As dificuldades financeiras vividas pelo AgroGalaxy, grupo que possui uma das maiores redes de distribuição de insumos do País e é controlado pela gestora Aqua Capital, já tinham feito de suas ações um ativo pouco procurado por investidores na B3.

Desde o início de 2024, por exemplo, elas haviam se desvalorizado 73%, saindo do patamar de R$ 3,95 em janeiro para R$ 0,98 no fechamento do pregão na quarta-feira 18 de setembro.

Nesta quinta-feira, 19, o “day after” do pedido de recuperação judicial que balançou o mercado de ações e de fundos de investimentos acelerou as perdas. Por volta das 13h, as ações do Agrogalaxy negociadas na B3 despencavam 22%, e eram cotadas a R$ 0,75.

A solicitação de proteção judicial contra a execução de dívidas foi ajuizada a partir da constatação de que o AgroGalaxy não conseguiria honrar o vencimento de R$ 70 milhões no pagamento de juros e amortização de um CRA de R$ 500 milhões emitido pela empresa.

O impacto foi imediato no mercado de Fiagros, principalmente nos fundos expostos aos títulos da rede de revendas agrícolas.

Na manhã da quinta-feira, o XPCA11, Fiagro da XP que tinha 8,2% do seu patrimônio líquido de R$ 431 milhões investidos no CRA do AgroGalaxy, via suas cotas desvalorizarem 7%.

Outro fundo da casa, o XPGA11, que tem 6,2% do PL de R$ 1,4 bilhão exposto à empresa, recuava na mesma intensidade.

Já o JGPX11, da JGP, com 8% do patrimônio líquido de R$ 203,7 milhões originado de um CRA do Agrogalaxy, via suas cotas caírem 6,8%.

A gestora confirmou ao AgFeed que sofreu um calote do Agrogalaxy. Em uma nota, a JGP pontuou que a companhia não efetuou o pagamento da parcela de juros e amortização referente à sua 1ª emissão de debêntures, prevista para a a segunda-feira, 16 de setembro.

“Após o período de um dia útil de cura, houve o vencimento antecipado automático dessas debêntures, resultando também no vencimento dos CRAs lastreados nelas”, acrescentou a JGP.

A gestora estima que o evento terá um impacto de 1,62% no valor patrimonial do fundo, mas garantiu que a distribuição de dividendos nos próximos meses não será afetada.

“Frente aos recentes acontecimentos, estamos monitorando de perto as medidas adotadas pela companhia para reequilibrar seu passivo. A situação do AgroGalaxy será acompanhada com diligência e com participação de membros de nossa equipe e tomaremos as medidas necessárias para proteger os interesses de nossos cotistas”, afirmou a JGP.

A gestora justificou o investimento no Agrogalaxy em quatro pontos: a vantagem competitiva, apoio do acionista majoritário, expectativa de recuperação do ciclo em 2024 e uma estabilidade na estrutura de capital por conta de renegociações bem sucedidas no ano passado.

O problema financeiro do AgroGalaxy pode virar também um problema no mercado de ações, já que a B3 tem algumas metodologias para barrar ações que custam menos de um real, as chamadas penny stocks.

Ter preço superior a R$ 1 é um dos requisitos para que um papel possa se enquadrar em índices de mercado como o Ibovespa.

De acordo com a B3, uma ação passa a ser considerada uma penny stock depois que seu valor médio durante um período de três meses (a cada rebalanceamento do Ibovespa) seja inferior a R$ 1.

Quando está abaixo desse patamar, poucos centavos permitem que ela dispare, ao mesmo tempo que fica mais fácil a esse papel despencar, tornando a ação muito volátil e, assim, suscetível a movimentos especulativos.

Otimismo cauteloso

No meio da turbulência, houve entretanto analistas que mantiveram o sangue frio e uma visão otimista, mesmo que cautelosa, com a empresa.

O Citi, um dos poucos bancos que acompanham o papel, divulgou na manhã da quinta-feira um relatório a clientes onde manteve a recomendação de compra para a ação.

No documento, os analistas Gabriel Barra e Pedro Gama reforçaram a expectativa de valorização do papel. Nos próximos 12 meses, a expectativa do Citi é que a ação do Agrogalaxy avance mais de 300%, passando do patamar atual próximo a R$ 1 para R$ 4.

O Citi fez, entretanto uma ressalva: as ações da companhia apresentam “alto risco devido a sua pequena capitalização de mercado e baixa liquidez".

Para além da RJ, os analistas pontuaram que a empresa passa por um período desafiador e relembraram os recorrentes pedidos de empréstimo ao Aqua, seu acionista controlador.

Ao final do primeiro semestre deste ano, a alavancagem do Agrogalaxy estava em 8,5 vezes, com R$ 1,3 bilhão em dívida líquida e outros R$ 2,8 bilhões em débito aos fornecedores, estima o Citi.

“A empresa parece estar dependendo da potencial recuperação do mercado brasileiro de insumos agrícolas, que pode ser adiada devido à atual seca que está adiando a temporada de plantio de soja no Brasil”, acrescentaram Barra e Gama.