Campo Largo (PR) - Era de se esperar que o fim das campanhas de vacinação contra a febre aftosa para bois no Brasil poderia bagunçar os negócios da Biogénesis Bagó, a maior fabricante desse tipo de vacina em todo o mundo.

A empresa, contudo, recalculou a rota e aposta agora numa diversificação de produtos para continuar a crescer.

Para mostrar esse apetite e seguir sua meta de ser uma das maiores empresas da indústria veterinária animal nos próximos anos, a companhia acabou de inaugurar sua primeira fábrica no Brasil.

A instalação de 4 mil metros quadrados, localizada em Campo Largo (PR), recebeu US$ 30 milhões em investimentos (algo superior aos R$ 150 milhões) e servirá para a empresa fabricar e distribuir no Brasil e na América Latina vacinas voltadas para animais de companhia, ou seja, pets como cães e gatos.

O AgFeed visitou a nova fábrica durante sua inauguração, nesta quinta-feira (4).

A unidade deverá produzir entre 10 milhões e 12 milhões de doses de vacina por ano a partir de 2026, quando atingir sua capacidade máxima. O foco da produção estará em três vacinas para animais de companhia: a tríplice felina e a quíntupla/sêxtupla para cachorros.

Além disso, está prevista a fabricação de outras três vacinas para animais de produção e outras soluções biotecnológicas.

A empresa estima que o mercado pet na América Latina é de aproximadamente 40 milhões de doses, fazendo a Biogénesis ter a capacidade para abastecer 25% dessa demanda.

A fábrica produzirá vacinas para atender o mercado nacional, continental e também para países do norte da África e sudeste asiático.

Os planos da empresa em inaugurar uma planta no Brasil foram revelados pela primeira vez no AgFeed, em uma entrevista concedida por Marcelo Bulman, Country Manager da Biogénesis Bagó no Brasil, em setembro passado.

Na ocasião, Bulman ressaltou o planejamento estratégico da empresa em diversificar os negócios. Nesta quinta, o executivo afirmou que a criação da fábrica é um marco histórico para a empresa, que já atua no Brasil há 25 anos.

“Temos buscado aumentar a capacidade produtiva nas linhas de vacina. Junto com o polo de vacinas inativadas para animais domésticos na Argentina, a Biogénesis Bagó se transformará em líder de produtos dessas características na América Latina e colocará a empresa num grupo das cinco maiores empresas a nível global”, afirmou.

Na visão de Sebastián Perretta, diretor executivo de negócios globais da Biogénesis Bagó, esse processo de diversificação de negócios começou há cinco anos.

A empresa hoje possui presença em 60 países a nível comercial, com 12 filiais com equipes próprias espalhadas pelo mundo.

“O que estava pendente era diversificar também a produção fabril. Faltava uma fábrica de vacinas para animais de companhia. O Brasil sempre foi importante para nós e é relevante neste segmento”, comentou.

A maior planta da empresa ainda fica na Argentina, com uma capacidade de produção, dentre todos os produtos, de 400 milhões de doses por ano.

No mercado pet, a produção de vacina antirrábica feita no país vizinho fica em 40 milhões de doses, mas a empresa está investindo para aumentar essa capacidade para 70 milhões de doses até o ano que vem.

“Estamos investindo US$ 50 milhões na nossa operação na Argentina para ampliar nossa produção em todas as linhas”, afirmou Bulman.

A companhia também possui fábricas na Coreia do Sul, Arábia Saudita e China. Perretta estima que hoje, 10% do faturamento da Biogénesis Bagó vem de produtos para esse mercado pet e a ideia é que essa porcentagem salte para 25% em até cinco anos.

A escolha por uma sede no Brasil se deu por algumas razões. A empresa estima que o País é o maior consumidor no continente de vacinas para animais de companhia, e o terceiro maior do mundo.

Márcio Lustoza, diretor de P&D e assuntos regulatórios corporativos, explica que a população de pets subiu globalmente com a pandemia de Covid-19.

“Isso trouxe um aumento na demanda dessas vacinas, e as plantas de produção desses produtos não estão na América Latina. As empresas selecionam mercados e isso gera escassez em algumas regiões”, afirmou Lustoza.

O faturamento global anual da Biogénesis Bagó é de US$ 250 milhões, sendo que quase 1/5 do total é gerado no Brasil. A vacina de febre aftosa continua sendo o carro-chefe da empresa, representando cerca de 40% das receitas. A empresa produz, por ano, cerca de 400 milhões de doses deste medicamento.

Sebastián Perretta afirma que a empresa também é líder no mercado da vacina antirrábica, com uma produção de 40 milhões de doses anuais.