhões, é comprada, utilizada por três meses do ano e fica parada no restante dos doze meses. “Será que não faz sentido alugar por três meses ou por safra?”, indaga o diretor.

“Esse tipo de solução, que oferece ganhos imediatos e diluem os custos no longo prazo, está começando a mudar essa mentalidade”, avalia Marluz Renato Cariani.

O pivô de irrigação locado não apenas aumenta a produtividade das lavouras como também se adapta a diferentes necessidades.

Segundo Cariani, o equipamento funciona como um “Lego”, que pode ser ampliado com peças adicionais para atender áreas maiores.

Com menos de um ano atuando nessa vertente, Cariani afirma, sem citar nomes, que já alugou para produtores do Centro-Oeste.
Para 2025, a Unidas Pesados planeja expandir ainda mais a operação com a Valley, aproveitando justamente esses investimentos represados de 2024.

O foco estará, segundo ele, em atender grandes projetos de irrigação no setor sucroenergético, que tem passado por uma safra de poucas chuvas.