A imagem viralizou nas redes sociais, como um símbolo da prosperidade do agronegócio brasileiro. Dezenas de aviões estacionados ao lado da pista de asfalto da Fazenda Conforto, em Nova Crixás, no Vale do Araguaia (GO), indicavam que algo relevante havia atraído pesos pesados do setor para o local.
Passada uma semana, o balanço daquele encontro dá outra dimensão ao evento realizado ao lado do maior confinamento do País. Segundo adiantou ao AgFeed o CEO da Conforto, Sérgio Pellizzer, a partir das conversas entre cerca de mil convidados presentes devem ser gerados, apenas para as empresas do grupo, cerca de R$ 350 milhões em negócios.
“Acho que a gente inaugurou um novo patamar em termos de evento no agro”, afirmou Pellizzer sobre a primeira edição do Conforto Experience.
Privado e restrito a convidados do grupo e seus parceiros, o encontro combinou networking com palestras e uma espécie de dia de campo tanto nas áreas de confinamento quanto nas lavouras da fazenda, que tem capacidade para terminação de 170 mil cabeças de gado por ano e faturou mais de R$ 1,1 bilhão no ano passado.
No dia do evento, as áreas de confinamento estavam praticamente lotadas, com cerca de 60 mil animais ocupando as áreas de engorda, com capacidade estática de 70 mil, além de outros 10 mil nos espaços destinados a recria.
O hangar situado ao lado da pista de pouco foi transformado em uma ampla sala de conferências, onde foi montado um palco com telão de led e foram instaladas mesas para acomodar os convidados.
Do lado de foram alguns poucos espaços para expositores, como a fabricante de máquinas John Deere e a JBS, que apresentou ali o Uboi, aplicativo desenvolvido para gerir o transporte de gado entre seus fornecedores e suas indústrias.
Na extensa lista dos apoiadores do evento, estavam marcas como Agroceres, Biogénesis Bagó, Bradesco, Brevant, Coopercitrus, Corteva, DSM, Nutrien, Pioneer, Pivot, StoneX e Syngenta, entre outras.
O interesse corporativo não é por acaso, Do lado de dentro, reunidos, estavam alguns dos principais pecuaristas do País, além de produtores de milho e representantes de fornecedores de insumos e da indústria da carne, como o próprio presidente da Friboi, da JBS, Renato Costa.
“A quantidade de aeronaves realmente impressiona”, comentou Pellizzer. “Ninguém reclamou da comida, o clima estava ótimo, a estrutura estava impecável, eu acho que a gente acertou em cheio”.
Mais importante, entretanto, segundo ele, foram os contatos iniciados ali que estão sendo transformados, desde então, em contratos que, de certa forma, equacionam as operações da Conforto até o fim do ano, segundo o CEO.
Pelizzer tem as contas na palma da mão. Segundo ele, naquele dia foram comercializadas cerca de 30 mil toneladas do Biofertilizante Conforto, fruto de uma parceria do grupo com a indústria de fertilizantes IFB, também correalizadora do evento. Com isso, a receita obtida ali deve girar em torno de R$ 20 milhões.
É metade da meta do negócio para 2025, de acordo com o executivo. No ano passado, a marca negociou cerca de 40 mil toneladas do produto, lançado no ano passado, segundo antecipado pelo AgFeed.
Em outra frente, a Conforto negociou a compra de quase a totalidade de suas necessidades de milho para o ano, que gira em torno de 1 milhão de toneladas. Pelizzer estima, aí, negócios em torno de R$ 60 milhões.
Além disso, ele afirma já ter encaminhado, durante o evento, a contratação de mais 45 mil animais para o confinamento ao longo dos próximos meses, até dezembro. Nesse caso, os valores envolvidos poderiam chegar a R$ 350 milhões
“As duas, três semanas após o evento são uma corrida para fechar esses negócios”, afirmou. “Isso porque ali não era uma feira onde você vai o tempo inteiro ter um cara comercial querendo te vender. É muito mais o contato, o relacionamento e o aprendizado”.
