O investidor que bate o olho no balanço da Suzano, divulgado na noite de quinta-feira, 8 de agosto, se depara com R$ 11 bilhões negativos em uma das linhas. O número diz respeito ao resultado financeiro líquido (um resultado que não é baseado na operação), que foi impactado pela desvalorização do real frente ao dólar nos últimos meses.
Como a moeda americana é muito representativa para a empresa, que vende em dólar, esse movimento fez a empresa registrar um prejuízo líquido de R$ 3,76 bilhões no segundo trimestre de 2024, revertendo um lucro de R$ 5,07 bilhões visto no mesmo período do ano anterior.
Contudo, se o mesmo investidor olhar a performance do papel SUZB3 na Bolsa hoje, verá uma ação que subia acima 2% na manhã seguinte à publicação do relatório financeiro.
O que explica o bom humor do mercado após um prejuízo bilionário é o fato de, operacionalmente, a Suzano ter reportado resultados sólidos. A geração de caixa, por exemplo, dobrou em um ano, atingindo R$ 4,5 bilhões. O lucro operacional medido pelo Ebitda saltou 60% e bateu os R$ 6,2 bilhões.
A margem Ebitda ajustada foi de 55%, alta de 12 pontos percentuais ante os 43% no segundo trimestre de 2023. Ao mesmo tempo, a dívida líquida medida em dólar ficou estável em US$ 12 bilhões, e a alavancagem em dólar até caiu para 3,2 vezes.
Em relatório, Leonardo Correa, analista do BTG, afirmou que a empresa apresentou um “sólido conjunto de resultados no trimestre, superando os analistas de mercado com uma ampla margem”.
“A superação das nossas expectativas se explica pelo sólido controle de custos e exportações de celulose mais fortes (2% acima)”, afirmou Correa.
Somado a isso, o prejuízo líquido já era algo projetado pelos analistas. Também em relatório, a Genial Investimentos ressaltou que o resultado veio próximo do esperado pela empresa e em linha com o consenso do mercado.
“Como neste momento não há efeito no fluxo de caixa, não entendemos que o prejuízo deverá se refletir em um impacto negativo para as ações ou na mudança de humor dos investidores”, afirmaram os analistas Igor Guedes, Rafael Chamadoira e Iago Souza, da Genial.
O prejuízo se explica por um impacto contábil da variação cambial na dívida, sem efeitos no caixa. Considerando ainda o patamar do dólar elevado, por mais que as despesas sigam na moeda americana, a receita também, o que pode aliviar os próximos balanços.
Outro fator que impacta positivamente a performance das ações nesta sexta foi o anúncio de um novo programa de recompra de ações pela Suzano.
A empresa pretende recomprar até 40 milhões de ações em circulação no mercado nos próximos 18 meses.
A medida funciona como uma remuneração aos acionistas, assim como o pagamento de dividendos. Acontece que os dividendos são originados de um lucro, o que não ocorreu na Suzano.
Quando isso acontece, os papéis comprados são mantidos na tesouraria da empresa. A prática, que é comum dentre as empresas listadas nos EUA, tem o objetivo de gerar mais valor para os acionistas.
“Faremos isso através de uma alocação de capital mais eficiente, considerando o potencial de rentabilidade das ações”, pontuou a Suzano em um fato relevante divulgado nesta manhã.