Imagine uma empresa especializada em pesquisar e desenvolver a genética da cana-de-açúcar, que possui bancos de germoplasma e tem investido em plant science.

Os estrangeirismos e os termos técnicos podem até nos remeter a uma startup, que busca investidores para alavancar seu negócio, mas não é esse o caso.

A companhia em questão é o CTC, o Centro de Tecnologia Canavieira, fundado em 1969, como uma unidade de pesquisa da Copersucar. Em 2011, virou uma S.A., passando a ter como sócios os principais players do mercado sucroenergético brasileiro como Raízen, São Martinho e a Usina Coruripe.

Apesar de ser uma veterana no mercado brasileiro, a mentalidade de inovação ainda permanece na empresa. “Brincamos que somos uma startup de 53 anos”, comenta a diretora financeira e de relações com os investidores do CTC, Denise Francisco, em entrevista ao AgFeed.

E como a maioria das startups, a empresa também sonha com o dia em que sua marca estará estampada nas telas das bolsas de valores, com ações negociadas no mercado. Segundo Denise, o CTC está preparado para esse momento, à espera de que o clima econômico seja favorável para uma nova safra de IPOs.

Nas palavras da executiva, o CTC é um centro puro de pesquisa e desenvolvimento. Dos seus 500 funcionários, cerca de 320 estão focados no segmento e 140 são cientistas.

No portfólio, a empresa possui mais de 4 mil variedades genéticas em seu banco de germoplasma. “Essas variedades servem para fazer qualquer melhoramento ou introduzir novos tipos de cana com transgenia”, explica.

Depois que um novo tipo de cana é desenvolvido e passa pelos testes e certificações, ele vira um produto do CTC. Dentre os produtos atuais, o CTC possui, por exemplo, quatro variedades que são resistentes à broca da cana-de-açúcar, uma das principais pragas dessa cultura.

Para o futuro, a executiva revela que a empresa pretende lançar mais 13 variedades nos próximos cinco anos. Esses lançamentos são a fonte de receita da companhia, que precifica a variedade e é remunerada pelos royalties do uso de cada uma. “Um terço fica para o CTC e o restante é ganho da usina”, explica.

Para precificar a variedade, o CTC faz um apanhado dos preços médios do açúcar nos últimos cinco anos, avalia o tipo de cultura que esse novo tipo de cana será inserido e define um preço.

Conforme a regulação, o CTC é o “dono” dos royalties da variedade por um prazo de 15 a 20 anos, num esquema de patente. “Quando a planta chega no pico, já temos outras variedades na mesa e vamos renovando o canavial”, afirma a CFO.

Esse modelo de negócio tem rendido bons frutos, ou melhor, sabores doces para a empresa. O CTC encerrou a safra 2022/23 com um lucro líquido de R$ 91,4 milhões. No último trimestre desse período, encerrado em março, o lucro foi de R$ 11,1 milhões, uma queda de 70,6% ante o mesmo período da temporada passada.

Já o lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado recuou 45,8% nesta comparação, atingindo R$ 28,76 milhões.

A executiva explicou que essa baixa já era esperada, e se deu exatamente por conta do término de períodos de proteção de algumas variedades patenteadas pela empresa, que deixaram de ter seus royalties cobrados.

Segundo Denise Francisco, essa geração de caixa do CTC tem sido suficiente para financiar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas variedades.

“Entre 2014 e 2016 o BNDESpar entrou como sócio no negócio e realizou um aporte. A partir dali, fomos nos autofinanciando e atingimos hoje uma posição robusta em geração de caixa, além de uma margem Ebitda de cerca de 50%”, comenta.

O BNDESPar possui cerca de 18,99% do capital do CTC. Dentre os acionistas relevantes, a Raízen possui 19%, a Copersucar 16,93% e a São Martinho 5,41%.

O próximo ciclo da cana

Passado o ciclo 2022/23, as atenções do CTC estão viradas para o ano-safra 2023/24, que iniciou em abril deste ano.

O mercado já trabalha com uma possibilidade de um forte El Niño esse ano, o que pode resultar em um inverno mais úmido e frio no Brasil.

Segundo um relatório produzido essa semana pelo BofA, o Bank of America, no último El Niño forte, na safra 2015/16, a produção global de açúcar caiu cerca de 15%.

O fenômeno altera a colheita pois um inverno mais úmido tem potencial para prejudicar a concentração de sacarose na cana, além de atrapalhar o ritmo da moagem. Com uma menor oferta de açúcar, o preço da commodity pode disparar.

Denise Francisco, do CTC, relembra que o setor sofreu muito nos últimos 10 anos, e em específico nos últimos três, já que foram dois anos de secas históricas e um de chuva forte na época de renovação do canavial.

Para essa safra, a empresa projeta uma renovação de cerca de 15% no canavial, e também um cenário de preços mais favoráveis ao setor. “O açúcar está atingindo um pico e a demanda tem crescido. Somado a isso, a Índia, que é um grande produtor, não está com uma produção tão alta”, avalia.

O caminho para tocar o sino da B3

Uma distância de 150 quilômetros pela Rodovia dos Bandeirantes separa a sede da empresa em Piracicaba, no interior de São Paulo, da bolsa brasileira B3, no centro histórico da maior cidade do estado. Apesar disso, o caminho para o CTC abrir seu capital já está mais próximo.

Os primeiros anos da pandemia aqueceram o mercado de IPOs no Brasil. Foram 28 em 2020 e 52 em 2021. Contudo, em 2022 e até agora em 2023, a janela está fechada para novas aberturas.

Na mesa do CTC, a ideia de abrir capital já é antiga. Desde 2016, por exemplo, a companhia está presente no segmento Bovespa Mais, que é quase que um “esquenta” para empresas que planejam colocar ações no mercado de fato.

Segundo a B3, o módulo foi idealizado para empresas que desejam acessar o mercado de forma gradual. “Esse segmento tem como objetivo fomentar o crescimento de pequenas e médias empresas via mercado de capitais”, afirma o órgão.

A diretora do CTC garante que a empresa está pronta para ir ao mercado e deve aproveitar a próxima janela de IPOs aberta para começar a vender suas ações no mercado.

“Temos uma visão de investimento elevado no futuro, e queremos buscar linhas para complementar o financiamento e continuar nossa robustez. Esse momento de janela fechada também funciona como uma oportunidade para fazermos o CTC ser conhecido e o modelo de negócio entendido”, afirma a executiva.