“Foi o último trimestre da antiga Minerva”, afirmou Fernando Galletti de Queiroz, CEO da companhia, na apresentação dos resultados financeiros referentes ao período entre julho e setembro deste ano.

O marco que coloca o maior grupo exportador de carnes da América do Sul em uma nova fase é, segundo o executivo, a conclusão da aquisição de um conjunto de ativos da Marfrig.

O cheque de R$ 5,7 bilhões foi entregue ao vendedor em outubro, completando um desembolso total de R$ 7,2 bilhões – a incorporação das plantas localizadas no Uruguai, que também faziam parte do negócio, foi barrada pelas autoridades concorrenciais daquele país, embora ainda corra um recurso da compradora.

“A partir de agora, é um trimestre na nova Minerva”, completou. “E ele vem em um cenário muito interessante de mercado global”.

A despedida da fase anterior veio, segundo a companhia, em grande estilo. “A gente bateu recorde de receita líquida em um único trimestre”, comemorou Edson Ticle, CFO do grupo. “E bateu recorde de Ebitda em um único trimestre, também”.

Em números, os resultados foram de R$ 8,5 bilhões e R$ 813 milhões, respectivamente, com margem de 9,6%. O lucro líquido ficou em R$ 94 milhões.

O resultado foi especialmente positivo, na visão dele, por já carregar “toda a despesa financeira referente à dívida que a gente tomou para pagar a Marfrig”, antes de poder tirar benefício da aquisição no fluxo de caixa da empresa, o que só começa a acontecer a partir de agora.

Assim, segundo Ticle, embora já arque com os custos financeiros dos créditos tomados para fazer a aquisição, a companhia conseguiu gerar R$ 667 milhões de caixa livre. “Isso nos ajudou a diminuir a dívida”, afirmou.

O endividamento líquido da Minerva fechou o trimestre em R$ 7,3 bilhões, contra R$ 8 bilhões no período anterior, fazendo a alavancagem cair de 3 para 2,6 vezes.

“Então, a gente entra nessa nova fase com o balanço numa situação bastante favorável”.

O segredo do bom resultado, de acordo com o CEO da companhia, foi a capacidade da empresa de direcionar seus negócios de um mercado para outro, buscando melhores preços a cada momento.

Segun do Queiroz, no terceiro trimestre a Minerva decidiu vender menos para a China e mais para mercados onde a demanda estava mais aquecida, como os países da América do Norte.

“Se vocês olharem, a China tem uma relevância muito menor para Minerva do que para as exportações do setor no Brasil e na América do Sul”, explicou.

Além disso, ele destacou a participação do mercado interno nos resultados, trazendo boas oportunidades inclusive para o produto oriundo das plantas da companhia nos países vizinhos.

Perspectiva para a Nova Minerva

Se por enquanto está refletida apenas no campo do endividamento, nos próximos balanços a integração dos ativos comprados da Marfrig devem trazer impactos também nos campos das receitas e do caixa.

Segundo Ticle, o efeito completo das sinergias com essa incorporação só será sentido após três trimestres, devendo apresentar resultados mais claros no final do próximo ano.

No próximo relatório financeiro, o desembolso feito em outubro deve provocar uma alta, já prevista, na alavancagem, mas ele acredita que, ao final de 2025, esse indicador deve voltar aos níveis reportados agora.

Queiroz, por sua vez, disse enxergar uma conjuntura favorável à frente, que dará condições para que a “nova Minerva” obtenha bons resultados em seus diversos mercados.

“A Minerva, a partir de agora, passa a ser uma empresa com os novos ativos diversificados. Devemos dar um salto de 20% da exportação da América do Sul para algo em torno de 30% a 33%”.

E a demanda internacional continuará, em sua visão, aquecida. Ele destacou, por exemplo, uma redução muito grande dos abates nos Estados Unidos, reduzindo a oferta de carnes no país. “Eles têm o menor rebanho desde 1953”, afirmou.

“Esse mesmo movimento está acontecendo na Europa com uma redução da produção europeia, especialmente na Espanha, reduzindo a sua produção, deixando na Europa também um gap”, completou.

Também em países em desenvolvimento, especialmente no Oriente Médio e no Norte da África, o consumo tem aumentado, aumentando a relevância desses mercados.

“A carne bovina era uma commodity mais regional e passa a ser global. E uma empresa que, como a Minerva, tem canais de distribuição em todas as partes do mundo, exportando para 100 países, passa a ter vantagens comparativas e competitivas”, analisou.

Eleições americanas

Queiroz e Ticle avaliaram também possíveis impactos da eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA no mercado global de carnes. Para eles, mesmo com uma maior polarização política, o interesse econômico deve prevalecer, se causar transtornos maiores para exportadores.

“O que está em jogo éo trust-sharing, não é o near-sharing”, avaliou o CEO da empresa. “É com quem eu quero fazer negócio. E aí, a diversificação que a Minerva tem, permite que a gente tenha os nossos negócios mantidos”.

Segundo ele, mesmo caso haja algum desencontro político que, por exemplo, prejudique exportações brasileiras ao mercado americano, a companhia poderia ampliar as vendas através de suas unidades na Argentina, cujo presidente, Javier Milei, é alinhado a Trump.

“Teremos um novo arranjo geopolítico mundial, com um aumento das tensões entre Estados Unidos e China por questões comerciais”, reforçou Ticle.

“Quem se beneficia disso são os países que têm a posição de neutralidade, como a maioria dos países da América Latina”.