O apetite do grupo paulista Granja Faria parece não ter limites. A empresa anunciou nesta quarta-feira a sua 11ª aquisição – e a maior delas. Trouxe para baixo de suas asas a Katayama Alimentos, empresa criada há 80 anos e que produz cerca de 700 milhões de ovos por ano.
Nas 10 compras anteriores, Ricardo Faria, presidente do grupo, já havia assinado o equivalente a R$ 1,5 bilhão em cheques. O último deles, de cerca de R$ 230 milhões, havia sido entregue pelo controle da BL Ovos, em dezembro passado.
"A Katayama agrega em torno de 12% a 13% de receita" afirmou Faria ao anunciar o negócio. "Tínhamos uma receita estimada na faixa dos R$ 2,6 bilhões e almejamos algo em torno de R$ 3 bi ao ano. Também agrega proporcionalmente em volume de produção. Vamos produzir em torno de 16 milhões de ovos por dia"
A aquisição, segundo Faria, foi feita com recursos do próprio caixa da companhia. "Não fizemos dívida para fazer a trasanção", disse. O valor do negócio não foi informado, assim como a porcentagem da Katayama adquirida.
Faria informou apenas que passa a deter mais de 51% da empresa, assumindo o controle. Isso será feito através da "aquisição das empresas Nascente e Omega, que, através da empresa GGK, controlam as operações da Katayama Alimentos Ltda.", segundo informou em fato relevante.
Segundo apurou o AgFeed, a participação da Granja Faria na Katayama deve ficar em torno de 60%. Gilson Tadashi Katayama, até então controlador da empresa, continuará acionista e passará a compor o quadro de conselheiros da Granja Faria, "com atribuições e contribuições relevantes em projetos estratégicos do grupo".
Fundada por imigrantes japoneses na cidade de Guararapes, no interior de São Paulo, a Katayama vinha enfrentando dificuldades de se manter competitiva em um mercado de margens menores e que passa por um processo de consolidação.
No ano passado, a empresa contratou o Itaú BBA para assessorá-lo em no processo de venda de seus ativos, que incluem mais de 4 milhões de galinhas.
O executivo de uma das empresas contatadas pelo banco e que chegou a analisar o negócio revelou ao AgFeed ter ficado pouco tentado a fazer proposta. “Eles têm uma boa máquina de classificação de ovos, moderna e bem feita, mas a área de produção de ovos precisa de muito investimento para ver se anda. E o balanço está bem endividado”.
Segundo Faria, a intenção de comprar a Katayama era antiga. "Como Gilson não queria vender 100% da empresa e ainda acreditava no legado da companhia, ele buscava um sócio. Esse namoro já tem cinco anos. Uma discussão de sociedade é uma discussão de vida"
Somando a sua produção com a da empresa paulista, a Granja Faria deve atingir a marca de 16 milhões de aves em produção, fornecendo um total de 11 bilhões de ovos anuais.
A compra também reforça a posição do grupo, fundado em Nova Mutum (MT) em 2007, no mercado paulista, maior do País. Até então, as 11 unidades que a Granja Faria estavam localizadas em Minas gerais, Rio Grande do Sul, Tocantins, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Espírito Santo.
O movimento acirra a disputa com a Mantiqueira. As duas empresas têm estratégias de crescimento diferentes. Enquanto o grupo de origem mineira investe na construção de uma marca forte e diversificada – processo reforçado com a contratação de Márcio Utsch, ex-Havaianas, como CEO –, a Granja Faria aposta na manutenção das marcas locais após as aquisições.
A Granja Faria até utiliza a grife Ares do Campo, vendida em redes como Carrefour e no Grupo Pão de Açúcar, mas preserva os nomes conhecidos nos mercados regionais.
"Dentro da porteira é tudo o mesmo grupo, capturamos sinergia", disse Faria. "Fora da porteira é guerra, que cada um utilize sua criatividade. Não podemos engessar as marcas, gosto de ver marcas vivas, fortes, brigando. Se eu não crio uma cultura de competição, não temos inovação no negócio".
Ele deixou aberta a possibilidade de prosseguir com a expansão através de novas aquisições. "Mesmo com todas essas aquisições, mesmo sendo líderes do mercado, atingimos agora a marca de 10% do mercado brasileiro, um mercado endereçável de R$ 30 bilhões. Ainda estamos longe a ter uma presença relevante nacional. Então, sim, temos apetite de novas aquisições enquanto formos eficientes e tivermos capacidade de execução".
O mercado externo também entrou no radar e ganha forma agora com a entrada da Katayama para o grupo. "A Katayama vem somar à Granja Faria na estratégia de exportação", avaliou. Segundo o empresário, a companhia já mantém contratos em países que se abriram para nosso mercado recentemente, como Taiwan e Chile.
Em países que já eram compradores, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, o volume aumentou. Ele diz ver oportunidades crescentes na venda de ovos industrializados, ao invés de mandar ovos frescos in natura. "A gripe aviária abriu esse espectro e a chegada da Katayama aumentou". A exportação do ovo comercial representa, segundo ele, 13% da receita da Granja Faria.