Há duas formas de enxergar o desempenho da Kepler Weber em 2023 com base no balanço divulgado na noite da quarta-feira, 28 de fevereiro. O olhar otimista vislumbra o segundo melhor resultado anual da história da companhia. O mesmo número, porém, indica um ano de recuo no faturamento e no lucro.

A Kepler Weber combinou os dois tons na divulgação do balanço. Foi positiva ao apontar que espera um cenário favorável em 2024 e destacou que o déficit de armazenagem, somado a oportunidades de negócios com queda de juros e financiamento público, pode impulsionar os resultados do novo ano.

Apesar disso, avaliou que o clima adverso em algumas regiões produtores e o “preço moderado de commodities agrícolas” são fatores que demandam muita atenção para a empresa.

A empresa fechou o ano de 2023 com uma receita líquida de R$ 1,5 bilhão, queda de 16,7% frente ao ano de 2022. O lucro líquido do ano passado ficou em R$ 245 milhões, 35% a menos que em 2022. O lucro anotado em 2022, de R$ 382,5 milhões foi recorde para a empresa, o que acaba pressionando a comparação.

No balanço, a empresa pontuou que a performance de 2023 ficou, de fato, abaixo apenas ao ano anterior.

A Kepler afirma que notou uma aceleração nas vendas no segundo semestre do ano. No terceiro trimestre, a empresa faturou R$ 405 milhões, e no último trimestre, R$ 502 milhões.

Em 2022, a trajetória de receitas seguiu o mesmo padrão, com vendas mais aquecidas nos últimos seis meses do ano.

No segmento “Fazendas”, área de negócio responsável por atender os agricultores brasileiros, atingiu receita líquida de R$ 487 milhões, 25,8% menor que os R$ 656,1 milhões de 2022. Segundo a Kepler Weber, o número foi impactado pela “queda de remuneração dos produtores”.

Nas agroindústrias, a receita somou R$ 548 milhões, 27% abaixo de 2022. A empresa pontuou que no último trimestre de 2023 – quando a receita foi de R$ 198 milhões, número estável frente ao mesmo trimestre do ano anterior –, o resultado foi marcado por investimentos em aumento de capacidade de armazenagens de algumas cooperativas.

“Uma unidade do Mato Grosso do Sul agregou uma receita de R$ 70 milhões nesse período”, pontuou a empresa. Ao longo do último trimestre do ano, a Kepler Weber diz ter vendido ampliações de cinco obras de uma cooperativa no Paraná. Essas obras devem somar R$ 37,8 milhões nos resultados da companhia ao longo do primeiro semestre de 2024.

No segmento de reposição e serviços, a receita foi de R$ 271 milhões, crescimento de 27,9% frente os R$ 211 milhões de 2022.

A Kepler Weber destacou que o resultado alcançado é parte da estratégia de proximidade com os clientes. A empresa citou em comunicado que isso inclui a abertura de novos Centros de Distribuição (CD) pelas principais regiões agrícolas do Brasil, uma agilidade na entrega e a sinergia da equipe de vendas.

A empresa ainda ressaltou que a área de negócio passou a consolidar, entre março e dezembro, os resultados da Procer, líder em tecnologias para armazenagem de grãos. Portanto, a Receita Líquida ajustada pelos efeitos da consolidação da aquisição (sem considerar a Procer) mostraria um aumento de 8,4% sobre 2022.

O último trimestre

Além da receita de R$ 504 milhões no último trimestre, a Kepler Weber fechou o período com lucro líquido de R$ 94 milhões, queda de 16,8% em relação ao mesmo período de 2022.

Lucas Laghi, analista da XP, pontuou em relatório que a empresa apresentou resultados sólidos no trimestre. “No período, que é sazonalmente mais forte, observamos receitas gerais estáveis de Fazendas e Agroindústrias e melhora no desempenho de Reposição e Serviços, impulsionando uma receita que veio acima das nossas estimativas”, declarou.

A XP ainda viu a rentabilidade de 2023 estável, refletindo a demanda mais fraca frente ao “ano atípico” de 2022.

Olhando para frente, Laghi se mostra preocupado em relação à safra 2024/25, devido à rentabilidade dos produtores e à demanda por soluções pós-colheita.

Na Bolsa, os investidores não digerem bem os resultados da empresa. Por volta das 12h30, a ação KEPL3 recuava 2%, cotada a R$ 9,96 o papel. No ano, a ação acumula baixa de quase 6%.