A Irani, empresa de papel e embalagens, fechou o ano de 2023 com lucro líquido de R$ 383 milhões, um resultado em linha com o visto em 2022. O número encerra um ano decisivo para a empresa, em que a Irani deu tração e finalizou metade dos projetos da Plataforma Gaia, uma das principais promessas do re-IPO que a empresa vem executando desde 2020.

Isso fica expresso no crescimento da dívida líquida de R$ 1 bilhão, 37,2% acima de 2022. A alavancagem da Irani, que mede a relação dessa dívida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) ajustado, encerrou o ano em 2 vezes.

No ano anterior, o indicador estava em 1,38 vezes e no terceiro trimestre, em 2,1 vezes, o maior patamar visto pela empresa desde que o projeto começou. A empresa teve um Ebitda ajustado de R$ 490 milhões, 11% menor que em 2022.

O movimento da dívida ilustra bem a linha do tempo dos desembolsos para financiar o projeto da Plataforma Gaia. A ideia do programa é melhorar eficiência e diminuir custos, e deve custar, no fim das contas, R$ 1,1 bilhão à empresa.

“A redução da alavancagem em relação ao terceiro trimestre de 2023 se deve à redução da dívida líquida e uma geração de fluxo de caixa. Trata-se da primeira redução de uma dívida líquida trimestral desde o início da execução da Plataforma Gaia”, disse a empresa em seu balanço, divulgado na manhã desta sexta (23).

A diretoria da empresa declarou, em um evento realizado em outubro passado, no qual o AGFeed esteve presente, que a Irani já havia desembolsado, na época, R$ 910 milhões com a Plataforma Gaia. Ou seja, faltavam cerca de R$ 100 milhões para a conclusão do projeto.

Ao final de 2023, o desembolso com o projeto atingiu R$ 942 milhões, mostrando que foram R$ 32 milhões investidos nos últimos três meses do ano.

A trajetória da alavancagem ainda mostra que grande parte dos investimentos foram feitos no meio de 2023 e que passaram a arrefecer no último trimestre.

O perfil dessa dívida se relaciona diretamente com os investimentos no Gaia e soma captações de recursos que a empresa fez no mercado com operações de CRA, debêntures e linhas do BNDES.

Antes do último trimestre do ano, dentre os projetos da Plataforma Gaia que estavam finalizados constavam o Gaia 2 (que diz respeito à expansão da capacidade de embalagens em Santa Catarina) e o Gaia 8 (que corresponde à compra de uma impressora de corte e vinco).

A empresa terminou as etapas Gaia 1, Gaia 3 e Gaia 7 no final de 2023, cumprindo o cronograma que havia sinalizado no terceiro trimestre. A primeira etapa tem o objetivo de expandir a recuperação de resíduos, a segunda, de uma reforma de uma máquina de papel, e a última, de ampliação de uma unidade.

A expectativa da empresa é que "grande parte dos retornos" obtidos com a Plataforma Gaia já serão sentidos nos resultados de 2024.

O faturamento líquido da empresa fechou o ano em R$ 1,5 bilhão, uma baixa de 5% frente a 2022. Esse recuo foi atribuído pela Irani a uma redução de volume e preços no segmento de papel para embalagens sustentáveis e de resinas sustentáveis.

Mesmo com a baixa na receita, a margem Ebitda da Irani encerrou o ano em 30,8%, equivalente ao patamar atingido em dezembro de 2022.

“2023 foi marcado por uma retomada mais intensa no consumo de serviços e experiências fora de casa, o que reflete diretamente na demanda por embalagens. Mesmo com esse cenário, foi possível manter a normalidade das nossas margens”, destacou em comunicado oficial o diretor de Administração, Finanças e de Relações com Investidores da Irani, Odivan Cargnin.

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No terceiro trimestre de 2023, a Irani reportou um lucro líquido de R$ 7 milhões, uma queda brusca de 91% quando comparado aos mesmos meses em 2022, quando a empresa tinha registrado R$ 85,9 milhões no indicador.

Segundo a Irani, o resultado foi impactado por dois eventos. O primeiro está relacionado a uma variação negativa do valor justo dos ativos biológicos da empresa, que ficou negativa em R$ 26 milhões. De acordo com a empresa, isso se deu pela estabilidade do preço da madeira no período.

Outro fator foi o reconhecimento de um impairment, uma baixa contábil não recorrente, de propriedades para investimentos, que foram imobilizados e mantidos para a venda. Isso impactou o resultado final em mais R$ 28,1 milhões.

A receita líquida do trimestre somou R$ 385 milhões, baixa de 5,7% na comparação anual entre os trimestres.

A empresa ainda somou um Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 111,8 milhões, 6,2% abaixo do ano anterior.

Na Bolsa, os investidores não reagem bem ao anúncio no início do pregão. Por volta das 11h30 desta sexta, a ação RANI3 apresentava baixa de quase 7%, cotadas próximas aos R$ 10.

Somado aos retornos que a diretoria espera já colher em 2024 com a Plataforma Gaia, Odivan Cargnin ainda afirmou, em comunicado oficial, que o novo ano já mostra aspectos positivos na demanda.

Ele citou os dados da Empapel (Associação Brasileira de Embalagens em Papel), que mostra que o Índice Brasileiro de Papelão Ondulado (IBPO) registrou avanço de 5,3% em janeiro, comparado ao mesmo período do ano anterior.

“A elevação da demanda neste início de 2024 vem de fatores que devem seguir estimulando o consumo ao longo do ano, especialmente o ciclo de queda de juros na economia brasileira e norte-americana. A melhora no nível de emprego e a inflação controlada no País se somam a esse movimento”, disse.