O ano de 2023 consolidou a Granja Faria como uma das maiores produtora de ovos do País. A aquisição da Katayama Alimentos, em meados do ano passado, trouxe para seu portfólio uma produção de 700 milhões de ovos para o ano, acirrando a disputa com a concorrente Mantiqueira.
Quando anunciou a compra, Ricardo Faria, CEO do grupo, havia pontuado que projetava um acréscimo de mais ou menos 12% na receita com a aquisição e que almejava, em alguns anos, fazer o grupo bater os R$ 3 bilhões de faturamento.
Os resultados de 2023, divulgados em um balanço arquivado na CVM na semana passada, confirmam o avanço e o peso da estratégia de crescimento inorgânico da empresa. A Granja Faria teve uma receita líquida de R$ 1,86 bilhão no ano passado, um aumento de 56,4% em relação a 2022.
Grande parte desse resultado, algo em torno de R$ 400 milhões, é advindo das aquisições – tanto da Katayama quanto da BL Ovos, que foi anunciada no apagar das luzes de 2022 para 2023.
“O crescimento expressivo nos números da companhia foi impulsionado pelas aquisições expressivas da BL e da Katayama”, afirmou, em entrevista ao AgFeed, o diretor financeiro da empresa, Emílio Bastos. “A segunda, que ainda nem completou um ano, mas já tem uma representação significativa na nossa receita”, afirmou.
As duas aquisições, além de receita, contribuíram para a Granja Faria ganhar alguns terrenos novos no País. Com a BL Ovos dentro de casa, a empresa conquistou a liderança do mercado do Espírito Santo e da Bahia. Na Katayama, ganhou mais espaço no interior de São Paulo.
A BL Ovos foi comprada por R$ 230 milhões pela Granja Faria, e segundo Bastos, é uma empresa que já “nasceu grande”. A posição no estado capixaba ajudou o grupo também a ganhar mercado tanto no Sudeste quanto em parte do Nordeste. A aquisição da Katayama não teve valores divulgados.
Para além do crescimento que veio pelas novas marcas, Bastos ainda ressaltou que a empresa apresentou um crescimento também nas unidades já existentes. No balanço, a empresa apontou que encerrou o ano com mais de 15 milhões de aves alojadas.
“Aumentamos as aves, e notamos preços de venda que também impulsionaram as vendas de ovos em todo País. Somamos esse contexto favorável à atividade de produção de ovos com essas duas aquisições”, afirmou o diretor.
Em uma entrevista recente, o CEO Ricardo Faria, estimou que a empresa tinha, até o final de 2023, cerca de 10% do mercado de ovos. O plano é chegar a 25% em dez anos.
A Granja Faria encerrou 2023 com um lucro líquido de R$ 204,5 milhões. O número representa uma alta de 20% frente ao visto em 2022.
Ao mesmo tempo, a dívida líquida da empresa aumentou em 95% de um ano para o outro e encerrou 2023 em R$ 980,9 milhões. Apesar disso, Emílio Bastos ressalta que a alavancagem da empresa ainda está num patamar “conservador”.
Segundo ele, a relação entre a dívida e o lucro operacional está em 1,3 vez, incluindo os chamados covenants.
“Estamos confortáveis com nossa alavancagem e temos gordura para até dobrar se quisermos, mas esse não é o nosso objetivo. Nas nossas primeiras aquisições atingimos patamares mais elevados do que o atual, mas somos pé no chão”, afirmou.
Quando comprou a Katayama, Ricardo Faria pontuou que o balanço da comprada “estava bem endividado”, mas mesmo assim, Bastos garante que tudo estava dentro do esperado.
Para quitar essa dívida, a Granja Faria deve usar o próprio caixa, e fazer poucos empréstimos, se for o caso. “Fizemos alguns em 2023 para renegociar e reestruturar dívidas da Katayama”.
Assim, o ano de 2024 coloca dois desafios à frente da Granja Faria. O primeiro é continuar a agenda de aquisições para buscar o percentual de mercado almejado pelo diretor-presidente.
Por outro lado, tem um dever de casa a fazer para garantir que as novas empresas do grupo estejam alinhadas com o negócio como um todo.
Nesse sentido, Bastos cita que a Katayama já tem apresentado resultados melhores em 2024 do que em 2023. “Isso se dá por mudanças em processos, sinergias e cultura. É um processo que demanda um pouco mais de tempo, e à medida que o negócio vai desalavancando, os resultados melhoram”, afirmou.
Nas chamadas sinergias, ele pontua que cada adquirida chega com um cenário diferente. Enquanto algumas demandam modernização da operação, outras já precisam de reestruturação de quadro de funcionários.
Na agenda de M&As, a empresa anunciou a primeira aquisição de 2024 há algumas semanas. A Granja Faria comprou, por R$ 36 milhões, a DPB Avicultura, do Rio Grande do Norte, que comercializa a marca Vitagema.
Além da compra, o grupo se comprometeu a investir R$ 60 milhões para mais que dobrar a capacidade produtiva, que hoje está em 400 mil aves, para cerca de 1 milhão de aves até dezembro. Em 2023, a Vitagema produziu 100 milhões de ovos e faturou R$ 51 milhões.
“É uma empresa não tão grande, mas com uma importância grande para nós, pois atua em um mercado que não tínhamos unidade produtiva”, afirmou Emílio Bastos.
O executivo não deu detalhes sobre novas compras, mas garantiu que a empresa continua a olhar o mercado e oportunidades de M&As. Além das compras, ele afirma que a empresa tem ampliado o plantel em alguns aviários, como no Tocantins, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.