Para ser economicamente sustentável, uma indústria alimentícia precisa, de forma bem simplificada, estabelecer um bom equilíbrio entre custo da matéria-prima que utiliza para a fabricação de seus produtos e os preços praticados nas gôndolas para o consumidor.
A M. Dias Branco, dona de marcas como Piraquê e Adria, parece ter reencontrado esse caminho em 2023, especialmente no quarto trimestre, com o lucro líquido crescendo mais de 20 vezes em relação ao mesmo período de 2022.
A “volta ao normal” foi propiciada justamente por cotações mais amigáveis do trigo, principal insumo de suas indústrias. Isso deve permitir, em 2024, que a empresa retome também o caminho da expansão.
E essa rota aponta em direção ao Sul. Com sede em Fortaleza, a empresa mantém a liderança no Nordeste, mas não parece satisfeita com isso.
“Claro que a prioridade é o Sudeste, que tem o maior mercado. Estamos com um programa para melhorar a presença das marcas nas lojas, além de intensificar campanhas online e na mídia tradicional”, afirma o diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores, Fabio Cefaly, em entrevista ao AgFeed.
Para isso, a companhia aumentou o volume de investimentos em marketing e estuda elevar ainda mais. “Até pouco tempo, o investimento em marketing era de 1% da receita líquida. Agora, estamos em 2%, e estamos em fase de estudo para levar essa proporção para 2,5% e até 3%, de forma gradual”, diz o diretor da M. Dias Branco.
A nova estratégia pode ser executada com mais tranquilidade em 2024, já que no ano passado, as margens e a lucratividade da companhia voltaram a patamares pré-guerra entre Rússia e Ucrânia.
O conflito na Europa, que completou dois anos nesta semana, jogou para cima os preços do trigo, principal matéria-prima da M. Dias Branco juntamente com o óleo de palma.
No quarto trimestre de 2022, a margem Ebitda da companhia chegou a 4,4%. “Nosso patamar histórico fica entre 15% e 20%”, lembra Cefaly.
Foi exatamente esse o nível apresentado pela M. Dias Branco no último trimestre de 2023, quando chegou a 16%.
“A tendência de longo prazo é ter margem mais próxima do teto desse intervalo, de 20%, por conta de todo o trabalho que tem sido feito para impulsionar as marcas e trazer novos produtos”, diz Cefaly.
No quarto trimestre do ano passado, o lucro da M. Dias Branco superou os R$ 340 milhões, depois de bater pouco mais de R$ 15 milhões no mesmo período de 2022. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) quase quadruplicou em um ano, superando os R$ 440 milhões no trimestre.
Esses resultados foram atingidos em um cenário de estabilidade nos volumes vendidos e nas receitas. O faturamento líquido da companhia entre outubro e dezembro de 2023 ficou praticamente estável na comparação anual, em R$ 2,7 bilhões.
O ponto negativo no balanço da M. Dias Branco ficou com o segmento de farinhas e farelos, que sofrem com a queda nas cotações do trigo, ao contrário do que acontece nos negócios mais importantes da empresa, que são biscoitos e massas.
“Farinhas e farelos representam cerca de 15% da nossa receita líquida e são produtos que acompanham o comportamento da commodity. Biscoitos e massas têm mais variáveis, e ficam descoladas, com a queda do trigo sendo positiva”, explica Cefaly.
Em volume, o segmento de farinhas e farelos teve aumento de quase 15% nas vendas no quarto trimestre de 2023, na comparação com um ano antes. No entanto, os preços médios por quilo caíram de R$ 2,77 para R$ 2,19.
O diretor da M. Dias Branco conta que o primeiro trimestre é sazonalmente mais fraco em vendas, por conta das férias escolares. Mas ele conta muito com as marcas mais conhecidas para manter o ritmo de crescimento em 2024.
“As receitas com a Piraquê dobraram entre 2018 e 2023. Temos agora outros produtos, como a granola, na marca Jasmine. Tivemos quase R$ 300 milhões em receitas adicionais com as inovações que foram implementadas”, diz Cefaly.
Outro objetivo da companhia é a internacionalização. Além de exportar seus produtos, prática que já tem seis anos, a M. Dias Branco está fazendo uma espécie de “teste” no Uruguai, onde fez uma aquisição no final de 2022.
“É um mercado no qual estamos vendo como é fazer a gestão de uma empresa fora do Brasil, com todas as complexidades. É um plano para os próximos anos aumentar essa presença internacional”, diz o diretor da companhia.