Nos últimos anos, a indústria de saúde animal brasileira viveu um baque em termos de receitas com a suspensão de vacinação contra a febre aftosa em diversas regiões do País.

O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) estima que as empresas do setor deixaram de faturar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões por ano com o fim da vacinação contra a aftosa.

Por outro lado, o setor tem vivido um boom de produtos da linha “pet” ou para animais de companhia, como o setor denomina.

O faturamento do setor avançou de R$ 9,1 bilhões em 2021 para R$ 10,8 bilhões em 2023, impulsionado pelos produtos para pets, que têm abocanhado boa parte desse total no período recente. No ano passado, aves e suínos juntos geraram uma receita de R$ 2,4 bilhões, enquanto que cães e gatos responderam por R$ 2,8 bilhões.

Mas isso não quer dizer que o setor necessariamente esteja abandonando os produtos para pecuária e focando apenas nos pets – pelo contrário.

É o caso da multinacional norte-americana Zoetis (se lê Zoétis), uma das maiores produtoras de medicamentos e vacinas veterinários do mundo.

Nesta terça-feira, dia 5 de novembro, a companhia apresentou a jornalistas em sua sede brasileira, em São Paulo, seu mais novo produto, o Valcor, um endectocida lançado pela companhia no País, indicado para o tratamento de parasitas gastrointestinais e para a prevenção de bicheiras e bernes em bovinos e que já é comercializado em outros mercados como Estados Unidos.

"O Brasil vai continuar sendo um país super importante para a produção de proteína animal. Espero que, obviamente, produtos para animais de companhia continuem crescendo, mas também espero que os produtos para animais de produção também cresçam e continuem crescendo", afirmou Luis Xavier Rojas, presidente da companhia no Brasil, em entrevista ao AgFeed.

No terceiro trimestre deste ano, a Zoetis registrou globalmente um lucro líquido de US$ 682 milhões no terceiro trimestre, ante US$ 596 milhões no mesmo periodo de 2023, montante que representa um crescimento de 14%

A empresa não divulga o balanço de sua operação no Brasil, mas a partir dos dados do documento entregue à CVM, é possível ter uma radiografia da operação.

Por aqui, a empresa manteve receitas de US$ 101 milhões no terceiro trimestre deste ano, mesmo número registrado há um ano, mas obteve um crescimento de 9% em sua receita ao longo dos nove primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2023, passando de US$ 276 milhões para US$ 301 milhões.

Para avançar no Brasil, a Zoetis não tem dado prioridade a vacinas para pets. A ideia, segundo Rojas, é que as duas áreas convivam juntas – ainda que, mundialmente, a tendência seja de que o volume de produtos para animais de estimação tenha maior destaque.

Rojas diz que a operação da Zoetis no País já experimenta movimento semelhante – ainda que o segmento de vacinas para animais de produção continue sendo mais expressivo em volume de vendas.

"Nos Estados Unidos, hoje, animais de companhia representam quase 80% das vendas da Zoetis. Pecuária, contando aves, suínos e bovinos, representam 20%. Quando eu entrei na Zoetis, há quase 20 anos, era 35% animais de companhia e 65% animais de produção.”

De acordo com dados do Sindan, os produtos para bovinos representavam 56% da receita da indústria de saúde animal há pouco mais de dez anos, em 2013. Hoje são 49%. Já os ganhos obtidos a partir de produtos para animais de companhia subiram de 15% para 26%.

“No Brasil, a receita com produtos para animais de produção é maior do que os produtos animais de estimação, que está crescendo mais fortemente do que o da pecuária, mas ainda vai demorar anos para que um segmento seja maior que o outro. Como companhia, vemos muitas oportunidades em continuar medicalizando os animais, sofisticando a utilização de saúde animal”, afirma Rojas.

Rojas diz que a companhia também tem lançado vacinas para aves e suínos, e cita como exemplos as vacinas Maternavac Ultra 5, que ajuda na prevenção de doenças pulmonares como bronquite e Doença de Newcastle nos frangos, e Fostera PCV2, protegendo os suínos do circovírus.

Também há bastante investimento em inovação. A companhia não abre o tamanho do aporte em pesquisa e desenvolvimento no País, mas Rojas diz que esse número é de US$ 600 milhões globalmente.

Nos últimos meses, a empresa tem oferecido tecnologias de inteligência artificial preditiva para identificar as doenças de maior risco de incidência e poder oferecer produtos mais adequados ao pecuarista.

Perspectivas para 2025

A Zoetis não chega a ser afetada pelo virtual fim da vacinação contra a aftosa pelo fato de ter deixado esse mercado ainda no primeiro semestre de 2021. “Para nós, era um produto não diferenciado, que a gente tinha que brigar muito para vender com uma margem super baixa”, recorda.

Para o ano que vem, Rojas tem perspectivas positivas para a companhia, especialmente em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Quando eu me coloco em novembro de 2024 e comparo com o que a gente tinha em novembro de 2023, sou muito mais otimista com o que está pela frente hoje”, afirma.

Roja elenca alguns desafios macroeconômicos globais para defender sua tese. “A gente tinha uma inflação super alta, eleições em grande parte do mundo acontecendo, muita incerteza e um risco muito alto de ter uma depressão econômica”, afirma.

Mesmo falando às vésperas da eleição presidencial dos Estados Unidos, com uma disputa incerta entre democratas e republicanos, Rojas acredita que o quadro seja mais tranquilo.

“Estamos com eleições nos Estados Unidos e tivemos eleições em muitos países do mundo. Acho que agora temos uma estabilização. Não tivemos aquele problema econômico que se esperava e temos a expectativa de uma possível recuperação”, afirma.

No Brasil, ele afirma que o cenário traz influências positivas e negativas. Rojas destaca como boa notícia a recuperação dos preços da arroba do boi.

“Começando o ano com uma arroba de boi de R$ 320 traz muitas expectativas boas, de que os pecuaristas vão investir, vão fazer dinheiro, e que a gente vai se beneficiar disso”, diz.

Por outro lado, emenda ele, uma eventual alta do consumo doméstico de carne bovina, em função de preços mais baixos do produto, pode atrapalhar os planos na Zoetis.

“Se os preços baixam e o pecuarista pensa que ele vai perder dinheiro, ele então pode segurar e pode só usar alguns produtos”, afirma.

De qualquer forma, Rojas diz que o setor de saúde animal, de uma forma geral, é resiliente às flutuações econômicas.

“O investimento em saúde animal por parte do pecuarista é de 2%, 3%, possivelmente até 5% em algumas áreas. É bem baixo comparativo com os outros custos e o impacto de não fazer saúde animal bem feita é muito maior na produtividade”, afirma.