A médica-veterinária Fernanda Hoe, hoje CEO da Elanco Animal Health no Brasil, já enfrentou muitos desafios ao longo de 20 anos de carreira. O principal deles era por muito tempo ser a única mulher no universo masculino da pecuária, o que foi tirando de letra.

Por isso, garantiu ao AgFeed que não se assusta com o atual “ciclo de baixa” do setor e mantém os planos de seguir aumentando receita e trazer mais reconhecimento para a empresa, sobretudo nas ações voltadas à sustentabilidade.

"A Elanco vê o Brasil como um mercado que cresce ano a ano, em todas as áreas, todas as espécies, por isso é superimportante para a empresa continuar crescendo aqui”, destaca Hoe.

A empresa não divulga números de faturamento no mercado brasileiro, apenas a receita global. Recentemente, elevou levemente sua previsão para o ano de US$ 4,35 bilhões para US$ 4,41 bilhões em 2023. O resultado, contudo, ainda ficará abaixo dos US$ 4,7 bilhões alcançados em 2022.

Sem revelar valores ou percentuais, a CEO afirmou que no Brasil “a Elanco vai crescer sim este ano”. O desempenho deve ajudar a companhia globalmente a evitar maiores perdas no período, já que nos resultados divulgados do segundo trimestre, por exemplo, a explicação para os prejuízos mais altos foi relacionada a problemas na Europa e nos Estados Unidos.

Fernanda Hoe disse ao AgFeed que, normalmente, a empresa tem avançado "em linha com o ritmo de crescimento do mercado, embora em alguns momentos seja possível ficar acima da média e outros abaixo".

Estima-se que a média histórica de crescimento da indústria de saúde animal no Brasil na última década esteja próxima de 10% ao ano.

No Brasil, cerca de 30% do faturamento da Elanco vem do mercado pet e 70% dos produtos destinados aos animais de produção. Já globalmente a divisão está hoje empatada entre os dois mercados, informa a executiva.

"É possível que a participação do mercado pet aumente no Brasil também, mas dificilmente teremos esta mesma divisão porque aqui a produção de proteína animal é muito forte”, explica.

A pecuária brasileira vem enfrentando queda de preços, com reflexos para produtores e diferentes elos da cadeia.

"Mas estamos conseguindo ter relativamente um bom ano, com este trabalho de conscientização do produtor sobre a importância de continuar investindo no programa sanitário", afirma Fernanda Hoe.

Ela lembra que não é a primeira vez que o mercado enfrenta dificuldades, trata-se de um ciclo pecuário. "Já esteve assim em outros momentos e sempre conseguimos superar".

A executiva confirma que o mercado que tem mais crescido é o pet, mas que também espera avanço grande em vacinas e produtos preventivos, área que a Elanco tem trabalhado principalmente em aves e suínos.

Estratégias para manter crescimento

Os três pilares estratégicos da empresa são inovação, portfólio e produtividade, tanto no Brasil, quanto globalmente.

E a ação mais recente por aqui foi relacionada ao complemento de portfólio, fruto de um time de pesquisa e desenvolvimento montado no Brasil para atender as características específicas da pecuária a pasto, de clima tropical, bem diferente do Hemisfério Norte.

Um carro chefe da Elanco no mercado brasileiro são os parasiticidas, mas faltava uma linha de produtos de alta concentração para atender os animais na fase de recria, que é a mais longa.

O produto lançado no fim de agosto é um chamado endectocida, capaz de tratar simultaneamente carrapato, bicheira e vermes nos rebanhos de corte.

Apesar de pesquisa, formulação e lançamento terem ocorrido no Brasil, a produção em escala está sendo feita a partir de uma fábrica que fica na Ásia.

A Elanco tem uma unidade de produção no Brasil, em Barueri (SP), além de atuar com plantas de terceiros. A decisão de produzir um determinado item aqui ou em outro país "é resultado de uma avaliação de eficiência de manufatura”, levando em conta quais mercados serão atendidos. “Há produtos fabricados no Brasil que são exportados para os Estados Unidos", afirma Hoe.

Além de portfólio, a CEO diz que o diferencial para seguir crescendo é a estratégia de agregar valor aos produtores, baseada na venda consultiva.

"A proposta é ir além da venda do produto, apresentando um programa sanitário, com treinamento de funcionário de fazenda, de manejo dos animais, de bem-estar animal, sustentabilidade, levando mais informação sobre o que produtor pode fazer para ser mais sustentável e que ajude a neutralizar questões climáticas", ressalta.

Nesse sentido, a Elanco diz já estar conseguindo bons resultados. Um deles foi a busca de certificações para a empresa e para determinados produtos do portfólio. Recentemente recebeu o selo da FairFood de "empresa amiga do bem-estar animal” e, após diferentes auditorias, também teve produtos certificados neste quesito.

"Com isso surgiu um interesse grande por parte dos clientes de ver justamente como podem comunicar melhor o que fazem em prol do bem-estar animal e das boas práticas que adotam", conta Fernanda.

Ela diz que a empresa não se envolve diretamente, mas tem ajudado a colocar os produtores em contato com as certificadoras.

Tendências no setor

A CEO da Elanco acredita que a indústria de saúde animal buscará cada vez mais produtos que facilitem o trabalho de aplicação nas fazendas, mas também com foco no bem-estar animal.

"Outra prioridade, em sustentabilidade, é tecnologia e inovação para reduzir as emissões de gases por bovinos", destaca.

A Elanco ajudou a fundar o consórcio global Greener Cattle Initiative, que reúne diversas empresas e startups para o desenvolvimento destas tecnologias.

"Já temos várias pesquisas bem encaminhadas neste sentido e a Elanco terá produtos num futuro próximo”, diz Hoe, evitando dar detalhes.

Se depender da executiva, outra tendência seguirá crescendo – a participação das mulheres na área de saúde animal.

No Brasil, Fernanda Hoe é a única CEO mulher entre as grandes indústrias do segmento e, no conselho do setor, continua sendo a única representante feminina.

Ela diz que na Elanco, atualmente, as mulheres já estão em metade das posições de liderança, enquanto no mercado em geral ainda seria cerca de 30%.

"Estou contente com o patamar que conseguimos chegar e vejo outras empresas se movimentando para isso também", diz, garantindo que hoje já não sente tanta diferença no tratamento dado às mulheres, diferentemente da época em que era recém-formada e visitava fazendas, lidando com um universo quase 100% masculino.