Quinta maior cooperativa agroindustrial do Brasil, a Comigo, com sede em Rio Verde (GO) é uma potência habituada a fazer investimentos vultosos, que ditam o ritmo de seu crescimento. No dia 20 de janeiro passado, por exemplo, inaugurou um novo armazém na cidade de Mineiros.
Trata-se da maior estrutura do gênero no estado de Goiás, com capacidade de armazenamento estático de 3,3 milhões de sacas de grãos. Foram R$ 150 milhões investidos na construção.
A imagem da festa de inauguração não deve, no entanto, se repetir tão cedo. Novos aportes da Comigo devem ficar congelados até o fim deste ano, segundo afirmou ao AgFeed o presidente da cooperativa, Antonio Chavaglia.
“São muitas incertezas, não vamos fazer novos investimentos em 2024”, revelou.
Não é uma decisão frequente nas cooperativas, mas reflete o cenário geral em que estão inseridas. Elas dependem tanto da ponta de venda de insumos, quanto da comercialização e processamento da produção de seus cooperados.
Assim, a posição da Comigo serve como um parâmetro dos impactos que o clima e as cotações das principais commodities têm no setor desde o ano passado.
Na conversa com o AgFeed, Chavaglia lembrou que 2022 foi um ano muito positivo para a cooperativa, com crescimento expressivo. “Mas o cenário piorou em 2023, principalmente em preços, tanto dos grãos quanto dos insumos”, conta.
O balanço do ano passado ainda não foi divulgado pela Comigo. Nos números de 2022, é possível observar que a cooperativa mais que dobrou seu faturamento em dois anos, passando de quase R$ 7 bilhões em 2020 para R$ 15,7 bilhões.
O ano de 2023, segundo Chavaglia, foi marcado pela primeira queda de faturamento da Comigo, pelo menos desde 2018. Segundo antecipou o presidente, foram R$ 13,1 bilhões em receitas, o que representa uma queda anual de 16%.
“Isso porque nós conseguimos aumentar o volume vendido nas lojas em cerca de 15%”, conta o presidente da Comigo.
Ele revela que a situação de parte dos cooperados também está complicada. “Quem arrendou terras, mesmo tendo uma boa colheita de soja, terá dificuldades para fechar as contas da safra. No plantio precoce, alguns produtores estão com uma produtividade de 15 a 20 sacas por hectare. É muito pouco”, disse Chavaglia.
O presidente afirmou que, até o momento da entrevista, a colheita de soja entre os cooperados estava entre 12% e 13% da área plantada e que alguns haviam finalizado o plantio há poucos dias. “Teremos um cenário mais claro a partir de março”.
Para ter um quadro mais claro da cultura de milho segunda safra, portanto, Chavaglia também prefere esperar mais um pouco. Mas, por conta das condições climáticas que levaram ao atraso nas plantações de soja, ele avalia haverá uma queda de produção. “Acredito em uma redução entre 10% e 15% nesta safra”, pontuou.
Para o presidente da Comigo, houve uma melhora em relação às chuvas no começo de janeiro, mas nos últimos 10 dias o clima voltou a ficar mais seco em Goiás. “E quando chove, não é uniforme. Chove em algumas regiões, outras não”.
Perspectiva nada animadora
As incertezas do campo ecoam na área administrativa da cooperativa, impactando os diversos segmentos de negócios, como o varejo de insumos e equipamentos. Assim, em lojas a Comigo também deve ter um ritmo de aberturas bem lento no ano.
“Devemos abrir mais uma, mas também não vamos muito além disso”, adiantou o presidente.
Essa estratégia mais cuidadosa acontece mesmo com um crescimento constante no número de associados. Segundo Chavaglia, hoje são cerca de 11,3 mil cooperados.
“Nós temos uma adição anual que fica entre 500 e mil associados. E agora, estamos passando por uma fase de renovação de pastos, que acontece com a reversão para agricultura. Isso acaba impulsionando o número de cooperados”, contou o presidente da Comigo.
Mas a cautela tem mais a ver com o cenário para o agronegócio não só em Goiás, mas na maior parte do país.
“Perspectiva para a safra 2024/2025 não é boa, porque o produtor está com uma liquidez muito baixa. Talvez no Sul, onde as chuvas estão mais regulares, o cenário seja melhor. Mas aqui em Goiás, Mato Grosso, Matopiba (região que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), as condições são muito desfavoráveis”, disse Chavaglia.
Ao mesmo tempo, ele prefere esperar para traçar uma perspectiva mais exata para a própria Comigo. “Ainda tem muita coisa para acontecer no ano. É preciso esperar mais alguns meses para ter mais clareza”.