Desta vão houve surpresas. Como já estava previsto, a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) dos acion istas da BRF aprovou, nesta terça-feira, 5 de agosto, a incorporação da empresa pela Marfrig em um processo de fusão.
Uma única condição, apenas por formalidade, foi incluída no comunicado divulgado no final da manhã pela empresa: “A consumação da Incorporação de Ações está condicionada à aprovação da operação na assembleia geral extraordinária da Marfrig, a ser realizada na presente data”.
Se não havia dúvidas da aprovação na BRF, onde a proposta foi contestada por um grupo de minoritários, é mais do que certa a posição favorável na AGE da empresa controlada pelo empresário Marcos Molina.
Assim, o 5 de agosto de 2025 ficará marcado como a data de nascimento da MBRF, companhia em que serão reunidos ativos e negócios das duas companhias, somando uma receita superior a R$ 150 bilhões, presença em mais de 100 países, mais de 130 mil colaboradores e capacidade produtiva de cerca de 8 milhões de toneladas por ano.
Em menos de 40 minutos, os acionistas da BRF deram um total de 78,39% de votos favoráveis à transação, que dará a eles 0,85 ação da nova companhia para cada ação que detêm hoje na empresa dona das marcas Sadia e BRF.
Os contrários à fusão foram 6,9% e as abstenções somaram 14,6%.
A aprovação era tida como certa. No sábado, 2 de agosto, a BRF já havia divulgado o mapa de votação da AGE, que trazia os votos antecipadamente manifestados por 90% dos minoritários da companhia. Nele, a união das duas empresas já tinha a aprovação de 71,4% dos detentores de ações e ADRs da companhia dona das marcas Sadia e Perdigão.
A relação de troca das ações foi o ponto de discórdia entre alguns minoritários, como o investidor Alex Fontana e o fundo Latache. Eles recorreram à CVM e conseguiram, por duas vezes, adiar a assembleia, cuja primeira convocação havia sido para o dia 14 de junho.
Uma segunda tentativa foi feita para 18 de julho, mas nas duas ocasiões a CVM determinou o adiamento e solicitou mais informações sobre o processo de avaliação que chegou aos valores propostos na fusão.
Com o problema eliminado na esfera acionária, a BRF e a Marfrig se voltam agora a uma contestação da concorrente Minerva na esfera concorrencial.
A empresa da família Vilela de Queiroz tem questionado sobretudo a participação do Salic, fundo soberano da Arábia Saudia, como acionista tanto da própria Minerva quanto de BRF e, a partir da fusão, da MBRF.
No mais recente capítulo desse processo, na quinta-feira, 31 de julho, Gustavo Freitas de Lima, presidente do Cade, assinou um despacho em que intima o Salic a prestar mais esclarecimentos em relação à sua posição acionária três empresas (Minerva, BRF e Marfrig), tanto em relação à participação quanto a direitos de preferência ou exercícios de opção de compra de ações que possam ampliar a participação em cada uma delas.
Somado a isso, pede uma previsão de participação na nova empresa após a concentração dos negócios. O prazo para manifestação do Salic é de 10 dias.
Na segunda-feira, 4 de agosto, véspera da AGE, Marfrig e BRF protocolaram no Cade um ofício em que solicitam uma revisão desse despacho de Lima e a adoção do procedimento regula, com o rito sumário, na apreciação da fusão. Com isso, o processo seria agilizado.
Resumo
- Depois de dois adiamentos, assembleia de acionistas da BRF finalmente aconteceu na manhã desta terça-feira, 5 de agosto, e durou menos de 40 minutos
- Aprovação da fusão contou com mais de 78% dos votos dos acionistas. Apenas 6,9% foram contrários
- Única contestação agora corre na esfera concorrecial, com pedido da Minerva para que o órgão reavalie sua decisão favorável