Em uma entrevista ao AgFeed no começo de maio passado, o publicitário Nizan Guanaes foi incisivo: “O agro brasileiro é internacional, mas não é global”, afirmou. Em outras palavras, apesar de fazer muitos negócios com centenas de países, o país e seus produtores não são reconhecidos como aqueles que, efetivamente, produzem para alimentar o mundo.
A visão de Guanaes foi agora expressa em dados em um amplo levantamento realizado na Europa e divulgado nesta quinta-feira, 26 de outubro, durante o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio.
A pesquisa “Percepção do Agronegócio Brasileiro na Europa” mostrou que, embora a União Europeia tenha sido, em 2022, responsável por adquirir 16% dos produtos agrícolas exportados pelo Brasil, mais da metade da população do Velho Continente ainda possui um elevado grau de desconhecimento sobre a origem desses alimentos.
Segundo o estudo, 57% da população que respondeu a uma pesquisa sobre o tema mostrou falta de conhecimento sobre o agro brasileiro. Do total, apenas 11,2% responderam que conhecem bem o setor.
Conduzida pela consultoria europeia de ‘Brand Value Management’ OnStrategy, com coordenação da Biomarketing, patrocínio da Serasa Experian e apoio da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), a pesquisa abrangeu um universo de 590 mil pessoas, divididos em três categorias: cidadãos comuns, jornalistas ou distribuidores. Eles deram suas percepções para os pesquisadores no Reino Unido, França, Alemanha e República Tcheca.
Entre o maior público, na categoria cidadãos, está o maior desafio de fazer do agronegócio brasileiro uma marca global, segundo o conceito de Guanaes. Menos de 8,8% dos entrevistados afirmam conhecer bem o agronegócio do Brasil.
Nos quatro países em que foi realizada a pesquisa, o percentual de pessoas que sabem algo sobre o agro brasileiro ficou entre 36% e 40% dos entrevistados. Na categoria jornalistas, esse percentual fica entre 61% e 77%, e nos distribuidores, de 79% a 86%.
Já entre os jornalistas, foram os franceses os que demonstraram maior percentual de conhecimento, com 31,1%.
“A pesquisa foi o primeiro levantamento feito sobre a percepção europeia quanto ao agro brasileiro”, afirmou, no evento de apresentação, o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta. “Para qualquer estratégia ou ação de melhoria é necessário, primeiro, saber onde estão as questões a serem trabalhadas”,
Dentre os produtos brasileiros exportados, o café foi o mais conhecido nos três tipos de entrevistados, com índices que superam 75% de reputação positiva. Não por acaso, foi o que teve uma das mais consistentes campanhas de marca, com o Café do Brasil, mas que já há algumas décadas não é mais veiculada.
Já os produtos classificados como “produtos florestais”, tiveram menor percentual de conhecimento, com um índice de 40% de reputação positiva. A percepção do estudo é que a associação ao desmatamento pode ter interferido na opinião.
Ao mesmo tempo que mostrou esse desconhecimento, a pesquisa e os organizadores também destacaram que o setor tem uma vasta oportunidade de criar uma narrativa mais assertiva e integrada.
"Ficou evidenciado que a comunicação é o ponto chave para enfrentar o maior dos desafios encontrados: o desconhecimento do Brasil e da sua grandeza. Portanto, diante deste cenário, a grande oportunidade é comunicar as realidades do agro nacional, que são muito maiores e melhores do que as percepções”, comenta José Luiz Tejon, sócio da BioMarketing.
Já para Pimenta, da Serasa Experian, trabalhar com mais transparência, rastreabilidade e dados pode mudar o jogo. “Esses itens podem dar aos credores uma possibilidade melhor de analisar produtores rurais, para que eles tenham mais acesso à crédito”, diz.
A diretora-executiva da ABAG, Gislaine Balbinot, ressaltou que a atuação em projetos e ações que levem esse conhecimento a escolas, por exemplo, pode ser peça-chave para melhorar os indicadores.
“A pesquisa mostrou que realmente devemos trabalhar a construção dessa narrativa de forma integrativa, envolvendo a educação, a divulgação de informações corretas e a mídia”, diz.
Ou, como afirmou Nizan Guanaes na entrevista, “o agro brasileiro tem de parar de se lamentar e precisa entrar no ringue para lutar. Se você não cria a sua narrativa, seus concorrentes criam. E o agro brasileiro tem concorrentes poderosos”.