Durante dois anos seguidos, a BRF teve muita dificuldade para apresentar bons balanços ao mercado. A companhia registrou prejuízos causados por vários fatores, como preço dos grãos utilizados como ração para os animais criados nas granjas e menor demanda global por carnes.
Desde o final do ano passado esse cenário se inverteu e a dona da Sadia e Perdigão tem apresentado recorde atrás de recorde.
No segundo trimestre deste ano, que engloba o período de abril a junho, a empresa anotou um lucro líquido de R$ 1,1 bilhão, revertendo um prejuízo próximo de R$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2023.
A receita líquida da empresa cresceu 22,3% em comparação ao mesmo período de 2023 e atingiu R$ 14,9 bilhões. Em uma coletiva de imprensa para apresentar o resultado, o CFO da empresa, Fábio Mariano, ressaltou que, do faturamento, R$ 6,9 bilhões vieram do Brasil e pouco mais de R$ 7 bilhões vieram de vendas do exterior.
O aumento é reflexo das novas 32 habilitações para exportação conquistadas pela BRF no trimestre, No acumulado de 2024, são quase 60 novos destinos aptos a receberem produtos da empresa.
“Crescemos em volume e em receita. Na comparação com o mesmo período no ano passado, o faturamento internacional cresceu 17%, principalmente por conta da exportação direta, totalmente relacionada com as novas habilitações”, contou.
A empresa destacou as vendas para mercados do Reino Unido, Estados Unidos e países do Golfo, que ainda representam grande parte dessa receita. No mercado interno, as vendas com embutidos e margarinas impulsionaram o número, assim como as linhas de congelados e de frios.
O resultado veio acima do que projetava o mercado. A XP, por exemplo, esperava um lucro líquido de R$ 768 milhões e uma receita de R$ 14,2 bilhões. Na avaliação de Leonardo Alencar, analista da casa, a demanda forte de exportação e o câmbio mais favorável iriam impactar os resultados.
“O aumento de preços e o controle de custos devem se traduzir em melhores margens, enquanto também esperamos que o poder de arbitragem da BRF se beneficie das recentes habilitações de plantas”, projetou Alencar antes de os resultados serem divulgados.
A empresa se beneficia também de um mix de baixo custo por conta dos preços de grãos em patamares menores do que em anos anteriores e também pela demanda em alta pela proteína no mundo.
O CEO da BRF, Miguel Gularte, ressaltou que a demanda global somada às habilitações permitem uma escolha de mercado, o que permite à empresa não renunciar aos bons preços.
“Conseguimos transitar nossos produtos em mercados onde a demanda e oferta está equilibrada e favorável. Esse período de equilíbrio parece mais estável e prolongado, olhando para a frente”.
Leonardo Dallorto, vice-presidente de Mercado Internacional e Planejamento da BRF, ainda destacou que a produção global de milho, considerando boas safras na Argentina e nos EUA, ajuda nesse resultado.
Sem (muitos) problemas com Newcastle
Segundo Gularte, a suspensão das exportações por conta do caso da doença de Newcastle em Anta Gorda (RS) impactou as operações da BRF, mas ele afirmou que a organização interna da empresa e a diversificação de plantas e países importadores diminuíram o prejuízo.
Os resultados serão sentidos somente no próximo balanço. “A melhor alternativa é sempre ter várias alternativas, e isso se fez verdade. O Brasil e a BRF, em particular, por conta dos mercados que abriu, podem tomar decisões de forma rápida”, afirmou o CEO da BRF.
Nesta quarta-feira, 14 de agosto, o Ministério da Agrocultura e da Pecuária (Mapa) anunciou a retomada das exportações de carne de frango do Brasil pela China. De acordo com o Mapa, apenas embarques provenientes do estado do Rio Grande do Sul seguem com embarques suspensos
Em nota, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) pontuou que, mesmo com a suspensão para o maior comprador, os impactos no fluxo de exportações foram baixos, pois houve um redirecionamento temporário das cargas para outros mercados demandantes dos mesmos produtos que são enviados à China.
“A ABPA ressalta a rapidez e transparência com que a situação foi identificada, processada e finalizada pelo Ministério. Também ressaltamos o grande engajamento da embaixada brasileira e especialmente da adidância agrícola no esclarecimento junto às autoridades chinesas”, afirmou a entidade.