Em tempos de preocupação com as mudanças climáticas, a descarbonização é um dos temas mais relevantes para governos e grandes empresas. A Tereos, gigante sucroalcooleira francesa com atuação global, não é exceção. Mas a abordagem é diferente da maioria das companhias do setor.

Em entrevista coletiva, o CEO da Tereos Brasil, Pierre Santoul, falou das perspectivas para a safra 2024/2025 no País. E ressaltou a opção por ser ainda mais açucareira na próxima safra, mesmo sabendo da relevância do etanol no contexto econômico atual.

“Nós vamos repetir o volume de cana moída no ano passado, de 21 milhões de toneladas. Mas no mix de produção, o açúcar vai passar de 68% para 70% na safra”, contou o executivo.

O executivo justifica essa opção com dois fatores principais. O primeiro diz respeito ao momento atual do mercado. “Agora, pelo menos para a Tereos, a produção de etanol tem ficado no break even, ou seja, lucro zero”.

Outro ponto está no histórico recente para as sucroalcooleiras em geral. “Nos últimos 10 anos, em 80% deste período, o açúcar foi mais vantajoso que o etanol para as empresas produtoras”.

Na safra 2023/2024, a empresa produziu 1,9 milhão de toneladas de açúcar e 580 milhões de litros de etanol. Para o novo ciclo, a empresa projeta aumento na produção de açúcar, ultrapassando os 2 milhões de toneladas.

Esse aumento, mesmo com a projeção de estabilidade na moagem de cana, se dará principalmente por conta da qualidade da safra, segundo Santoul. “Nós estamos projetando uma melhora de 3% a 5% no ATR (Açúcar Total Retido, material resultante da moagem que serve para produção de açúcar e etanol)”.

Além de olhar para o momento da paridade nos preços dos dois produtos, o CEO da Tereos Brasil afirma que a empresa conseguiu aproveitar o melhor momento do preço do açúcar, no final de 2023, para antecipar vendas.

“Nós estamos com um nível de hedge de 80%”, afirma Santoul. Ou seja, a empresa conseguiu vender 80% da produção deste ano com base no preço praticado em dezembro.

Em dezembro, segundo os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a saca de 50 quilos de açúcar chegou a superar os US$ 31. Em março, o valor oscilou em torno de US$ 28 e US$ 29 por saca.

Outro ponto importante levantado por Santoul é a antecipação da moagem da safra 2024/2025, que vai começar em abril. “Assim, vamos poder fazer uma distribuição mais equilibrada da produção em relação ao ano passado”.

A safra 2023/2024 foi mais longa. A produção costuma perdurar até a segunda quinzena de novembro. Na temporada passada, esse período se estendeu por mais um mês, já que a disponibilidade de cana para moagem veio acima do previsto.

Essa dinâmica trouxe uma entressafra de cerca de 45 dias, a metade do tempo médio da Tereos nos últimos anos, explicou Everton Carpanezi, diretor de operações agroindustriais da Tereos, ao AgFeed.

Segundo Carpanezi, isso fez a Tereos planejar a entressafra, período onde a empresa faz a manutenção, limpeza e compra de equipamentos, treinamentos e contratos com fornecedores, já no meio do ano passado.

“Com a disponibilidade de cana que tínhamos, vimos na metade do ano que precisávamos olhar para a entressafra já ali, para planejar a parte industrial e agrícola. Antecipamos aquisições, contratações e serviços para manutenção”, afirmou.

Sobre a estabilidade de produção de cana, enquanto as projeções indicam uma queda no total produzido no centro-sul brasileiro, o CEO da Tereos afirma que ter a maior parte das propriedades na região entre Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, ajuda muito.

“Mas também temos investido cada vez mais em instrumentos para melhorar a produtividade, fazer uma aplicação mais precisa de insumos, e isso tudo ajuda na produtividade”.

Sobre a demanda global por etanol nos próximos anos, especialmente com as plantas de combustível para aviação (SAF) previstas para entrar em operação nos Estados Unidos e no Japão em 2025 e 2026, Santoul afirma que o Brasil tem vantagem competitiva em relação a outros países produtores.

“Para fornecer etanol para SAF, é preciso ter uma pegada de carbono na cadeia de produção abaixo de 50%. A Tereos está muito bem posicionada, porque temos metas mais agressivas que a média do mercado no que diz respeito a descarbonização das operações”, diz o executivo.