O setor florestal sempre esteve no DNA da multinacional americana Oregon Tool.
Desde sua fundação na década de 1940, a empresa construiu sua trajetória fornecendo equipamentos de corte para o segmento, seja para motosserras, o que deu origem ao negócio criado por Joe Cox, chegando até os gigantes Harvesters florestais.
Enquanto expandia sua atuação globalmente, a empresa viu o Brasil como um território fértil para crescer diante de um dos maiores mercados florestais do mundo.
Foi em Curitiba, no Paraná, que a Oregon construiu sua única fábrica no Hemisfério Sul, nos anos 1970. Atualmente, 80% do faturamento da companhia vem das vendas para o segmento de florestas.
A companhia hoje fabrica diferentes componentes usados em motosserras e equipamentos de colheita florestal, sendo líder em alguns segmentos de mercado. Mesmo assim, pretende crescer sua receita na América Latina, com grande ajuda do agronegócio.
Com o setor florestal já mais maduro e com crescimento limitado, a Oregon Tool aposta na agricultura familiar para expandir suas vendas na América Latina, onde já fatura 10% do que movimenta no mundo em mercados como Brasil e Argentina.
Em entrevista ao AgFeed, o vice-presidente de vendas e marketing da empresa para a América Latina, Fábio Nardelli, disse que a companhia projeta aumentar em 15% a receita no continente este ano, uma meta ousada e bem acima da média do setor, que segundo ele, gira em torno de 2% e 3% ao ano.
A companhia foi adquirida em 2021 pelo fundo de private equity Platinum Equity, e no começo deste ano, anunciou uma captação de US$ 150 milhões para reforçar sua liquidez e se preparar para ganhar mercado.
No continente, a estratégia para crescer está em ganhar mercado fora das grandes empresas do setor florestal, tanto em pequenos produtores quanto em usos domésticos. A companhia também realizou uma reorganização na sua rede de distribuição.
Considerando a operação global, 80% do negócio está na divisão florestal, 15% em equipamentos agrícolas, que são vendidos a partir da marca Woods, adquirida em 2011 por US$ 185 milhões, e outros 5% na construção civil.
No Brasil e América Latina, a empresa atua nas duas primeiras vertentes, mas com foco na primeira. O modelo de negócio contempla tanto a venda no mercado de reposição, feita a partir de 40 distribuidores, quanto a venda direta para fabricantes como John Deere, Komatsu, Husqvarna e Stihl, focada em máquinas e equipamentos de pequeno porte.
“São clientes com acordos globais com a Oregon, que também são clientes nossos lá fora. Nesse modelo, é colocado a marca dessas empresas por cima da nossa fabricação”, explica.
Dentro da divisão florestal, Nardelli estima que a parte mecanizada, que envolve grandes maquinários (harvester e escavadeiras) e grandes empresas como Bracell, Suzano e Klabin, corresponde a 13% do negócio.
O restante fica na venda de equipamentos para motosserras. Ele explica que a tecnificação do setor florestal no continente só é vista no Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. No restante, até pela dinâmica do relevo mais complexo para entrada de maquinário maior, é feita com equipamentos menores.
Além das correntes e sabres, a empresa ainda comercializa fios de nylon para roçadeiras e lâminas para cortadores de grama.
Nesse segmento mais tecnificado, Nardelli estima que a Oregon Tool é dona de 85% no mercado de correntes, que fazem efetivamente o corte das árvores, e nos sabres, a parte metálica que suporta a corrente, algo em torno de 50%.
A Oregon considera que existem três mercados de atuação: profissional (voltado para equipamentos de grandes empresas do setor florestal), semi-profissional e hobby.
Nardelli considera que o segmento profissional “não tem crescido tanto”, e por isso a companhia aposta nos seguintes para cumprir a meta para o ano.
“Agricultura familiar tem crescido com mais intensidade nos últimos anos, então estamos preparando um pipeline para atendê-lo”, disse.
Enquanto o segmento hobby engloba o uso ocasional de máquinas, como no corte de galhos para jardinagem ou de lenhas para lareira, o segmento semi-profissional abrange produtores que precisam de ferramentas para podas de árvores menores que não o eucalipto, manutenção de cercas e outras atividades no dia a dia do campo.
Além de notar uma necessidade de maior mecanização dos pequenos agricultores, Fábio Nardelli cita que alguns produtores um pouco maiores, que poderiam ser considerados até “profissionais”, com menos poder aquisitivo em meio a um cenário complexo de inflação e alta de juros, têm comprado equipamentos de menor porte.
“Temos alguns lançamentos futuros também na linha profissional, mas é onde já temos portfólio robusto, temos melhorias e lançamentos, mas não muitos. Já no segmento hobby e semiprofissional precisamos ampliar para captar mais o mercado”, afirmou o vice-presidente.
Para ancorar essa estratégia de crescimento, a Oregon reorganizou sua relação com distribuidores pelo continente. A companhia está presente em 110 países, e só na América Latina, são 23.
Na prática, a empresa trocou alguns distribuidores. Segundo o executivo, players que não atendiam a algumas exigências da corporação e não estavam tão preparados para os planos de crescimento da empresa foram substituídos.
“Realizamos estudos e percebemos que, mesmo com presença nesses locais, não chegamos em algumas regiões de forma efetiva. Fizemos um movimento bem importante no Brasil, que representa 50% do faturamento da empresa na América Latina”, diz.