Uma das maiores companhias sucroalcooleiras do País, a paulista Zilor vem fazendo anúncios em direções opostas nas últimas semanas. Mas só na aparência.

Em um sentido, o empresa divulgou nesta quinta-feira, dia 17 de outubro, que adquiriu 100% das ações da Salto Botelho Agroenergia, usina localizada em Lucélia, a 589 quilômetros de São Paulo, que pertencia à gestora americana Amerra Capital Management, especializada em ativos alternativos.

Já há duas semanas, a companhia havia vendido 70% do controle da Biorigin, unidade de negócio focada em biotecnologia, em Quatá (SP), para a companhia francesa Lesaffre, do setor de leveduras, numa transação de R$ 665 milhões.

A movimentação não se trata, no entanto, de um sinal de que a Zilor está focando seu negócio apenas na cana-de-açúcar, esclarece Fabiano Zillo, CEO da companhia, em entrevista ao AgFeed. “A gente se fortaleceu na Biorigin e, no lado do agro, vemos oportunidades de crescimento em escala”, afirma ele.

Zillo diz que a companhia vinha sendo abordada nos últimos três anos por diferentes interessados. Em janeiro, as negociações com a Lesafrre começaram e a Zilor viu bastante sinergia entre seus negócios e os da companhia francesa.

“Vimos uma oportunidade diferenciada não só em termos de atingir outros mercado, porque eles queriam vir para o Brasil e nós queríamos estar na Ásia, mas também em termos de valores: eles também são uma empresa familiar, de capital fechado e com visão de longo prazo, assim como nós”, afirma o CEO da Zilor.

“Éramos uma noiva muito atraente para esses players globais e a Lesafrre tem parcerias em outros países, sempre uma operação local com visão e estratégia global”, complementa Denise Araújo Francisco, diretora financeira da Zilor.

Já a negociação com a Salto Botelho Agroenergia veio em linha com a estratégia da empresa de expandir sua produção ao mesmo tempo em que garante custos baixos, segundo Francisco.

“A usina tem performado a custo baixo e vai complementar a capacidade de expansão da Zilor a um custo muito mais acessível do que um projeto greenfield”, diz ela.

A Salto Botelho quase foi comprada pelo grupo Bahia Etanol Holding anteriormente. A operação chegou a autorizada pelo Conselho Administrativo da Defesa Econômica (Cade) no começo do ano, mas o negócio não vingou após o Bahia Etanol não cumprir condições contratuais.

Os americanos da Amerra havia comprado a unidade em 2022, durante o processo de recuperação judicial da Usina Bioenergia do Brasil S/A, e arrumou a casa no período. “Eles sanearam toda a operação financeira e a usina hoje já tem geração de caixa”, diz Francisco.

A usina foi avaliada em R$ 600 milhões, sendo que boa parte desse valor – R$ 200 milhões – é de dívida. A empresa prefere não informar a modelagem de desembolso para a aquisição.

Com a nova unidade, a Zilor terá uma capacidade total de moagem de 13,8 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma expansão de 15% em relação à capacidade atual, de 12 milhões de toneladas.

Hoje, a companhia tem três usinas, localizadas em Quatá, Macatuba e Lençóis Paulista, onde está também instalada a sede administrativa da Zilor.

Só a usina comprada da Salto Botelho, que emprega cerca de 800 pessoas, tem capacidade de moagem de 1,8 milhões de toneladas de açúcar para produção de etanol anidro, hidratado e açúcar VHP, sendo capaz de produzir diariamente até 600 metros cúbicos de etanol e 820 toneladas de açúcar VHP.

A Biorigin, por sua vez, foi criada há 21 anos, e fabrica ingredientes para alimentação humana e animal a partir de extratos de levedura. A unidade possui três plantas de produção no Brasil, todas em São Paulo, e centros de distribuição fora do País, em países como Estados Unidos e Bélgica.

Com a entrada dos franceses, o negócio vai ser separado da companhia paulista e vai virar uma empresa à parte, tendo a Zilor como acionista, com 30% das ações.

A operação ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo da Defesa Econômica (Cade).

A Zilor é a maior acionista da Copersucar, detendo 12% de seu capital, e endereça toda a sua produção de açúcar e etanol à cooperativa, a maior comercializadora de açúcar e etanol do mundo.

Além disso, apesar de ser uma companhia de capital fechado – ainda pertencente aos herdeiros das famílias fundadoras Zillo e Lorenzetti – a Zilor se comporta como uma empresa listada em bolsa, reportando resultados trimestralmente e com uma área de RI.

Ao fim da safra 2023/24, a companhia alcançou a maior moagem de sua história, com 11,4 milhões de toneladas de cana processada, avanço de 8,3% em relação ao ciclo anterior. A receita líquida atingiu R$ 916,8 milhões, avanço de 2,4% em relação ao ano passado.

Somente na usina de Quatá, houve um avanço de 44% de produtividade nos últimos cinco anos, passando de 54,4 toneladas por hectare em 2019 para 78,3 toneladas por hectares na safra que acabou de se encerrar.

A Zilor também reportou uma situação financeira da companhia mais equilibrada. A companhia saiu de uma alavancagem de 5,0x para 0,98x ao fim do ciclo 2023/24.

Nos últimos três anos, a companhia tem executado um plano de aportes de R$ 550 milhões em projetos de cogeração de energia elétrica, com a operação de uma nova caldeira de cogeração na usina de Macatuba em abril do ano passado e a construção de uma caldeira em sua usina de Lençois Paulista, que estava prevista para ser entregue em abril de 2024.

A companhia vê possibilidades também no negócio de biogás e biometano à frente, mas ainda estuda projetos do tipo, a serem definidos até maio do ano que vem – mas sempre com muita parcimônia financeira, segundo a diretora da área, Denise Francisco.

“O grupo tem uma governança muito rígida, robusta e analisa sempre boas oportunidades desde que a estrutura de capital esteja muito adequada”, afirma ela.