Campinas (SP) - Profissionalizar uma cooperativa agrícola com 60 anos de tradição é uma tarefa difícil de se iniciar. Quando essa profissionalização é acompanhada de um verdadeiro choque de gestão, pode haver ainda mais resistência.
Mas no caso da cooperativa mineira Minasul, sediada em Varginha, os resultados têm mostrado que o processo e todas as dificuldades valem a pena.
Com um faturamento de R$ 1,8 bilhão no ano passado – e a projeção de repetir o resultado neste ano –, a Minasul experimentou um crescimento bastante rápido nos últimos oito anos, após a entrada de José Marcos Magalhães na presidência da cooperativa.
Em entrevista ao AgFeed, durante o 10° Encontro Nacional da Cooperativas Agropecuárias (Enca), realizado em Campinas (SP), Magalhães revela que quando assumiu o cargo, em 2016, a Minasul faturava cerca de R$ 400 milhões. Ou seja, nesse período, o salto de receitas foi de 4,5 vezes.
“Somente em insumos, nós saímos de R$ 60 milhões em receitas para R$ 720 milhões em seis anos. São 12 vezes mais, é como se tivéssemos crescido duas cooperativas por ano”, conta Magalhães.
Se o crescimento da revenda de insumos foi um dos motores da Minasul nos últimos anos, deve ser o setor a segurar um novo aumento de receita em 2024. Segundo Magalhães, assim como o setor de distribuição como um todo, a cooperativa também sentiu, nessa área, efeitos da queda efetiva dos valores de fertilizantes e defensivos nos últimos meses, que tem reflexo direto no caixa da organização.
Por outro lado, os insumos mais baratos oferecem oportunidades de melhor rentabilidade aos cafeicultores, que formam a base dos associados da Minasul. O próprio presidente é cafeicultor e um dos trunfos de sua gestão foi abrir as portas do mercado externo para o café produzido pelos cooperados.
Ao chegar à cooperativa, conta Magalhães, ainda não havia exportação do produto. “Hoje nós exportamos 625 mil sacas de café por ano”, conta. Os cafés da Minasul chegam a 45 países.
Uma das estratégias para conquistar clientes externos foi estudar as preferências dos consumidores em cada um dos países e entender as preferências deles antes de oferecer os produtos da cooperativa. E, para cada continente, foi montado um modelo diferente de atuação.
Hoje, a cooperativa tem três unidades internacionais, a Minasul USA, Minasul Europe e Minasul Asia, qiue têm como objetivo estreitar os laços com esses mercados.
Nos Estados Unidos, por exemplo, uma das questões que exigiu mais atenção foi a logística, de forma a atender rapidamente os clientes. A cooperativa pesquisou armazéns nas duas costas do país e estabeleceu joint ventures com operadores locais para reduzir o investimento de abertura de operações próprias.
Já na Europa, ao invés de parcerias com vendedores, o primeiro passo foi se associar a um consultor de cafés especiais, já que a demanda do consumidor europeu é por produtos de maior qualidade. A partir daí, foi organizado um tour por várias capitais, em que a Minasul apresentou seus cafés a torrefadores.
“Nós tínhamos acertado também com um investidor estrangeiro um aporte de R$ 1 bilhão, para fornecimento de matérias-primas que seriam industrializados no exterior, e a Minasul teria uma co-participação. Mas esse investidor pisou no freio quando mudou o governo”, conta o presidente.
Atualmente, a Minasul tem cerca de 10 mil cooperados e mais de 400 funcionários. A sede fica em um complexo de 143 mil metros quadrados, com uma área construída de 40 mil metros quadrados.
Além da sede, a cooperativa possui 15 unidades no sul de Minas Gerais. A estrutura de armazenamento tem capacidade para 2,2 milhões de sacas de café e o número de sacas comercializadas por ano também gira em torno de 2 milhões.
Magalhães afirma que já está no planejamento da cooperativa um investimento de aproximadamente R$ 30 milhões na construção de um novo silo para armazenagem e beneficiamento de grãos, que ainda não tem localização definida.
Terceira cooperativa de MG
Em 2019, no segundo ano de gestão, Magalhães montou um plano para a Minasul até 2030, com um objetivo muito claro. “Queremos ser a terceira maior cooperativa agropecuária de Minas”, afirma.
Dentro deste plano, a Minasul quer ampliar sua atuação para além do café, com grãos e também com proteína animal, especialmente com leite, cultura que é muito forte no sul de Minas Gerais.
O executivo não revela o quanto isso vai significar em faturamento e ressalta outras iniciativas. “Queremos aumentar a presença internacional e a industrialização. Inclusive a nossa revista vai se transformar em uma publicação científica”.
Magalhães tem décadas de experiência em gestão, atuando em grandes empresas principalmente do setor de telecomunicações. Ele conta que já estava aposentado quando foi chamado pela Minasul.
Logo após assumir a presidência, o executivo traçou um plano de 100 dias para a cooperativa, reestruturando várias áreas que tinham processos ultrapassados, promovendo inclusive a digitalização destes processos.
“Nós fizemos uma parceria com a Fundação Dom Cabral, uma das melhores escolas de negócios do mundo, para nos ajudar nessa transformação da Minasul. Foi um trabalho muito grande de profissionalização”.
Magalhães conta que, por isso, enfrentou muita resistência dentro da cooperativa. “Mas hoje, nós queremos inclusive ser uma das melhores cooperativas para se trabalhar. Faz parte do planejamento até 2030”.