Alinhar tantos negócios em um tão pouco tempo tem um ganho adicional na otimização de tempo e no planejamento da empresa. O CEO da Conforto acredita que o modelo de evento privado, assim, oferece a todos uma vantagem muito grande em relação às grandes feiras, onde há mais dispersão e distração.
“Essa é uma tendência na realização de negócios”, disse. “As pessoas que estão ali são líderes diretos e proprietários de seus negócios. E é dessa forma que as coisas realmente acontecem, dono falando com dono.”
A expectativa de Pelizzer é colocar o Conforto Experience no calendário anual do segmento, sem abrir mão do modelo restrito a convidados.
Segundo ele, a ideia surgiu a partir de outro evento realizado no ano passado no mesmo local para o lançamento da marca de biofertilizantes. Na ocasião, foram 350 convidados, quase todos produtores de milho da região, potenciais clientes.
“A gente estava saindo de um momento muito difícil para a nossa região do cerrado, do Vale da Araguaia, com a pior dos últimos 20 anos”, relembrou.
Assim, além de apresentar o novo produto, a Conforto e a IFB convidaram o professor Luiz Carlos Molion, phD em Meteorologia, para apresentar sua visão sobre o clima na região nos próximos meses.
“Ele trouxe dados e prognósticos muito otimistas para nós e 100% do que falou deu certo. Então, as pessoas primeiro se entusiasmaram com isso e pediram para que o evento fosse feito novamente”.
A proposta foi aceita e a iniciativa, ampliada com a proposta de trazer também clientes do confinamento e os outros elos da cadeia da carne. Os temas, então, foram “além do adubo”, englobando todas as atividades que giram em torno do principal negócio da fazenda, que é a pecuária de corte.
Assim, além de Molion, a agenda do evento este ano trouxe apresentações do cofundador da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro, e do economista Pablo Spyer.
Para 2026, Pelizzer imagina, além das palestras, organizar uma mesa redonda com líderes do agronegócio brasileiro para discutir um pouco mais tendências e mercado.
Ano de recuperação
Pellizzer comemorou o sucesso do evento, que, na sua visão, reafirma o bom momento da pecuária brasileira.
“A gente está numa recuperação desde outubro de 2024 e, consequentemente, de melhorias nos negócios e de valor na operação”, diz.
Segundo ele, com a volta dos preços do boi gordo a patamares mais rentáveis, a Conforto pode voltar a estimular as parcerias com pecuaristas, tanto para a compra de gado quanto para a prestação de serviços de engorda, no sistema de boitel.
A demanda, em ambos os casos, “aumentou muito, porque a gente consegue disponibilizar para o pecuarista contratos mais atrativos”. Hoje, os dois modelos dividem meio a meio a participação nos negócios do confinamento.
Na frente de novos negócios, Pellizzer antecipou ao AgFeed que deve lançar em breve comercialmente o Probov, um aplicativo para digitalizar a comercialização de gado com rastreadilidade.
O sistema foi desenvolvido nos últimos dois anos e, antes de ser oferecido ao mercado, está em testes, nos últimos seis meses, dentro da própria Conforto.
“A gente conhece a fundo as dores do confinamento, da operação de compra, de venda, de atraso do lote que não embarca”, disse.
“Tudo isso a gente colocou dentro desse sistema, que já traz inclusive contratos digitalizados que o pecuarista assine ou até vídeos do gado sendo embarcado”, adiantou, sem entrar nos detalhes.
Resumo
- Evento movimentou cerca de R$ 350 milhões em negócios, reunindo mais de mil convidados na Fazenda Conforto (GO), maior confinamento bovino do Brasil
- Segundo a empresa, na ocasião foram negociadas a venda de 30 mil toneladas de biofertilizantes, compra de milho e a contratação de 45 mil bois para engorda
- Com os novcos contratos, o CEO Sergio Pellizzer diz já ter equacionado necessidades do grupo até o fim deste ano