“A Minerva reportou um trimestre de difícil leitura, com destaque para o desempenho operacional, embora ofuscado pelo ajuste de hiperinflação e câmbio da Argentina. No pregão de amanhã, esperamos um desempenho negativo para o papel”.

A avaliação de Leonardo Alencar, analista da XP, em relatório publicado na noite de segunda-feira, 25 de março, logo após a divulgação do balanço referente ao quarto trimestre de 2023 e ao ano completo da Minerva, se concretizou algumas horas depois.

O resultado anual, que mostrou um lucro líquido de R$ 395,5 milhões (39,6% menor que o do ano anterior) e uma receita de R$ 26,8 bilhões (13,2% abaixo de 2022), frustrou o mercado. Na tarde da terça-feira, 26, por volta das 13h30, o papel BEEF3 tinha uma desvalorização de 10%.

Alguns fatores operacionais da empresa pesam para a performance do papel. O principal deles, segundo analistas, é um impacto de R$ 1,5 bilhão nos resultados causado pela desvalorização da moeda argentina ao longo de 2023, que foi integralmente contabilizado no último trimestre.

O analista do BTG Pactual, Thiago Duarte, afirmou, também via relatório, que a empresa apresentou “um trimestre confuso devido à Argentina”.

“Os resultados do quarto trimestre de 2023 da Minerva foram poluídos pelo impacto contábil não caixa, que levou ao reconhecimento de receitas negativas em reais na Argentina e a um impacto no faturamento”, afirmou.

No último trimestre, o lucro líquido da Minerva foi de R$ 19,8 milhões. No mesmo período de 2022, a empresa anotou prejuízo líquido de R$ 25,7 milhões. Na mesma comparação, a receita líquida recuou 9,8%, para R$ 6,16 bilhões.

Em uma mensagem divulgada junto com o balanço, o diretor presidente da Minerva, Fernando Galletti de Queiroz, pontuou que 65% da receita bruta da empresa, que ficou em R$ 28 bilhões, foi advinda de exportações.

“Isso demonstrou que o mercado internacional de carne bovina segue sólido e aquecido, provendo oportunidades para os exportadores sul-americanos”, afirmou.

A receita bruta com exportações ficou, assim, em R$ 18 bilhões, e o mercado interno alcançou R$ 10 bilhões no ano de 2023. Interno, o número veio em linha com o visto no ano anterior, enquanto que o resultado do mercado externo recuou 17,5% frente a 2022.

O desempenho local melhor que o externo é explicado, segundo Queiroz, por um momento de recuperação no País, que conta com um ciclo pecuário positivo aliado ao cenário econômico favorável. “São fatores que, naturalmente, acabam por incentivar o consumo local”.

Em 2023, a empresa abateu 3,8 milhões de bovinos, ou 3,3% a mais do que no ano anterior. O volume consolidado de abate de ovinos, das operações na Austrália, alcançou 3,9 milhões de cabeças abatidas no total do ano de 2023.

O que esperar para 2024?

Na avaliação da Genial Investimentos, o ano de 2024 deve ser similar à 2023 em termos operacionais, com a Minerva lidando com um ciclo pecuário positivo no Brasil e Paraguai e com uma reversão de ciclo no Uruguai.

Do lado negativo, Lucas Bonventi, analista da corretora, pontuou em relatório que a operação que envolve a Argentina deve seguir enfrentando dificuldades por conta do ambiente macroeconômico difícil no país.

“Esperamos ver uma receita líquida impulsionada por um aumento nos volumes de venda na maioria das regiões, enquanto o preço médio de venda da carne bovina no mercado internacional deverá permanecer estável”, projeta Bonventi, da Genial.

A Genial projeta uma demanda chinesa crescente no longo prazo, mas num ritmo mais lento no curto prazo. “Em termos de margens, projetamos uma expansão sequencial nos próximos trimestres, puxada por Brasil e Paraguai”, conclui.

O grande ponto de dúvida quanto à Minerva, e que ajuda a pesar na performance negativa do papel nesta terça, é a aprovação ou não da compra dos ativos da Marfrig por parte do CADE.

Em agosto passado, a Minerva anunciou que comprou 16 plantas de abate e desossa da Marfrig na América do Sul e um centro de distribuição por R$ 7,5 bilhões.

São 11 plantas no Brasil, três no Uruguai, uma na Argentina e uma no Chile. A expectativa é que a produção da empresa aumente em 50% com as plantas incorporadas.

Essa indefinição deixa o mercado financeiro e os analistas que acompanham a empresa ainda receosos em projetar o futuro dos papéis da empresa, que despencam nesta terça.

Nos últimos 12 meses, a queda é mais brusca, de quase 43%. Hoje, o papel é negociado na B3 por volta de R$ 5,60. Em março do ano passado, estava próximo aos R$ 11,40.

“Esse balanço do quarto trimestre mostra um final agridoce após um ano tumultuado, um sentimento que deve perdurar até que esse negócio se concretize”, disse Alencar, da XP, em relatório.